quinta-feira, agosto 23, 2007

"Desenvolvimento do esporte em Campos com oportunidades para todos: como começar?"

O blog ganha um novo articulista a partir de hoje. É o profissional de Educação Física, jornalista, mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ, Vitor Augusto Longo Braz. Vitor foi também presidente da Associação dos Profissionais de Educação Física de Campos entre 1996 e 2000, ex – membro do 1º Conselho Regional de Educação Física instituído no Brasil e recebeu o prêmio com o Discóbolo de bronze oferecido pelo ex- Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em 01/09/03, pelos relevantes serviços prestados a Educação Física no Estado do Rio de Janeiro. Vitor é um pessoa que por natureza é polêmico pela ênfase com que defende seus pontos de vista. Dedicado e reconhecido profissional da área de esportes e eventos tem feito críticas construtivas defendendo um planejamento sério para os esportes em nossa cidade. É exatamente este o tema de seus três primeiros artigos cujo primeiro segue publicado abaixo: Desenvolvimento do esporte em Campos com oportunidades para todos: como começar? Ao fazermos uma abordagem em relação ao tema em questão, nossa principal finalidade é tentar contribuir de alguma forma para o desenvolvimento do esporte campista num todo. Dessa forma, toda a ideologia apresentada neste texto configura-se em pensamento próprio. Pensamos no esporte como uma vertente da educação, ou melhor, consideramos o esporte como uma das mais poderosas ferramentas da educação, que leva a reboque de sua prática a qualidade de vida, a saúde, o turismo, a cidadania, o desenvolvimento econômico e a promoção social, onde as oportunidades oferecidas através da Educação Física são capazes de transformar cidadãos, aumentando a auto-estima, a capacidade e os horizontes através do esporte e atividade física e de lazer. Na verdade o esporte brasileiro ainda é feito de ilhas de excelência, na grande maioria dos casos. Não existe uma massificação do esporte, no sentido de estar próximo das pessoas, estar nas escolas, fazer parte do cotidiano das pessoas. Acreditamos que o esporte tem que deixar de ser restrito a um espetáculo de televisão e passar a fazer parte do dia-a-dia das pessoas. Isso é essencial para a inclusão social, a auto-estima e outros fatores de formação dos jovens. Mas para tentarmos desenvolver este tema, de forma pragmática, é necessário que apontemos algumas políticas públicas que visem o desenvolvimento do esporte como um todo. Para isso, necessário se faz, que levemos em conta a dimensão territorial e habitacional de nossa cidade. Somos uma cidade de quinhentos mil habitantes em média, e de uma extensão territorial imensa. Temos que pensar em proporcionar oportunidades para todos os cidadãos campistas. Desde os que moram em áreas centrais, até aqueles que moram na periferia e distritos distantes como: Baixada Campista (Donana, Baixa Grande, Farol de São Tomé, Tocos, etc.), na Região Norte (Morro do Coco, Cons. Josino, Vila Nova, Travessão, etc.) e na Região Sul (Tapera, Ururaí, etc.). Imaginem a quantidade de jovens em idade de iniciação desportiva, oriundos dessas localidades, muitos com talentos natos, que, no entanto, se encontram sem oportunidades e, dessa forma, excluídos de desenvolverem-se através do esporte e da atividade física. Não é raro vermos um, ou outro, atleta dessas localidades periféricas despontarem no cenário esportivo nacional, após passar de forma anônima pelo esporte em nossa cidade. Por sermos uma cidade que proporciona poucas oportunidades para esses jovens se desenvolverem nos diversos campos sociais, em particular no esporte, torna-se comum eles migrarem para a região central da cidade em busca de subsistência própria e o de sua família. Nessa esteira de injustiças sociais esses excluídos, via de regra, passam a ser os chamados “meninos de rua”, que são