segunda-feira, janeiro 29, 2018

O fim da neutralidade da internet reproduz o passado, com a captura do sonho de uma polis com uma sociabilidade sem controles e democrática

Ao tentar observar e analisar o processo histórico nas relações sociais, talvez seja possível identificar alguma analogia entre a formação das cidades – com os atrativo da convivência na polis - do passado, com a realidade das redes e da internet nos dias atuais.

Na mesma medida em que as cidades apareceram no passado como uma semente de liberdade que adiante possibilitou a destruição do feudalismo, com o sonho da possibilidade do homem livre, da liberdade de escolha, o sonho das comunicações em redes nos fez sonhar.

No passado, rapidamente, os controles e o utilitarismo mercantil se instalaram. A concentração de pessoas e a expansão das demandas deram margens para o mercantilismo e para a instalação do capitalismo com as suas conhecidas garras.

Numa até pueril analogia, se pode também afirmar que no mundo contemporâneo, a internet e as comunicações em redes nasceram em sua gênese com o estímulo à pluralidade de ideias, de ampliação do acesso às informações e trocas diretas entre produtores e consumidores das notícias que seria em benefício de todos.

Porém, repetindo o passado, novamente, se observam as garras do poder econômico e do capitalismo capturando os instrumentos. Assim, se impõem de forma ainda mais incisiva, o controle do poder econômico sobre o poder político (Estado) – ou sobre o sistema – eliminando a, já longínqua, ideia de democracia.

Desta forma, na contemporaneidade, também se observa o afastamento do princípio da neutralidade da internet (redes) com os algoritmo$ que hierarquizam, filtram e direcionam as informações que trafegam nas vias informacionais.

Assim, os algoritmo$ acabaram com a ideia do trânsito de informações de igual forma, mesma velocidade e livre acesso e autonomia para a qualquer tipo de conteúdo na rede.

A lógica do poder econômico segue quase imutável, com as redes informacionais sendo dirigidas como mercadoria (notícia) tendo como base o valor de troca e não de uso.

O eterno favorecimento aos ricos e cada vez mais bilionários, em detrimento dos milhões de desempregados e na miséria, espalhados não mais apenas nos países periféricos, mas também no capitalismo central.

Neste processo a sensação em alguns momentos é que democracia parece que se tornou algo supérfluo com a grande massa distraída em seus "brinquedinhos" falando apenas para os seus guetos.

Assim, vemos o presente repetir o passado, onde a sociabilidade enunciada pela polis continuará sendo desejo e ideal. As cidades e as redes poderiam ser melhores com a criação, transmissão e trocas de conhecimento, num mundo mais colaborativo e menos negocial, mercadológico e concorrencial.

Tendo como parâmetro a noção de totalidade - e de sistema aberto e democrático - torna-se possível (talvez necessário) imaginar nos limites, o esgarçamento e a exaustão deste sistema. Este processo pode permitir a retomada da ideia de sociabilidade para além dos interesses de mercado. 

Quem sabe pensar numa etapa adiante e também similar ao que foi a superação do feudalismo pelo capitalismo. Quem sabe na direção à uma nova etapa civilizacional que rompa com a distopia do presente e nos devolva a utopia de um imprescindível pós-capitalismo. 

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