segunda-feira, dezembro 29, 2008

Aprofundando a questão da drenagem em Grussaí

Estes desdobramentos através da emissão de diferentes opiniões, mostram a importância de um espaço para um debate mais qualificado, sobre determinados assuntos da nossa região. Mesmo que alguns se interessem mais pelas consequências políticas de um ou outro comentário, o espaço para o aprofundamneto do diagnóstico e das soluções é, na verdade um exercício de cidadania, na qual, o titular do poder, se tiver humildade e sabedoria, poderá utilizá-lo, sem despesas e sem tentativa de cooptação.
Nesta linha, o blog recebeu, por -email, do ambientalista e blogueiro André Pinto, interessantes argumentos que colocam pingo nos “is” das causas e soluções da drenagem das águas em Grussaí, elevando o debate para além da disputa de poder, tratando como o assunto como política pública em que a questão ambiental, o plano diretor com as definições sobre uso e ocupação do solo e outras são tratadas. Porém, é verdade que o problema presente precisa de uma solução, mesmo que esta seja em etapas. Se tiver interesse no assunto não deixe de ler o texto do André: “Prezado Professor Roberto Moraes, Como seguidor de seu maravilhoso blog, tenho percebido a "revolta justa" de leitores e moradores da localidade de Grussaí, com relação aos alagamentos constantes naquela área, gerando prejuízos de ordem material e muitos aborrecimentos àqueles que deram o suor de seu trabalho para poderem, em tempo certo, desfrutarem de descanso junto ao mar, ou realizarem negócios mediante a característica turística do local. Um exemplo vivo é o relato do Dr. Vitor e do Jayme Rogério , já mencionados tempestivamente no seu Blog. Grussaí, que é reconhecidamente um Balneário bem famoso em todo o Brasil, ainda mais por abrigar o SESC-Mineiro (equipamento turístico de primeiro mundo), parece sofrer de uma "maldição" dada por resposta da natureza à realização de loteamentos pretérios irregulares, feitos ainda no período do desbravador de Grussaí, "Lorenço Português", no início do Século XX, que ajudou até a construir a Igreja de Santo Amaro por volta de 1920. Essas ocupações pretéritas feitas no início do Século XX, em cima de uma grande área de restinga, onde podemos denominar paleopraias ou cordões litorâneos (que contém os milenares caminhos d`água) causaram muitos danos, uns até irreversíveis. Segundo estudos do Professor Soffiati sobre áreas alagáveis no Norte Fluminense junto com Ronaldo Novelli, Marina Suzuki e outros, Grussaí foi uma das restingas mais impenetráveis da Região Norte Fluminense nos Séculos 17, 18 e finais do Século 19, pelos desbravadores da região, que acabaram, com o advento da expansão regional, por fazerem o desmatamento e ocupação irregular da grande área verde, principalmente em busca da "goma de Jutaicíca" ( resina usada para vernizes de embarcações), eliminando, assim, o efeito "esponja" que a vegetação de restinga tinha na captação das águas pluviais; e mais, as águas passaram a sofrer com a ocupação de seus caminhos naturais (caminhos D´água). Temos micro exemplos como macro exemplos de problemas de drenagem dessas águas em Grussaí: os pequenos, podemos dizer que são as áreas residenciais que foram ocupando transversalmente as áreas alagáveis e sem elevação de sua grade de construção (lembrei-me da matéria de Soffiati sobre a estrada dos ceramistas em Campos) bem como a ocupação da área para pastos, os grandes, podemos dizer, a própria construção do Grussaí Praia Clube e o Sesc-Mineiro, que ocuparam com seus grandes e extensos muros, muitos caminhos d`água existentes. Daí, hoje vimos como ficou a situação de drenagem no local. Um caos, em que a municipalidade tem buscado resolver de forma participativa com a sociedade uma solução à contento e em prazo relâmpago. Não quero dizer aqui que as construções do Sr. Jayme Rogério e do Dr. Vitor e de outros moradores estejam irregulares. Seria , por demais especificar um problema que não foi causado por eles. O que quero dizer é que esse efeito "dominó", nos atinge ciclicamente, por seguirmos um modelo de planejamento de uso e ocupação do solo retrógrado, arcaico e deficiente, que vinha perdurando por longos anos (início do século XX). Posso dizer, como cidadão que acompanhou as reuniões temáticas do Plano Diretor Municipal em 2006, que na feitura do novo Plano Diretor Municipal, estas questões foram levadas à tona e acredito no reordenamento do uso e ocupação do solo em São João da Barra para os próximos anos e para os próximos loteamentos. Os casos antigos, com certeza demandarão adaptações por meio de drenagens específicas e outras medidas. Para encerrar, notadamente vivemos numa era de adaptações climáticas e isto implica em ações conjuntas da sociedade e Poder Público. O Poder Público deve fazer seu dever de casa, coibindo ocupações irregulares nos caminhos D`àgua e em Áreas de Preservação Permanente - APP´s, realizar micro e macro drenagens (o que vem sendo feito no município em grande escala com a anuência da SERLA), construir galerias pluviais, fiscalizar e impedir loteamentos clandestinos e a sociedade deve procurar fazer construções inteligentes, reaproveitando a água das chuvas em reservatórios, esgotamentos ecologicamente corretos, elevando sua grade de construção, deixando no terreno áreas de vegetação para que o solo venha a absorver ás águas em excesso, plantando mais árvores, colocar o lixo residencial produzido em locais altos, construir calçadas e áreas internas com pisos que facilitem a micro drenagem, enfim, busque a solução para uma moradia eficiente, sem virarem fortalezas impenetráveis, que se tornem verdadeiros piscinões cercados de concretos por todos os lados. Aproveito para deixar aos leitores uma foto da abertura da estrada de terra Grussaí (que era uma densa restinga e absorvia muita água de chuva) e a abertura do Canal da Casa Sincera, tiradas de um relatório de Obras e Saneamento do Governo Amaral Peixoto (Acervo de André Pinto). Grande abraço. André Pinto Bloguista".

