terça-feira, abril 26, 2016

Ainda sobre a Arábia Saudita e sua dependência do petróleo: a maldição que também nos atinge

A dependência econômica das rendas extrativistas é muito mais forte do que se pode pensar num primeiro momento. Isto vale para municípios, regiões e também para as nações.

Apenas intitular como maldição mineral é pouco. Até porque a maldição tem várias dimensões interligadas e que se sustentam mutuamente, ao longo de um determinado período de tempo, até que os elos se rompam.

Observando o caso das nações, a Arábia Saudita como maior produtora de petróleo é um referencial importante. Há anos, o rei e seus ministros prometem mudanças para sair desta dependência, que consideram maléfica.

Porém, assim como as drogas, as rendas minerais são viciantes e geram dependência colossal e difícil de sere abandonada para além dos discursos e das intenções. Lá e cá.

Fala-se em fundos soberanos, mas o volume de recursos daí saem de onde? Da renda mineral, no caso da Arábia: do petróleo. Observando mais sobre o plano Visão 2030  que o rei  Salm anunciou ontem. Veja aqui mais detalhes na postagem que o blog fez ontem sobre o assunto.

Fala-se em venda de um percentual da sua petroleira a Saudi Aramco para investir no desenvolvimento das cidades. Mas, o governo há pouco suspendeu projetos e investimentos e aumentou impostos e tarifas públicas.

E sobre a tão decantada diversificação econômica que vira e mexe também se ouve tanto, seja em nossa planície, quanto nos demais municípios petrorrentistas e ainda no próprio governo do ERJ?

Pelas primeiras informações do Vision 2030, o que a Arábia propôs chega a ser risível: investir mais na extração de outros minerais e aumentar a capacidade de produção militar própria.

A primeira é risível porque seria mais do mesmo. A segunda aponta na direção da industrialização, mas depende de recursos que hoje a Arábia obtém da renda das exportações do petróleo.

É verdade que é muito dinheiro que a Arábia gasta com importação de equipamentos, sendo o terceiro maior comprador de armas, tendo gasto US$ 87 bilhões só no ano passado.

É uma conta difícil de fechar considerando que quase 80% do orçamento do governo árabe vem da renda do petróleo e que a gestão pública ocupa 2/3 de todos os trabalhadores do país. Sendo que, do terço restante empregado no setor privado, 80% é de estrangeiros que aceitam ganhar menores salários.

Apesar do dinheiro guardado e das reservas petrolíferas a serem ainda exploradas, o destino das nações dependentes das rendas das extrações minerais, não parece ter evoluído muito para longe da condição de colônias, supridoras de seus colonizadores.

As exceções na história foram para nações que usaram estas riquezas para dar o salto e para isso dependeram destas riquezas e também da extensão de seus territórios e do porte das populações para gerarem demandas e fazer movimentar a economia.

Tarefa sempre difícil e, talvez ainda mais complexa, nestes tempos de economia globalizada e mercados controlados globalmente, por oligopólios e monopólios.

Evidente que este problema para as nações tem um significado diverso daqueles que valem para um estado sub-nacional como o ERJ, ou para os nossos municípios petrorrentistas.

Porém, algumas premissas parecem semelhantes e deveriam estar sendo observadas e refletidas em nossas bandas, para se pensar e planejar as próximas décadas, em meio à crise de representação política que parece estar ainda no início nas diversas escalas de governo. A conferir!

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