sábado, fevereiro 28, 2009

“Direitos globais”

Já ouvi dizerem que há entre as pessoas, aquelas que pensam melhor sobre o futuro e os cenários, do que propriamente tenham capacidade de operacionalizá-las. O senador Cristovam Buarque parece ser uma destas pessoas. Um pensador de primeira. Aponta princípios, diretrizes a partir de análises que sempre faz as pessoas pensarem e até mudarem comportamentos. Talvez, seja por isso que ele tenha tanto respeito no plano internacional, maior do que o que conseguiu auferir por aqui, neste nosso país, em que as prioridades são sempre para ontem e o futuro algo sempre secundário. Depois, desta breve introdução o blog traz para o espaço o artigo do senador publicado hoje em O Globo, como o título desta nota que merece nossa análise: Direitos globais” Na semana passada, a Academia da Latinidade, inspirada e dirigida pelo professor Candido Mendes, realizou no Instituto Nobel para a Paz e na Academia de Ciências da Noruega um debate de três dias sobre a ética na universalização dos direitos humanos. Embora o principal tema tenha sido as relações entre cristianismo e islamismo, ao longo dos debates surgiram cinco novos direitos humanos, que ainda precisam ser globalizados. Primeiro, o direito ao meio ambiente.É preciso que o patrimônio natural do planeta seja garantido para as gerações futuras. Esse é um direito humano tão sagrado quanto os já reconhecidos e defendidos há 60 anos, pela Declaração Universal. E vai exigir mudanças profundas no sistema produtivo e nos padrões de consumo das gerações atuais. Segundo, o direito à migração. No mundo onde uma crise do sistema financeiro norte-americano se espalha por todos os países, onde o comércio é praticado livremente, onde um carro ligado em qualquer parte do mundo eleva a temperatura de todo o planeta, ainda há fronteiras que impedem a mobilidade das pessoas. Os pobres são impedidos de se mudar em busca de emprego em outros países. O mundo global precisa tratar a migração internacional como um direito humano fundamental, derrubar as fronteiras da migração, como derrubou as fronteiras comerciais. Terceiro, o direito à educação. Se o capital econômico está baseado no conhecimento, e o emprego de cada pessoa depende de sua qualificação, é inaceitável que a educação de cada criança dependa dos recursos da prefeitura da sua cidade. Se os direitos proíbem a tortura, não podemos permitir que ainda existam cerca de 800 milhões de analfabetos no mundo. Nem podemos tolerar que, por falta de educação, mais de um bilhão de jovens sejam incapazes de navegar no mundo virtual que caracteriza a contemporaneidade. O quarto direito é ao emprego. As sociedades devem se unir em torno de um grande programa mundial de geração de empregos. Obviamente, esse emprego não poderá ser imposto ao setor privado, para produzir bens para o mercado, mas pode ser criado pelo setor público para atender à demanda por bens culturais, pela recuperação do meio ambiente, pela atenção em saúde, pela educação. A Bolsa-Escola era um exemplo desse emprego social: a família era empregada para garantir que o filho estudasse. O quinto direito é à saúde. Ao nascer no mundo global de hoje, as pessoas têm mais desigualdade no acesso à saúde, inclusive no direito a viver mais ou menos, do que tinham no passado. No século XIX, a medicina era praticamente a mesma para qualquer pessoa. No século XXI, o acesso à medicina é completamente diferente, segundo a renda da pessoa. Isso é imoral. E pode levar a uma diferenciação tão grande entre os seres humanos, que provocará o desaparecimento do conceito de semelhança. O mundo precisa definir sistemas de atendimento médico que iguale a chance de todos à saúde, sem importar em que país estão e a renda de que disponham. Fiz a defesa desses cinco direitos durante os debates do XIX Colóquio da Academia da Latinidade, em Oslo. Creio que o Congresso Nacional deveria debater o assunto nas Comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado. Ao mesmo tempo, com a liderança que adquiriu nos governos dos presidentes Fernando Henrique e Lula, o Brasil deve tentar influir no cenário internacional, nas entidades que pertencem ao sistema das Nações Unidas, para que sejam encontradas formas de realizar o que pode ainda parecer um sonho: cinco novos direitos humanos globais. No final da grande crise de 1929 a 1945, o mundo aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos e implantou o Plano Marshall, que recuperou a economia da Europa e lançou as bases para o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo. As crises globais deste começo de século XXI — ambiental, financeira, social — podem ser o novo tempo dos direitos humanos globais e sociais. O Brasil tem um papel a cumprir, omitir-se é fugir à responsabilidade. Cristovam Buarque é senador PDT-DF".

6 comentários:

Clube de Leitura Alexander Seggie disse...

Roberto, eu sei que Cristóvão Buarque é uma das mentes pensantes do nosso país. Infelizmente ele e Lula caminham em estradas paralelas. No meu modo de entender as coisas, Lula foi vítima de uma intriga. E o Cristóvão mordido pela mosca azul, na época da candidatura. Mas o fato é que ele incomodou demais os lobistas.

Roberto Moraes disse...

Olá Flávio,

Concordo em boa parte com seu ponto de vista, com exceção dos lobistas.

Julgo que há equívocos que não são pequenos, por parte de Lula e do governo federal, em diversos aspectos, mas, a operacionalização das ideias, são bem mais complexas do que a sua formulação, embora estas sejam sempre imprescindíveis de serem feitas.

Aí residem as virtudes e os problemas do Cristovam. É preciso que saibamos separar estas coisas no jogo que é a política.

Só que isto é bem mais fácil para quem analisa do quem para aqueles que a operam.

Abraços,

Anônimo disse...

Cristovam Buarque e Lula duas pragas em nosso país. Nada servem nada colaboram. São à esquerda do país literalmente.

O problema dos blogs e que geralmente o autor tem um partido político escondido em sua mente.

Anônimo disse...

Ao anônimo das 12:48h:
CREDO!!!!

Anônimo disse...

concordo que a esquerda seja uma praga, de certa forma a direita também, mas o educador em questão é uma voz coerente e lúcida (apesar do desvio de esquerda), e merece respeito por ser uma das poucas grandes figuras que não tenha medo de criticar ferozmente o governo Lula

Igor disse...

Olá, Roberto. Tudo bem?

Fiz uma citação da sua postagem no meu blog e tratei de "direitos" no texto, utilizando o caracteres do texto do Senador Cristovam Buarque.

O link para a postagem é: http://tratadosordinarios.blogspot.com/2009/03/direitos-e-deveres.html

Um abraço!