sexta-feira, junho 08, 2018

EUA de Trump tem no petróleo um de seus principais projetos: que relação isto tem com o avanço da Esso e Chevron no último leilão da ANP?

O blog tratou deste assunto numa breve postagem aqui, [1] no último dia 30 de maio de 2018, quando chamou a atenção para o fato dos EUA, sob o controle de Trump, estarem ampliando as suas ações no setor de petróleo. Fato pode começar a ser identificado pela projeção da AIE de que até o final deste ano (início de 2019), os EUA deverão ultrapassar a Rússia, na condição de maior produtor mundial.

Na ocasião, também chamei a atenção para a relação deste fato, com as razões para os EUA, após o golpe no Brasil em maio de 2016, ter voltado a ter forte presença na exploração do setor petróleo no Brasil e chegado finalmente à cobiçada área do pré-sal.

Os resultados de mais um rodada de leilões da ANP ontem, dão mais mostras sobre este avanço da participação americana na exploração do Brasil e agora nas reservas do pré-sal, a maior fronteira petrolífera descoberta na última década no mundo, através da Esso e da Chevron.

A Esso já tinha avançado enormemente nesta participação no leilão anterior da ANP, em setembro do ano passado, em dobradinha com a Petrobras sob a liderança e boa vontade de Parente.

A presidente da Exxon Mobil Brasil, Carla Peixoto disse após o leilão da ANP: “estamos muito felizes com o resultado, com a Parceria com a Petrobrás. Em poucos meses a Exxon Mobil passou de dois blocos para 25 blocos. Também fortalecidos com esta parceria de longo prazo com a Petrobrás.” [2]

Sobre a rodada de ontem, vale ler aqui, o artigo dos economistas dos Dieese, Cloviomar Cararine e Iderley Colombin, publicado no site da Carta Capital com o título "O pré-sal a preço de banana". [3]

Em especial, o blog chama a atenção para o trecho em que os autores do artigo, falam da forma da participação das players petrolíferas dos EUA e da lógica de dominação norte-americana no setor petróleo: "essa atitude demonstra a intenção das empresas, principalmente norte-americanas, em controlar os campos do petróleo do pré-sal, mesmo que à custa de 75% dos lucros".

Porém, o blog quer dar destaque para o fato de como os EUA foram ampliando a sua atuação no setor petróleo, pós-Trump, como forma estratégica de buscar manter hegemonia geopolítica (na disputa com a China), onde o controle (ou o acesso à concessão) de reservas pelo mundo é elemento fundamental. 

Há que se realçar e registrar novamente a disputa geopolítica e direta dos EUA com a China, [4] que hoje é o maior importador mundial de petróleo. Repetindo, até o ano que vem, os EUA será o maior produtor mundial de petróleo, sendo também o maior consumidor desta mercadoria especial.

Além disso, os EUA é também maior refinador de petróleo do mundo e, ano passado, exportou mais de 90% dos cerca de 1 milhão de barris por dia de combustíveis que o Brasil importou, mesmo com as refinarias da Petrobras com 30% de ociosidade. 

Some-se aos fatos acima, o registro de que os EUA é também sede das maiores e mais fortes empresas de tecnologia e serviços que que atuam no setor petróleo, chamadas de para-petroleiras. 

As tecnologias exigidas atualmente para a exploração são cada vez mais caras por exigirem sofisticações maiores para dar conta da exploração de reservas em áreas mais complexas em vários lugares do mundo. Hoje, estas empresas de serviços e tecnologia de petróleo, faturam mais que muitas petroleiras em atuação do mundo, ficando atrás apenas das players gigantes. 

E por fim, os EUA, pelo volume de produção, pela capacidade de estocagem e de logística para exportação e de importação de óleo cru, para processamento em seu parque de refino, seu imenso consumo e exportação de derivados, tendem a ampliar também o peso sobre norte-americano como regulador de preços do petróleo, no mercado internacional, em disputa com a Opep e demais produtores.

Chamo a atenção ainda para a participação de fundos financeiros e investidores americanos (sistema financeiro americano) em diversos projetos de infraestrutura portuária, logística dutoviária e outros, vinculados à imensa cadeia produtiva do petróleo no país, o que só aumenta a capacidade dos EUA em intervenção e controle sobre o setor no Brasil.

Para fechar reproduzo abaixo o slide com que abri uma exposição feita no Congresso do Petroleiros na última quarta-feira, 06/06/2018, a convite do Sindipetro-NF que resume a questão que descrevi acima.

Slide 2/25 da palestra do autor no Congresso do Sindipetro-NF em 6 jun. 2018.




























Referências:
[1] Artigo no blog em 30 de maio de 2018. Aumento da produção de petróleo nos EUA entre 2010 e 2018 e a relação com o preço de combustíveis no Brasil. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/05/aumento-da-producao-de-petroleo-nos-eua.html

[2] Reportagem do site PetroNotícias em 7 jun. 2018. Resultado do leilão faz a ExxonMobil pular para 25 blocos de operação no pré-sal. Disponível em: https://petronoticias.com.br/archives/113054?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+Petronotcias+%28PetroNot%C3%ADcias%29

[3] CARARINE, Cloviomar e COLOMBINI, Iderley. O pré-sal a preço de banana. Carta Capital. 7 jun. 2018. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/economia/o-pre-sal-a-preco-de-banana

[4] Artigo no blog em 4 jun. 2018: A disputa pela hegemonia EUA x China e relações para o Brasil. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/06/a-disputa-pela-hegemonia-eua-x-china-e.html

PS.: Atualizado às 13:14: para incluir e atualizar as referências citadas na postagem.

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