terça-feira, julho 17, 2018

As consequências da venda da Braskem e desnacionalização do setor petroquímico no Brasil

Este blog já tratou deste tema em pelo menos três postagens recentes (aqui, aqui e aqui), mas vai voltar ao tema da desnacionalização do setor de petroquímica que é estratégico para o Brasil. [1] [2] [3]

O petróleo é uma mercadoria estratégica e especial responsável por mais de outros 3 mil produtos. As petroleiras que operam a exploração sabem de seu papel estratégico e por isso atuam em articulação e admitem a coordenação dos seus Estados-nações que se movimentam pelos interesses geopolíticos.

Não é por outro motivo que essa mercadoria especial (o petróleo) está no centro de vários conflitos regionais e geopolíticos no mundo. Há uma luta permanente que busca garantir ao acesso à esta mercadoria e às suas reservas, assim como à sua extensa e potente cadeia produtiva, que envolve ainda a segurança energética das nações e suas populações.

É importante ainda saber que a cadeia produtiva do petróleo vai bem para além da exploração das reservas, produção do petróleo e seu refino(beneficiamento). Mas, o refino é muito importante porque agrega valor com a distribuição e comercialização de combustíveis, mas também porque estas unidades estão cada vez mais integradas à produção de petroquímicos.

A produção de petroquímicos envolve outras gerações de produtos que têm como insumos os derivados imediatos de petróleo, obtidos numa primeira etapa do refino: etileno, polietileno prolipropileno, óxido de propileno, óxido de etileno, etc. Produtos que são bases para uma série de outras indústrias de plásticos, PVC, embalagens, etc. 

A petroquímica aumentará a sua importância à medida que o petróleo deixe de ter a sua maior utilização como energia para o transportes como acontece atualmente. Estima-se que num cenário entre 3 e 4 décadas isso mude, com menor uso do combustível oriundo do petróleo e maior utilização dos veículos elétricos e híbridos.

Assim, a petroquímica passará a ser a principal demanda para uso do petróleo. O mundo todo sabe disto. Por isso, quase todas as novas plantas de refino de petróleo no mundo estão vinculadas às unidades petroquímicas, como é o caso que se vê na China, Índia e até no Oriente Médio.

A holandesa LyondellBasse que está comprando a brasileira Braskem está entre as três maiores petroquímicas do mundo. As duas maiores são a chinesa Sinopec e a americana Exxon. A Braskem com a produção de polietileno e polipropileno é a sexta em termos de produção mundial.

Infográfico do Valor Online em 18 jun. 2018 [4]
Com a incorporação da Braskem pela LyondellBase esta passará a ser a maior produtora do mundo de resinas plásticas. A Braskem tem unidade produtiva em Houston nos EUA e escritórios e várias partes do mundo, para além das bases operacionais no Brasil.

A Braskem no Brasil tem a sua maior planta na Bahia, onde atualmente emprega milhares de funcionários. Possui ainda bases produtivas junto aos polos petroquímicos em São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Nos EUA, há algum tempo, a Braskem vinha se beneficiando e estava se expandindo usando o barato shale gas (xisto).

As razões da incorporação da Braskem pela LyondellBase vão para além do aumento da produção de petroquímico, e se traduz de uma forma geral, no interesse desta corporação em aumentar a capacidade de controlar preços e boa parte do mercado de petroquímicos no mundo, no qual o Brasil passará a ser dependente. 

A Shell também holandesa, na verdade anglo-holandesa já é a maior produtora de petróleo no Brasil e em 2020 já terá produção maior que meio milhão de barris por dia e poderá ser fornecedora da LyondellBase.

Desta forma, a venda da Braskem significa a perda do controle nacional sobre a produção de petroquímicos, um setor que tende a crescer sua importância na cadeia do petróleo e responsável pela produção de milhares de outros produtos secundários. Com esta venda o Brasil ficará fora de mais um setor estratégico ao desenvolvimento nacional.

É bom lembrar que a Braskem tem o controle da Odebrecht (que foi estraçalhada com as intervenções do judiciário) e da Petrobras. Vale também reforçar o entendimento do aumento do peso dos fundos financeiros sobre as empresas no Brasil, neste momento de crise em que nossos ativos estão “baratinhos”.

A corporação petroquímica holandesa LyondellBasell que está incorporando a Braskem (Odebrecht e Petrobras) é controlada por acionistas tendo entre estes os fundos financeiros (Acess Industries com 18,2% das ações; Fidelity com 8,7%; Vanguard (6,3%) e o fundo americano BlackRock com 5,2%). 

A Braskem é uma empresa controlada pela Petrobras e Odebrecht, sendo que a estatal como co-controladora, possui direito de preferência e de “tag along” (venda conjunta) da empresa. A parte da Odebrecht na Braskem hoje estás nas mãos de bancos credores (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander e BNDES). Eles ficaram com as ações da Braskem como garantia para os R$ 12 bilhões em dívidas da empresa.

A diretoria pós-golpe da Petrobras declarou publicamente, mais de uma vez, o desejo de sair do setor petroquímico e vender (em dinheiro, como desinvestimento), a sua participação na Braskem. Já os atuais gerentes da Odebrecht sustentam que o plano é o de se manter no setor petroquímico, mas trocando sua participação na Braskem por algumas ações da LyondellBasell.

O desmonte do setor petroquímico nacional se insere no contexto do golpe político no Brasil, oriundo do impedimento de um governo eleito, que teve no setor petróleo - e toda a sua estratégica cadeia que envolve ainda outras empresas de infraestruturas de energia (Eletrobras, Furnas e concessionárias) – uma das principais razões.

O documento golpista (“Uma ponte para o futuro”) elaborado por agentes do mercado para o PMDB asfaltar o caminho do impeachment, a pedido de Moreira Franco, atual ministro das Minas e Energia, registra os interesses do mercado na desregulação destes setores, o apetite para acesso a estes ativos por parte das grandes corporações transnacionais, que representam os oligopólios do setor no mundo assim como os grandes fundos financeiros globais.


Referências
[1] Postagem do blog em 16 jun. 2018. Segue o desmonte de toda a cadeia produtiva do petróleo no Brasil. Agora é a petroquímica. Disponível em: 

[2] Postagem do blog em 18 jun. 2018. Mais sobre a desnacionalização da petroquímica no Brasil com a venda da Braskem. Disponível em: 

[3] Postagem do blog em 12 jul. 2018. O movimento da holding Odebrecht explica a pinguela para o passado. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2018/07/o-movimento-da-holding-odebrecht.html

[4] Matéria do Valor em 18 jun 2018. Lyondell e Braskem criariam líder mundial. Disponível em: https://www.valor.com.br/empresas/5600519/lyondell-e-braskem-criariam-lider-mundial 

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