segunda-feira, junho 09, 2014

Índice das "500 cidades brasileiras mais desenvolvidas"

Particularmente, eu questiono os rankings, porque por mais bem intencionados que sejam, eles são obrigados a fazer escolhas metodológicas de dados e indicadores para efetuar comparações, que sempre são muito discutíveis e motivos de questionamentos, especialmente, por parte dos gestores. Prefiro observar uma série histórica de dados e indicadores do que fazer comparações.

De qualquer forma, também não refuto a construção destes rankings com diferentes focos de observação. Nesta linha, eu cheguei à lista abaixo, divulgada neste domingo, pela revista Exame com as 500 cidades brasileiras mais desenvolvidas. Para isto se usou três diferentes índices: Firjan (2014); ONU (2013) e FGV (2012).

O que mais me chamou a atenção foi ver que o município de Campos dos Goytacazes, RJ, o 14º maior orçamento entre as 5,5 mil cidades brasileiras (incluindo as capitais), não aparece em nenhum destes três rankings, chamados de 500 cidades brasileiras mais desenvolvidas.

Estranho. Há algo errado. 14º maior orçamento e fora das listas das 500 mais desenvolvidas? É difícil de aceitar, mesmo que as metodologias sejam questionáveis. Não se trata da lista das 50, nem 100 e sim das 500 cidades mais desenvolvidas.

Confira abaixo a apresentação da matéria da revista Exame seguida da longa lista:

"Lista definitiva das 500 cidades mais desenvolvidas do país"
"Na última semana, foi a Firjan. Há um ano, a ONU. E há dois, a FGV. Compare lado a lado os três mais relevantes rankings disponíveis sobre desenvolvimento no Brasil"

São Paulo – É sempre motivo de controvérsia em EXAME.com as listas de cidades mais desenvolvidas do Brasil. De um lado, moradores muitas vezes não reconhecem os próprios municípios como merecedores de estar entre os primeiros lugares do desenvolvimento nacional. Outros, indignam-se com as cidades que são supostamente melhores que as suas.

Para piorar, a existência de múltiplos rankings faz com que alguns sejam vistos com olhares suspeitos por notas relativamente baixas para uma cidade bem colocada em outro.

Para facilitar uma comparação – e fomentar ainda mais o debate – EXAME.com reuniu as 500 primeiras cidades que aparecem nas três listas mais completas surgidas nos últimos dois anos.

Todas se propuseram a responder à seguinte pergunta, olhando para os 5,5 mil municípios do país: afinal, qual a cidade mais desenvolvida do Brasil?

O mais recente é o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), cuja versão 2014 foi lançada na última semana pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. Neste, a campeã é Louveira (SP).

O segundo é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), da ONU, que traz a metodologia do famoso IDH para as cidades do Brasil. Divulgado em julho do ano passado, ele consagra em primeiro lugar a paulista São Caetano do Sul.

Por último, a FGV também elaborou seu ranking, sob a forma do Indicador Social de Desenvolvimento Municipal (ISDM), lançado em novembro de 2012. A vencedora é Trabiju, também no estado de São Paulo.

Critérios
Uma reclamação constante é que algumas das cidades que aparecem no topo têm poucas alternativas de lazer, ou possuem problemas de segurança.

Daí, vale lembrar que a medição de desenvolvimento, embora muito ligada ao conceito dequalidade de vida, não se traduz automaticamente na ideia de que estes sejam os melhores lugares para se viver.

Nenhum dos indicadores, por exemplo, mede opções de lazer. Segurança aparece apenas como um subitem do da FGV, mas é ignorado pelos demais.

Na prática, o que há de comum entre eles são os componentes de educação, saúde e renda, mas com várias diferenças naquilo que decidem abarcar.

Veja abaixo o que cada um mede:

IFDM: emprego & renda (geração de emprego, salários médios, desigualdade de renda); educação (matrículas, taxa de abandono no fundamental, nota do Ideb); saúde (óbitos por causa indefinidas e evitáveis, consultas pré-natal).

IDHM: expectativa de vida; educação (escolaridade dos adultos e fluxo escolar dos jovens); renda per capita.

ISDM: Saúde e segurança (taxa de mortalidade infantil, gravidez precoce; taxa de homicídios); habitação (coleta de lixo, energia elétrica, água canalizada, esgotamento sanitário); trabalho (taxa de ocupação e formalização); renda (presença de pobreza e extrema pobreza); educação (proporção de crianças e jovens não alfabetizados).

