terça-feira, setembro 06, 2005

Ainda sobre a Pelinca

Apesar de alguns incautos considerarem a preocupação com o tema como uma preocupação com os ricos da cidade, o que é um equívoco, os dois últimos artigos renderam comentários e conversas interessantes sobre o tema. Um deles é o comentário do Prof. Hélio Gomes, coordenador do Curso de pós-graduação em educação Ambiental do CEFET, ainda sobre o primeiro artigo que merece ser lido. Ele está incluído como “comentários” desta nota. O segundo artigo está na seção ao lado “Meus últimos artigos”. Participe você também dando sua opinião sobre o tema.

3 comentários:

Anônimo disse...

Roberto,

O artigo é bom, mas envolve uma questão que, na minha opinião, já se encontra superada. Falo da exigência de mais vagas de estacionamento para novos empreendimentos comerciais. Essa discussão se revestiu de
nova roupagem ao longo dos últimos 20 anos. Ela é parte de um paradigma fordista de cidade. As novas tecnologias e a explosão demográfica sepultaram o urbanismo moderno. Tenho a certeza de que hoje Lúcio Costa não faria Brasília do mesmo jeito. Você, que conhece tão bem essa cidade, sabe da sua dificuldade de locomoção crescente. Ser pedestre em
Brasília é um suplício. Infeliz da civilização que obriga seus
indivíduos ao transporte via máquina. É como se fora de casa fôssemos todos paraplégicos. Nas ruas os nossos carros têm sido a nossa cadeira de rodas. Nos sentimos inválidos sem eles. A concepção de cidade pós-moderna envolve a nucleação de usos múltiplos e a maximização de
teleatividades. Trabalho, compras, divertimento... Devemos evitar, ao
máximo, utilizar qualquer tipo de transporte que não sejam as nossas pernas.

Pena que você estava dando aula na quinta e não pôde assistir à
participação do segundo painelista daquela discussão apresentada no
Senac. O nome do sujeito é Jorge (não sei do que) e ele apresentou uma visão de seu escritório - o Móbile - que propõe uma nova dinâmica na regulação imobiliária e nos estacionamentos de shopings. Um dos aspectos que ele, entre outros - inclusive este amigo que vos fala -, critica é a
exigência cada vez maior de vagas de estacionamento para empreendimentos comerciais contida em planos diretores. Isso não resolve o gargalo do
trânsito, apenas desloca-o para outro ponto. Ou seja, a fartura de vagas de estacionamento se traduz em cada vez mais maiores engarrafamentos.
Além disso, contribui na escalada vertiginosa do fluxo de veículos que são os principais vilões do efeito estufa. Veja o preço absurdo que os EUA estão pagando com o furacão Katrina. Será que agora eles reverão a
sua posição diante do protocolo de Kioto? Ou continuarão a dizer que têm dinheiro para pagar o custo dos efeitos climáticos do lançamento de oceanos CO2 na atmosfera? Será que têm dinheiro pra ressarcir as mais de
100 mortes? Há dinheiro no mundo que compense a perda de uma vida ou achamos que essas mortes é o preço do american way of life? Repare que só os pobres estão sofrendo. As catástrofes também são seletivas. Mais
uma vez vemos comprovada a tese da justiça ambiental.

Lembra da nossa conversa sobre inversão térmica? Essa proposta de mais vagas em estacionamentos aumenta a poluição do ar e torna a inversão térmica cada vez mais danosa à nossa saúde.

A obrigação, via legislação municipal, de se ter um número cada vez maior de vagas em empreendimentos comerciais é desenvolvimentista - no
pior sentido que essa expressão possa assumir - e não ajuda a resolver os problemas que o excesso do uso de veículos traz para a nossa
civilização. Precisamos de outras alternativas. Algumas já conhecidas como o velho, eficiente e rejeitado transporte coletivo. Além de outras novas como a apresentada pela tal Móbile no Senac na quinta. Eles
defendem empreendimentos comerciais compactos, completos e com todos os tipos de atividades. Mais centrais, em zona de acesso fácil e de transporte coletivo farto. Sem os gigantismos dos hipermercados de periferia. Por que sair de Botafogo pra ir no Barra Shoping se estamos
vizinhos do Rio Sul? O crônico engarrafamento da Barra é em muito
alimentado pelo sem número de visitantes que buscam lá esses gigantes do varejo.

Precisamos nos livrar desse vício que é o automóvel. Ele é caro e danoso à civilização.

Mantida a escalada de construção e atração de veículos para a Pelinca, mesmo que garantindo estacionamento, como faremos para fluir o trânsito numa caixa de rua estreita como essa em questão? E o esgoto, as telecomunicações e outras redes físicas? Passaria a ocorrer a saturação dessas e as chamadas deseconomias urbanas.

Na minha opinião mais vagas de estacionamento não resolverão problema da Pelinca exponencialmente verticalizada. Ao contrário, só potencializarão
as suas mazelas que ainda se encontram em estágio inicial.

Depois podemos continuar este debate.

Um abraço,

Helinho.

Anônimo disse...

Excelente o artigo, curto e... fino... Você poderia mandar-nos
o da semana passada? Aliás, caso tenha alguma mala direta de seus
artigos e outros textos de ação, por favor, inclua-nos nela.

Sem gozações, que inovação geométrica sensacional, um
quadrilátero com três lados...

Acho - aqui fala Mário - que você embarcou na mesma canoa em que
às vezes me afundo, uma digressãozinha como a de indicar a preferência
por "rua Formosa', (que também partilho, rua de São Bento etc... lá era meu lar), e acabou esquecendo de fechar o quarto lado... Qual seria ele, a rua do Barão? ou aquela que passa em frente à antiga Estação
do Saco, onde hoje, bons herbívoros, comemos no Capim?

Este problema, ao qual você se refere, particularmente no
último parágrafo,, é da maior importância e uma boa vitrina
do muito que temos que fazer em relação ao Plano Diretor. O
que você menciona, ali, acerca do direito das pessoas a
desfrutarem das delícias da nossa gostosa Pelinca é justamente
o que temos a fazer em termos da prevalência da função social
da propriedade sobre a voracidade do poder econômico.


Abraço de Mário Galvão e Edissa Fragoso

Roberto Moraes disse...

Felizmente encontrei alguém para comentar este fato. O quadrilátero como não podia deixar de ser tem quatro lados, só que uma das ruas, ou no caso avenida possui dois lados, é o caso da avenida 28 de março.

Na verdade esta avenida tem outras três denominações: Oswaldo Cardoso de Melo (a do Capim que ganha esta denominação depois da curva do campo do Americano), Vinte e quatro de outubro (cujos limites eu tenho dúvida, mas, parece que seria entre a Beira-valão - que é a avenida José Alves de Azevedo - que eu gostaroa que fosse chamada de avenida dos Ipês amarelos e acho que a avenida Gilberto Cardoso quando passa a se chamar avenida Tarcísio Miranda.

Não sei se me fiz entender, porém agora fica fácil para você compreender
porque eu assassinei a geometria colocando um quadrilátero com três lados, hi!
Continuemos a conversar,
Roberto Moraes