7 comentários:

Luiz Felipe Muniz disse...

Parabéns, André, pela qualidade da sua abordagem sobre o assunto.

Os "novos" fenômenos climáticos - zonas de convergências(!) - estão atingindo o Sudeste brasileiro com águas fartas e evaporadas, em boa parte, da Floresta Amazônica; segundo alguns estudos feitos por meteriologistas, a grande umidade da Floresta está caminhando veloz num corredor que transpassa o Brasil no sentido norte-leste, chegando ao Atlântico exatamente na região compreendida entre Santa Catarina e o Espírito Santo...

Num passado não muito distante a Região Norte-Fluminense era um verdadeiro "Pantanal", tamanha a presença de lagoas, lagunas, brejos, riachos, rios, caminhos d'água, etc...até mesmo os nossos ancestrais indígenas que aqui viviam, eram conhecidos como grandes nadadores segundo historiadores...

A construção de mais de 2000 km de canais pelo antigo DNOS - sem maiores estudos e preocupações sócio-ambientais - propiciou a drenagem e o aniquilamento de boa parte dos mananciais hídricos, expondo terras para uma ocupação agro-industrial desordenada, ao mesmo tempo em que os núcleos urbanos iam se apoderando das margens em perfeita desarmonia com as volúpias das águas e o papel das Florestas Ciliares...

É verdade, André, hoje podemos afirmar que o "efeito esponja" deste fabuloso ecossistema do passado foi perdido em quase todo o Norte Fluminense. As águas agora não mais possuem o "berço" de um solo permeado por raízes adaptadas em prol da retenção e acolhida dos tempos de fartura hídrica...

As lagoas criminosamente extintas - que beira a mais de 100 (cem), salvo engano, o prof. Soffiati certamente sabe o número correto - hoje estariam desempenhando papel fundamental no acolhimento destas águas...

A questão agora não mais é de denúncia e sim de explosão de diques na urgência!!

Mas o problema não finda aqui! As torrentes de água irão prosseguir nos próximos dias, meses e anos, e será preciso muito mais do que caminhos alternativos para os desabrigados e para os veranistas.