Vale lembrar que, como precisam pegar dados a nível municipal, todas estas pesquisas têm um relativo atraso em relação ao ano das informações que usam. A FGV e a ONU usam dados de 2010. O mais recente, da Firjan, têm como ano base 2011.

Por isso, se seu munícipio fez um notável progresso em educação nos últimos três anos, esse ganho não aparecerá por aqui. Confira abaixo a lista.

PS.: Atualizado às 02:18: O blog retirou a lista da postagem que pode ser vista aqui no site da revista Exame, porque a sua publicação abaixo estava gerando um problema técnico que impedia que outras notas anteriores do blog fossem vista nesta primeira página do blog.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sempre temos que ter cuidado com as estatísticas. Se num restaurante de Campos entrar o Antônio Ermírio de Moraes, todos ali dentro, na média, são milionários.

Não há muitas maneiras de se medir o "desenvolvimento" de uma cidade. Há uma percepção pessoal e intuitiva que é difícil de ser medida. Alem disso, podemos questionar até o próprio conceito de desenvolvimento.

Há também dados que podem estar mascarados por questões locais, como o número de empregos e média salarial em Campos vis a vis os dados de Macaé. Sabemos que há uma distorção porque muitos empregos em Macaé são ocupados por campistas.

Os três índices tem critérios e estes são fruto de escolhas. Se não são boas, paciência. Ou façamos um outro.



Roberto Moraes disse...

O cuidados com os rankings devem ser maiores ainda.

Aqui não se trata de médias. E sim de dados e indicadores. É diferente.

Também é diferente de questões intuitivas ou qualitativas. Os rankings citados se utilizam de dados primários que se transformam em indicadores.

A escolha dos dados e indicadores são sim escolhas metodológicas. Algumas mais outras menos questionáveis, conforme o olhar que se queira ter sobre o objeto observado.

Cada vez mais se tem condições de apurar dados primários mais fidedignos. No caso das administrações, os órgãos de controle (uns mais, outro menos) exigem sua tabulação e divulgação. Mesmo entre cidades fronteiriças, próximas ou conurbadas. O IBGE hoje já divulga dados sobre o chamado movimento pendular, entre pessoas que moram em uma cidade e trabalham em outras. A apuração destes dados são muito interessantes porque permitem analisar e propor uma série de coisas.

Ao questionar toda apuração de dados e estatísticas negando as aproximações e escolhas que todas fazem, é o mesmo que dizer que tudo é tudo e nada é nada e nos mantermos onde estamos, sem saber nossa situação, a dos outros e o que podemos almejar em melhorias.

Portanto, o questionamento de alguns dados, não pode remeter ao inverso a rejeição a todos.

Assim, eu voltou ao início da minha postagem, reafirmando o que disse que pior do que apuração de dados e indicadores é o estabelecimento de alguns rankings comparativos como este. Entendo ser sempre melhor utilizar a série histórica para verificar, no caso o avanço ou retrocesso de um município, em relação a eles mesmo. Aí sim, observando a situação comprar no geral com o avanço percentual dos demais, sendo cada um em relação a eles mesmos.

Mesmo com todas estas considerações que relativizam e muito os rankings, mais que os indicadores e os dados primários que são básicos, não se pode deixar de observar a estranheza.

Uma cidade tão rica, com R$ quase R$ 3 bi de orçamento, o 14º do país, entre 5,5 mil cidades, que teve receita na última década de quase R$ 20 bilhões, não estar presente em qualquer ranking entre as "500 cidades desenvolvida" é um fato a se estranhar.

Não há como tapar o sol com a peneira. Por mais questionável que sejam as escolhas, o fato mostra problemas.

Evidente que quem está no poder, usa o chamado Teorema de Ricúpero: o que é bom a gente divulga, o que é ruim, a gente esconde.

Quando o IBGE divulga o ranking do PIB equivocadamente atribuindo o PIB (riqueza) do petróleo ao município, na mesma proporção dos royalties, o que é um absurdo, e o município aparece entre os dez mais ricos, mesmo que a riqueza que aqui passa seja apenas do % (passa e não fique) dos royalties e não de todo o produto, há campanhas de marketing sobre o "desenvolvimento" do município.

De tudo isto, é interessante provocar o assunto e desta forma contribuir para um debate mais qualificado, tanto sobre as estatísticas, quanto sobre a realidade, comparada ou não.