discriminados e passam a ser um peso para a sociedade. Nossa cidade conta com um potencial financeiro (estima-se que sejamos a 25ª cidade em arrecadação entre aproximadamente 5.565 cidades do Brasil e a 10ª em PIB, segundo foi noticiado recentemente), conta, ainda, com um potencial técnico (duas Universidades com cursos de Educação Física). Porém, o que é mais importante, no nosso entender, é a completa falta de infra-estrutura básica para permitir o desenvolvimento do esporte com um todo. Não temos sequer uma pista de atletismo. Não temos sequer um ginásio público decente para atender as necessidades das poucas equipes de ponta de Campos.. Isto chega ser vergonhoso. Mas olha só que paradoxo: A Prefeitura de Campos já teve um time milionário (atletas com grandes salários) de basquete masculino e um de vôlei feminino. Essas equipes treinavam em ginásios alugados, faziam a preparação física e técnica em ginásios alugados e jogavam em ginásios alugados. Pagamos caro por essas equipes durante alguns anos. Mudou o governo e acabaram com as equipes. E aí a pergunta que fica: O que essas equipes deixaram para Campos, ou melhor, perguntando, qual foi o desenvolvimento que o esporte campista teve com essas equipes? Acabaram-se as equipes de ponta, não existe atletismo, falo em arremessos, lançamentos, saltos, corridas de pista, acabaram-se essas modalidades em Campos. Isso não é desenvolvimento, concordam? Mas gastou-se e gasta-se muito. No nosso entender Campos precisava estar dotada de infra-estrutura capaz de atender a todos os cidadãos campistas, desde aqueles da área central até àqueles moradores das áreas periféricas mais distantes. Falo em construção de complexos desportivos na baixada, em Guarus, na Região Norte, na Região Sul, além de uma Vila Olímpica nos moldes e padrões internacionais, que seja capaz de abrigar competições internacionais como algumas dos Jogos Pan Americanos. Penso em um total de sete complexos: quatro na Baixada, dois na Região Norte, e um na Região Sul, além, como citei acima, uma Vila Olímpica nos padrões internacionais. Vou mais a frente um pouco nessas minhas sugestões, para não dizer que sonho demais, ou sou utópico. Para se realizar um projeto decente e eficaz para o desenvolvimento do esporte em Campos, com a infra-estrutura necessária que citei, talvez não se gaste muito. As parcerias estão aí para serem consolidadas. Existe empresas que têm dívidas sociais com a cidade (Petrobrás, Águas do Paraíba, empreiteiras diversas, e outras que estão se instalando com incentivos do município). Com um projeto sério e com vontade política tenho certeza que essas empresas gostariam de ajudar, até porque existe incentivo fiscal para empresas que investem no esporte. Ta na hora da Fundação Municipal de Esporte parar de ser “cabide” de emprego e pensar grande. São décadas de atraso, basta olhar os municípios vizinhos e menores em extensão, população (quanto mais gente, mais possibilidade de talentos) e principalmente em arrecadação, como já se encontra Macaé, Quissamã e outros. E não adianta vir com essa que Campos é várias vezes campeã dos JAI, que isso é, para quem entende e quer ver a coisa de forma mais clara, uma tremenda hipocrisia. Comentário de fontes fidedignas afirmam que atletas profissionais de vários esportes, até com passagem em Olimpíadas, de outras cidades são contratadas para representarem Campos. Chega até ser uma covardia com as outras cidades. Aí se usa a mídia para fazer “estardalhaço” em cima da conquista, numa disputa desigual e covarde, ao meu entender. Senhor presidente da FME, meu filho mais velho completou dezoito anos em junho. Sua geração passou sem ver esporte em Campos. Torço e faço votos que os meus (outros três) e os seus filhos não passem pelo mesmo. A responsabilidade é toda sua, enquanto gestor do esporte de Campos dos Goytacazes, uma da mais ricas cidades do país.

