quinta-feira, outubro 30, 2014

Ônibus ou trem? Breves considerações sobre a realidade na Espanha e no Brasil

No Brasil sempre reclamamos da opção errada que o país fez lá atrás como alternativa para o transporte público de massa nas médias, grandes cidades e nas regiões metropolitanas.

Aqui na Espanha, o setor de ônibus (autobús) informa em matéria na parte de economia do El País, que não se resigna em chamado de “primo pobre” (“pariente pobre”) do transporte público, relegado e atrás de outros meios de transporte. A indústria de transporte por estradas “carreteras” se sente desvalorizada por parte dos governos e opinião pública.

Segundo a União Europeia (EU), em 2013, os ônibus levaram mais passageiros que o trem. Segundo os empresários do setor o usuário regular de ônibus valoriza o serviço e tem a seu favor a modernização dos ônibus.

Assim, a Espanha teria a frota mais jovem da UE depois da Holanda, quando teriam gastos 490 milhões de euros (cerca de R$ 1,5 bilhão) ao ano para renovar a frota, o que os empresário alegam ser um ponto forte frente aos trens no país.

É bom lembrar que a Espanha enquanto país tem uma área total um pouco menor que a nosso estado de Minas Gerais (586 mil Km² x 504 mil km² Espanha) e uma população próxima do estado de São Paulo (44 milhões x 47 milhões na Espanha).

O assunto está sendo discutido em Madri, desde ontem, 28 e vai até sexta, 31 de outubro, na 12ª edição da Feira Internacional de ônibus e carros (FIAA) que atraiu 170 empresas de 18 países.

Uma das novidades desta feira é um ônibus totalmente elétrico da empresa espanhola Irizar que concorre com modelos da Mercedes Benz e Volvo que postam em modelos híbridos (diesel e elétricos).

Interessante observar que na Espanha a maior parte do transporte ferroviário (trens e metrôs) tem gestão e organização pública e funciona muito bem. A estrutura de vias, composições e estações são bem mantidas, têm uma regularidade britânica e, com as vias e trens de alta velocidade (AVE) concorrem não apenas com ônibus, mas, com o transporte aéreo com vantagens.

É muito ruim que tenhamos feito esta opção no passado e hoje temos que aceitar como ótimas soluções, os sistemas chamados BRS e BRT de corredores exclusivos de ônibus como os ideais, segundo interesses articulados que envolvem agentes internos e externos, de financiadores tipo Banco Mundial e Bird.

A desmontagem do setor ferroviário no Brasil com desativação da empresa ferroviária pública, dos fabricantes de máquinas e vagões, gerando a perda da experiência dos técnicos em projetos e manutenção, que também pararam de ser formados torna na atualidade, alguns esforços de retomada dos projetos de transporte ferroviário, mais caros proporcionalmente do que se tem em outras partes do mundo. E o fato não pode ser atribuído exclusivamente, a licitações fraudulentas e altos lucros desejados pelos empreendedores.

Verdade que não se pode deixar de registrar os esquemas de corrupção, recentemente divulgados no estado de SP (conhecido como trensalão) com a participação da Siemens alemã, Alstom francesa e outras, lembrando se tratar de São Paulo como um dos poucos estados a manter uma base de transporte ferroviário, mesmo que bem aquém das necessidades de sua população, majoritariamente ainda atendida por ônibus.

Como sabemos os problemas a questão da mobilidade urbana e do transportes públicos, em termos de quantidade e qualidade e foi um dos temas que gerou as grandes manifestações de junho de 2013 no Brasil. O assunto prosseguiu com debates no processo eleitoral recém encerrado.

Desta forma, o assunto continua em voga, enquanto no Brasil os empresários do setor reunidos em cartel continuam sem ter muito do que reclamar, a não ser e como sempre a vontade de mais lucros, numa razão inversa dos passageiros.

Por tudo isto, o meu espanto com a chiadeira de “patinho feio” do setor de transporte rodoviário aqui na Espanha. Não conheço o assunto em detalhes, mas não poderia deixar de trazê-lo ao debate a partir da reportagem e da realidade que se vê no cotidiano espanhol.

Ao final, relembro que não se trata de uma opinião de um "euro-centrado", daqueles que tanto combato que acham que tudo do exterior é bom e a nossa realidade ruim e periférica. Porém, a apresentação de um fato por parte de quem também julga pouco inteligente que não se observe como as coisas funcionam, mesmo em realidades tão distintas entre os trópicos, de forma a que se busque avançar, sem precisar, em todos os casos reinventar a roda, ou aprender apenas com os seus erros.

Com a palavra os entendidos no assunto e sigamos em frente!

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