segunda-feira, abril 21, 2008

Rede Blog – dia 21 – II

O tema deste mês é para mim complexo. Não desejo cair no senso comum de muitos que atribuem à falta de escolaridade a possível venda do voto. Esta explicação é simplista e mentirosa aqui ou em qualquer outro lugar do país. Verdade também, que quem não depende da sobrevivência e enxerga saídas, para além das questões mais imediatas, têm mais possibilidades de refletir sobre as escolhas que fazem dos seus representantes políticos nas duas esferas de poder, no executivo e no legislativo. Porém, o jogo da troca ou venda do voto vale tanto para o cidadão que precisa de um favor imediato, quanto para aquele lobista ou empreiteiro que quer eleger o amigo ou sócio para um cargo que vai lhe trazer vantagens. A consciência cidadã e coletiva é difícil de ser construída numa sociedade onde o valor predominante é o individualista do se dar bem e, especialmente melhor do que o vizinho. Por isso, a questão é mais que política. É ideológica. Não no sentido maniqueísta do bem contra o mal, mas dos valores que o coletivo da comunidade pode ou não contribuir na formação e na opção das pessoas. Neste sentido, o passado recente ou mais longínquo não nos ajuda. Porém, é melhor olhar para frente, sem também deixar de olhar para trás para entender as dificuldades que se postam no caminho. Para isso, o blog vai resgatar aqui algumas postagens feitas aqui no blog, durante os processos eleitorais de outubro de 2004 e março de 2006, como forma de avivar nossa memória sobre o “comportamento eleitoral do campista” que certamente não é diferente de outros, mas é o tema da rede blog deste 21 de abril. Para começar o resultado da escolha da atual Câmara de Vereadores de Campos: Vereadores eleitos, seus partidos e suas profissões: Segunda-feira, 4 de outubro de 2004: "Os vereadores eleitos ontem, segundo a profissão declarada ao TRE são: 5 médicos, 4 comerciantes, 2 funcionários públicos, 2 técnicos, 1 advogado, 1 produtor agropecuário, 1 político e 1 outro; 1 - Ederval Venâncio (PDT) - Funcionário Público Municipal; 2 - Alciones d Rio Preto (PSL) - Produtor Agropecuário; 3 - Alexandre Mocaiber (PDT) - Médico;* 4 - Dr. Dante (PDT) - Médico; 5 - Nildo Cardoso (PSDB) - Comerciante; 6 - Nelson Nahim (PMDB) - Advogado; 7 - Kelinho (PRONA) - Político; 8 - Marcos Bacelar (PT do B) - Técnico de Eletricidade; 9 - Jorginho Péno Chão (PT do B) - Comerciante; 10- Abdu Neme (PMDB) - Médico; 11- Aílton Tavares (PRONA) - Outros; 12- Marcos Alexandre (PMN) - Técnico em Contabilidade; 13- Édson Batista (PMDB) - Médico; 14- Otávio Cabral (PSDB) - Médico; 15- Sadi (PMN) - Comerciante; 16- Da. Penha - Serv. Público Municipal; 17- Álvaro Faria - Comerciante." * Substituído pelo primeiro suplente do PDT, Geraldo Venâncio, também médico, quando o titular assumiu como presidente da Câmara, o mandato em maio de 2005 no lugar do prefeito Carlos Alberto Campista afastado por determinação da Jusitça Eleitoral. PS.: A profissão foi informada pelos próprios candidatos nos registro de suas candidaturas junto ao TRE-RJ. Ainda no dia 4 de outubro de 2004 este blog postou a seguinte nota: "Para que serve a medicina?" "Sem querer fazer juízo de valor, mas também sem querer deixar de comentar o raro fato da eleição de 5 vereadores médicos, recordo do Drauzio Varella em seu último livro "Por um fio" ao comentar a sua descoberta feita a partir do depoimento do parente de um cliente, de que a medicina não serve para curar pessoas ou salvar vidas, pretensão descabida segundo ele, mas para aliviar o sofrimento humano. Com os 21.687 votos dos 5 médicos eleitos, vejo que a medicina serve a outros fins, muito mais do que outras profissões". "Aliás, por tratar do assunto, vale a conferida no artigo "Eleições Municipais e Democracia" do Professor e Mestre Renato Barreto de Souza no Boletim No. 5 - Petróleo, Royalties e Região publicação "on line" do Mestrado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da UCAM-Campos. O artigo é uma síntese da sua dissertação de mestrado, defendida em julho deste ano no CCH da UENF, intitulada "Clientelismo e voto em Campos". Este estudo merece se transformar em livro ou pelo menos em um capítulo de um livro, que ajude nas reflexões sobre o quadro político, econômico e social de Campos nos últimos anos. De minha parte, senti muito, por falta de espaço e de enfoque, não poder convidar o professor para que seu estudo constasse do livro, recentemente lançado, sobre Economia e Desenvolvimento no NF. Espero poder contribuir proximamente para viabilizar tal publicação que vejo, ainda mais agora, como indispensável para a comunidade acadêmica regional".

2 comentários:

Manoel Caetano disse...

Caro prof Roberto

Acredito também que o comportamento eleitoral não pode ser explicado no campo das simplificações do senso comum. De um modo geral, existem múltiplos determinantes (ideológicos, morais, pragmáticos etc.) que precisam ser devidamente considerados.

Concordo que o individualismo, presente na cultura dominante do "self made man", leva, naturalmente, a um comportamento eleitoral que tende a priorizar sempre a esfera dos interesses pessoais em detrimento do coletivo. Isso para pobres e ricos, letrados e analfabetos. (precisamos superar o mito de que o conhecimento, por si só, levará o homem a evoluir moralmente).

Não obstante, antes de questionar o comportamento eleitoral da população, mediado por complexas engrenagens de determinação, talvez seja mais eficaz refletirmos sobre mecanismos institucionais de neutralização do que chamo de "feirão eleitoral".

Ou seja, pensando especificamente no contexto de Campos e sendo um pouco pragmático, acredito que divagações acerca do comportamento do eleitor contribuirão menos para avançarmos nesta questão do que ações de pressão, por parte da sociedade civil organizada, no sentido de buscar a gradativa eliminação dos mecanismos espúrios de compra de votos por meio de: contratações sem concurso público, licitações duvidosas, favorecimentos pessoais etc.

Em suma, embora a conscietização do eleitor para a importância do voto responsável seja importante, precisamos avançar mais e prioritariamente no sentido de um maior controle da gestão pública.

xacal disse...

Concordo com Manoel, no entanto, a escolha de modelos controladores esógenos pode ser tão arbitrária quanto a manipulação e mercantilização do voto...

Não há, em minha opinião, uma variável que prepondere sobre outra, ou seja, o comportamento individual do eleitor é que determina, na soma dessas decisões individuais, o modelo a ser implementado...e vice-versa...

Mas essa relação de causa-efeito tem que ser alterada onde surta mais efeito, e aí concordo com você que o esbalecimento de instrumentos republicanos pode trazer alguma referência que interfira no universo privado...