2 comentários:

Anônimo disse...

Professor Victor, Sendo professor de Educação Física da rede municipal e estadual de educação e conhecendo-lhe muito bem de longa data, concordo totalmente com sua explanação referente a situação esportiva de Campos. O que lamento profundamente é que a política educacional de nosso município seja voltada para o tão conhecido "tapar o sol com a peneira", visto que os problemas existem de forma variadas e os mesmos são mascarados através de eloquentes palavras proferidas no interior do Trianon, quando ocorrem os congressos de educação municipal. Com relação a educação física escolar, a mesma continua sendo uma disciplina "marginalizada", pela falta de sustentação e logística da rede pública municipal. Digo isto, pelo fato de ser um absurdo que grandes escolas municipais existam apenas no papel, sendo suprimidas da educação física pelo fato de serem esquecidas por sua gerência municipal que realiza sim uma total ingerência administrativa, negando-lhes basicamente materiais para a execução das aulas de Educação Física, e em muitos casos, como o meu e o de outros colegas, temos que adquirir materiais por conta própria para podermos dar aulas, pois existem apadrinhamentos que fazem com que bolas, cordas, aros, redes, petecas, cones e afins não cheguem a todas as escolas, simplesmente pela vaidade de uma gerência voltada somente ao populismo administrativo e ingerente. Outro fato é que em muitas destas escolas, não existe sequer um local apropriado para a prática de esportes, colocando o corpo docente e discente em abandono e a insalubridade, causados pela poeira das aulas nas "quadras" de chão e pelo contato diário com a radiação solar, letal a todos que expõe-se a mesma e ao descaso por sua falta de infra-estrutura: Isto, é um crime, crime contra a saúde pública cometida pela gerência de Educação Física de nossa Prefeitura, que ocupa-se somente com as grandes realizações dos jogos estudantis e com o aparelhamento das bandas de fanfarra de algumas escolas, pois os mesmos atraem a atenção da massa, dando a falsa impressão de que tudo está perfeito e bem gerido. Com relação aos cabides de emprego neste setor, não quero nem comentar muito, pois ele fere todos os princípios trabalhistas, além de ferir também a administração competente. (O grande esporte praticado dentro dos gabinetes administrativos da fundação municipal do esporte é o popular "paciência" do windows). É triste ver que entra ano e sai ano e as coisas mudam vagarosamente e vertiginosamente para pior. É lamentável que o esporte municipal em sua cúpula esteja a mover-se conforme uma tartaruga com todas as patas quebradas e ainda por cima, com seu ventre colado ao solo com uma super-cola. Assim, não sairemos da mesmice de vermos somente as "grandes escolas particulares de Campos" destacando-se no âmbito esportivo. Tristemente, relato o fato das grandes equipes patrocinadas pela prefeitura com seus atletas conhecidos nacionalmente e internacionalmente não contribuírem em nada para o desenvolvimento esportivo de nosso município, contribuindo sim, em contrapartida para o sucateamento financeiro de nosso município através dos contratos e dos faraônicos salários pagos aos "astros mercenários" do esporte municipal. Seria muito mais gratificante ver o município investir na educação física escolar através de uma grande infra estrutura, capaz de construir grandes centros esportivos, manutenção e reforma das escolas e das áreas disponíveis para a prática de Educação Física, aparelhamento físico das instalações esportivas, e aí sim, a democratização do esporte através do investimento nas potencialidades esportivas de nossas crianças que poderiam via a brilhar no futuro como tanto vemos em outros municípios. É uma pena que o futuro da criançada em nosso município ainda esteja pendendo para praticar atividade física através do corte de cana e da corrida instituída pela repreensão policial. Abraços a todos e que o futuro esportivo de Campos seja gerido pela competência.

Anônimo disse...

É muito triste ver que os amigos do Blog não se interessam pelo tema explanado. É por estas e outras que a educação física e o esporte em nosso país tem o valor ínfimo, creditado apenas naqueles que realmente preocupam-se com as questões esportivas e o cunho formador que as mesmas apresentam ao cidadão. :(