Sinto dizer, mas se os novos (as) Prefeitos(as) não constituirem equipes de profissionais afinados com as urgências de nosso tempo e comprometidos com as decisões impopulares que deverão tomar para dar conta destas questões e outras mais que ainda surgirão, muitos cidadãos e cidadãs serão literalmente arremessados na rua e verão por aqui os absurdos sócio-ambientais que temos assistido no Discovery Chanel!!!

Armandao.com disse...

Perfeita a abordagem dos senhores!
Sem intenção ou conhecimento técnico, apenas como atento observador, uma afirmação: A grande cheia de 2006 encharcou literalmente toda esta região litorânea, provocando evidente elevação do lençol freático.
Pode-se observar que a calha do rio Paraíba, grande canal de escoamento de todas estas águas esta sofrendo com visível assoreamento, isto não permite que o combalido amigo Paraíba execute como antes, esta sua nobre função; Atentem aos alagamentos, não só na praia de Grussay , mas, em todo o intervalo desde esta até as margens do Rio Paraíba, da margem do outro lado até Guaxindiba, passando por Gargaú e Santa Clara, aliás um blogueiro de Gargaú fez a seguite observação; "observe a côr da água que invadiu a cidade, não é água da enchente do Paraíba, é dos alagados e canais das margens, que as do Rio cheio empurraram adiante".
Tudo consequencia da intervenção inconsequente do bicho Homem.
Do jeito que está, já está ! Agora é trabalhar para que alguém no futuro não seja responsabilizados pelo que fazemos hoje !
prol de soluções, urgentemente !
Este Blog, fabulosa ferramenta que você caro Roberto tão inteligentemente opera, é o canal ideal à tal ação.


Armandão:.

Anônimo disse...

Tudo bem, opiniões baseadas em fatos, estudos, ações, consequencias, mas e aì?
A prefeitura gasta com shows e a minha residência continua alagada.
Tudo muito bonito, não tenho conhecimento técnico no assunto, só sei o que sofro, o que meu vizinho sofre, o que outros vizinhos sofrem e não somos apenas "turistas" ou "moradores de verão" tem moradores do dia a dia lá também. Gostaria de estar lendo aqui alguma informação imediata para , se não solucionar, amenizar a situação.
Abraços. Paulo.

Anônimo disse...

Muito esclarecedoras as informações postadas. Porém nada justifica a inoperância dos orgãos competentes. É preciso adotar medidas pensadas e efetivas, mas por outro lado medidas emergenciais para drenar as ruas alagadas são mais que necessárias. Figueira, Zebrinha e Lyra Mar estão alagados por mais de 15 dias. A infestação de mosquitos está insuportável. Autoridades ! Avaliem o caso com mais carinho. A população destes bairros, bem como de outros de Grussaí precisam de uma solução. Venham ver a coisa de perto.

Luiz Felipe Muniz disse...

Pessoal, desculpem-me pelo erro de grafia no texto acima: o correto seria "meteorologista".

Anônimo disse...

O fato de pessoas da equipe da administração pública local ter conhecimento desse histórico só torna mais grave a inércia do atual governo. O Sr. André inicia o texto eximindo o atual governo dos alagamentos. Sim! Ele, o atual governo, não causou os alagamentos. Mas a ele compete trabalhar e investir na solução dos problemas deixados, inclusive, por governos passados. O que não se pode é jogar a responsabilidade para o cidadão, como disse o Sr. André ao sugerir que a "sociedade deve procurar fazer construções inteligentes, reaproveitando a água das chuvas (...) construir calçadas e áreas internas com pisos que facilitem a micro drenagem", afinal o poder municipal é constituído, cobra impostos, recebe royalties, etc. exatamente para isso, incluindo a micro e macro drenagens, pois o que se vê por aqui é uma mini drenagem paliativa abrindo valetas para as águas passarem de uma rua para outra, descobrindo um santo para cobrir o outro.

Anônimo disse...

Concordo com o sr Antonio Pedro, se é para jogar a responsabilidade sobre o cidadão comum, que tal distribuir uma parcela dos royalties a esses cidadãos para que eles façam alguma coisa!