domingo, julho 08, 2018

Delfim questiona perda do protagonismo do Executivo para o Judiciário, a “multiplicação dos centros de poder” e diz que “só a política pode salvar o Brasil”

Delfim Neto é um liberal conhecido. Com autenticidade transita pelo neoliberalismo e bem antes disso, ajudou aos governos militares em diversos ministérios e programas.

Delfim costuma reverberar com grande fluência aquilo que pensa e deseja a elite econômica do país. Em especial a paulista que se considera como sendo singularmente - e em síntese - todo o país.

Assim, vale ler os alguns trechos (para mim principais) do artigo do Delfim Neto aqui na revista Carta Capital da semana passada. O texto teve como título “Só a política pode salvar o Brasil”.

Esta chamada em si, mostra já alguma identidade com o que Delfim Neto diz, mesmo havendo tanta diferenças de concepção e na forma como vemos o mundo.

Vale lembrar que Delfim Neto apoiou o impeachment e acreditou, piamente, que o receituário liberal-econômico era capaz de dar conta dos problemas da nação. Assim, vale ler o que Delfim agora diz, neste momento conturbado da vida do país:

“A administração da sociedade brasileira está se tornando cada vez mais difícil pela perda de protagonismo do Poder Executivo desde o início do segundo governo da presidenta Dilma...

... A crise expôs uma multiplicação de centros autônomos de poder arbitrário, cuja domesticação será muito difícil, porque pode ser confundida com um ataque à Operação Lava Jato...

... A multiplicação dos “centros de poder” levou a confusão ao paroxismo: a judicialização das atividades do Executivo e do Legislativo que aumentou a ficção orçamentária; a politização da Justiça com novas interpretações de uma Constituição analítica (que regula até transfusão de sangue); e, finalmente, a transferência para o Supremo Tribunal Federal, a pedido do setor privado, de atividade típica dos Poderes Legislativo e Executivo. Estes, de bom grado, aceitaram o fato, porque sabem que uma solução, ainda que não seja impossível, tem probabilidade próxima de zero. Muito em breve, o Supremo Tribunal Federal verificará que caiu numa armadilha...

... Esse imbróglio só será resolvido quando o novo presidente da República, o único que será diretamente empoderado pelo voto majoritário da sociedade e, portanto, o único que a representa, nos rigorosos limites da Constituição, convocar um concílio entre os presidentes do Legislativo (cujos membros são eleitos não majoritariamente) e o presidente do Poder Judiciário (escolhidos por concurso ou, em nome da sociedade, pelo poder eleito) para sugerir que cada um recolha seus pseudópodes de abuso do poder e volte a respeitar a Constituição de 1988, não a reinterpretando para atender a uma suposta “vontade do povo”...

... O Brasil encontra-se numa situação social deplorável (um desemprego gigantesco de jovens) e econômica assustadora (um desequilíbrio fiscal muito maior do que a maioria suspeita). Se não as discutirmos com cuidado e entendermos que só um amplo exercício político poderá acomodar, com equanimidade, os sacrifícios que qualquer que seja o novo presidente terá de exigir de todos, ele fracassará antes de começar.”

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