quarta-feira, abril 06, 2016

A relação entre os vazamentos seletivos nacionais e internacionais e a geopolítica do poder

Os dois casos sobre formas e origens de evasão de capitais sobre nações importantes que vieram à tona, com apenas um dia de diferença e num sequência lógica. Além de apontar como o poder econômico faz migrar seus capitais para diferentes partes do planeta, nesta era informacional de fluidez máxima dos dinheiros, ela também mostra (e dialeticamente também esconde) dados conformes os interesses geopolíticos presentes em seus conteúdos.

O primeiro caso é do mega-vazamento de 11,5 milhões de documentos internos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca que produziu o “Panama Papers”. Ele apontou os esquemas de criação de empresas offshores, no país da América Central, que recebe dinheiros de empresas e gente que pretender sonegar impostos, ou fugir dos controles, para lavagem destes recursos, obtidos, na imensa maioria das vezes forma ilícita em diferentes partes do mundo, sem ter que se explicar.

Por mais que as informações tenham nos trazido evidências do que já se fala à exaustão, sobre o falso moralismo da elite econômica e de políticos da oposição brasileira, que enlameados dizem querer moralizar a nação há que se perguntar os motivos para este vazamento, exatamente agora. Repito, mesmo que seu conteúdo ratifique e exponha, por exemplo o cado da Globo, em seus já conhecidos esquemas de criação de empresas offshore para não pagar impostos. Quais intenções?

O segundo estudo foi divulgado na segunda-feira (06/04). Ele é da Global Financial Integrity, bom que se registre tratar-se de uma organização de estudos e consultoria sediada em Washington (EUA).

O estudo diz que na década entre 2004-2013, US$ 226,6 bilhões foram subtraídos de forma ilícita do Brasil. do Brasil. Diz mais, que a perda do Brasil em capitais, em 53 anos, desde 1960, chega a US$ 561,7 bilhões, "através de instrumentos ilícitos, de um total de transferência (fuga de capital) de US$ 833,4 bilhões". Na moeda nacional, à cotação de hoje do dólar a R$ 3,67, estamos falando da colossal quantia de R$ 2 trilhões de um total de R$ 3 trilhões.

Ainda mais importante é registrar que, segundo os autores do estudo o "principal componente do fluxo ilícito no Brasil e no resto do mundo é a adulteração de transações comerciais, com preços de exportação subfaturados e de importação superfaturados”. Quem faz isto no Brasil? Não são os trabalhadores ou pequenos comerciantes ou industriais.

O estudo Global Financial Integrity diz ainda que “esta prática fraudulenta representa 96,5% dos fluxos ilegais originários do Brasil”. Operações que se casam com as sonegações do andar de cima, agora expostos como os falsos moralistas pegos no esquema do Swissleaks, do HSBC e de outros.

Porém, é interessante observar que no caso do mega-vazamento “Panama Papers” não havia na lista nada, sobre fugas de capitais de gente dos EUA e seus aliados da Europa, para paraísos fiscais, que hoje se sabe que vai bem para além da Suíça, ou do Panamá, como para: Bahreim, Vanatu, Nauru, Ilhas Cayaman ou Ilhas Seychelles entre outros.

Sobre esta desconfiança, hoje o Wikileaks confirma a informação de que a organização “Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP)” é financiada pela famosa agência dos EUA, USAID (Agencia de los Estados Unidos para el Desarrollo Internacional) e também pelo fundo do megaespeculador, George Soros.

No segundo estudo divulgado Global Financial Integrity foi ainda incluído um rankeamento entre os países que sofreram as maiores evasões entre 2004-2013: China com U$ 1,4 trilhão, seguida da Rússia com US$ 1 trilhão, México com US$ 528 bilhões, Índia com US$ 510 bilhões; Malásia com US$ 418 bilhões e Brasil com US$ 226 bilhões.

Sim, o que parece é que estes vazamentos seletivos parecem ter similaridade com o que se vê no Brasil através da trama jurídico-midiática, entre a Globo e a Operação Lava Jato. Só que neste caso em proporções maiores.

Parece fato que os vazamentos mostram uma nova forma de aproveitar as vulnerabilidades políticas, econômicas, militares e psicológicas de governos e estados nacionais que só, ou articulados caminham em direção contrária aos objetivos estratégicos de quem disputa hegemonia.

Não é difícil ver aí a confrontação entre os EUA e os articuladores dos Brics e outras nações com grande potencial no setor de óleo e gás e com economias complementares e grande possibilidade de cooperação entre si, na área comercial, bem para além da política e das ideologias.

Para aprofundar o tema, eu sugiro que leiam um texto analítico que reproduzimos aqui no blog, do jornalista Pepe Escobar, que se especializou em acompanhar e estudar os movimentos da geopolítica mundial.

Pepe, ao falar sobre a dimensão geopolítica existente na disputa política no Brasil contemporâneo, cita o documento americano de 2010 “Manual das Forças Especiais para Guerra Não Convencional”.

A partir dele, Escobar descreve e interpreta um de seus itens. Ele parece ser chave para a compreensão dos instrumentos citados no manual para a “Guerra Não Convencional”, ou “Guerra Híbrida” (ou soft), cada vez usadas contra as nações, através da fomentação das “revoluções coloridas e midiáticas” e dos riscos de criação de novos grandes inimigos, como no passado foi, o ex-aliado Saddam Hussein.

Escobar diz ainda: “o grande objetivo por trás de toda e qualquer Guerra Híbrida é esfacelar projetos multipolares transnacionais conectivos, mediante conflitos de identidade provocados de fora para dentro (étnicos, religiosos, regionais, políticos, etc.), dentro de um estado de trânsito tomado como alvo."

É interessante que se conheça o conteúdo destes documentos, mesmo que seletivamente vazados. Que se saiba como sonegadores agem. Que se possa controlar e punir os responsáveis por desvios e sonegações e que os recursos possam ser devolvidos à nações.

Porém, parece também oportuno que se tenha uma olhar mais amplo para os interesses geopolíticos que estão em jogo. É verdade que a sociedade, a forma de seu funcionamento e de suas instituições vão se tornando cada vez mais complexas e os interesses cruzados, produzindo informações e contrainformações, em velocidades e formas as mais variadas e difíceis de serem analisadas.

É importante que se conheça estas práticas e artimanhas, mas também é necessário evitar que sejamos manipulados em interesses maiores, em que, na maioria das vezes, sequer se sabe que existam e muito menos de como funcionam e agem.

Pepe Escobar aponta ainda a mobilização progressiva da sociedade civil no Brasil contra esse cenário de golpe branco/soft em cenário de golpe/mudança de regime. Assim, ele vaticina que podemos o Brasil pode se transformar num “caso exemplar” (exemplar-case), a ser estudado sobre estratégias geopolíticas, aplicadas num ambiente globalizado sofisticado, com ativas redes sociais e dominado pelas Tecnologias da Informação.

A política ou a geopolítica são dinâmicas e as reações muitas vezes fogem aos manuais. Porém, seu astúcia e profunda observação destes movimentos nos tornamos apenas peças colocadas e retiradas de um lado a outro, sem interferir realmente, sobre aquilo que verdadeiramente interessa e define. Seguimos em frente, acompanhando!

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