sábado, outubro 18, 2014

Theotonio dos Santos: "Para frente ou para trás"

Eu tive o prazer de conhecer no ano passado o professor Theotonio dos Santos. Mais, tive a honra em ser seu aluno em duas disciplinas no Programa interdisciplinar de pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH/UERJ).

Além das aulas e dos debates sobre a Teoria da Dependência, do qual é um dos seus formuladores, a sua história de vida e lutas mundo afora me trouxeram um aprendizado e uma visão do processo histórico que não possuía.

A partir das suas sugestões de leituras e dos debates mais analíticos e "fora do quadrado" e da lógica que ainda impera no pensamento econômico, eu passei a tentar aprofundar conhecimentos sobre o Sistema Econômico Global (Sistema-Mundo) na contemporaneidade.

Penso que a partir destas análises, a observação e o entendimento sobre o desenvolvimento regional e das nações ganharam um novo patamar, assim, como minhas investigações sobre a relação porto-petróleo, dois setores cujas cadeias de produção são globais e com repercussões e interesses mundializados.

Assim, eu vi que ontem aqui em seu blog, que o professor Theotonio dos Santos postou do México, onde está no momento, as suas impressões sobre o atual momento político brasileiro.

Como também estou já há quase dois meses em Barcelona, na Espanha e identifico igual preocupação com os rumos que o nosso país terá como as eleições do próximo dia 26, como blogueiro, a partir deste breve preâmbulo, eu decidi trazer também para este espaço, as suas reflexões que defendo que sejam lidas e analisadas.

Penso que o depoimento do professor Thetonio dos Santos sobre o peso que o Brasil tem no cenário internacional tem um valor muito significativo, considerando inclusive, o fato dele dele deter a cátedra da Unesco sobre o tema "Economia Global" que tem valor e influência grande sobre o pensamento econômico mundial.

Não seria impertinente e nem demais lembrar que o professor Theotonio, junto com Folleto, Rui Marini, Vania Bambirra e FH foram os formuladores da chamada Teoria de Dependência.

Mais, que foi exatamente pela revisão desta teoria que FH alegou que o que tinha escrito não tinha mais valor. E assim, passou a assumir a posição estratégica de que o Brasil deveria assumir sua posição secundária no cenário internacional, negociando assim sua independência, ao invés de de assumir uma posição soberana de novos alinhamentos e articulações neste mundo. Interessante observar que o cenário atual nos leva exatamente à esta disputa pelo poder no país.

Este fatos históricos ajudam a reforçar a importância na leitura do texto:

"Para frente ou para trás"
"A política internacional brasileira dos últimos 12 anos trouxe uma esperança impressionante para os povos que buscam sair da condição de subordinação."
Theotonio dos Santos (*)

"Daqui do México, tenho a impressão de que o mundo está muito preocupado com o que passa no Brasil. Em contato com muitos amigos de vários países em um Congresso Internacional em que participo e no hotel que comparto com os membros de uma reunião da OEA tenho a oportunidade de sentir a preocupação generalizada com o processo eleitoral brasileiro. A política internacional brasileira dos últimos 12 anos trouxe uma esperança impressionante para os povos que buscam sair da condição de subordinação e dependência, particularmente os latino-americanos.

Para eles, o Brasil parece ter-se alinhado entre os protagonistas da política internacional representando os interesses da região. Contudo, está muito claro que os setores mais poderosos que controlam a imprensa e os meios de comunicação não veem com bons olhos este novo quadro internacional. Eles não querem mais poderes autônomos no mundo que ate agora controlavam. Por isto se pode observar um súbito alento para estes senhores com a perspectiva de volta ao governo do PSDB no Brasil. Podemos contar com todo tipo de acoes para garantir esta alternativa.

México é um lugar privilegiado para observar este fenômeno. Neste momento, as forcas hegemônicas do sistema mundial veem no México uma alternativa para disputar – pelo menos na America Latina - este protagonismo do Brasil. É impressionante constatar a diferença de tratamento para com o governo mexicano enquanto movem uma guerra psicológica no Brasil há mais de um ano na busca da derrota do PT. Vejam os leitores algumas pérolas deste tratamento:

México mantem uma das mais baixas taxas de crescimento nos últimos 12 anos (1,5%) mas melhorou para 2,4% em 2014, segundo previsões que se entusiasmam com a possibilidade de um 3,5% em 2015. Todos conhecemos o fracasso das previsões do FMI, mas no Brasil se fala de um “fracasso” do governo do PT com taxas de crescimento muito superiores durante o mesmo período.

Quanto às previsões, não são muito diferentes para os próximos anos. Mas, segundo o FMI, o México tem a vantagem de estar em “livre” associação com os Estados Unidos que estaria se recuperando da brutal crise que jogou para baixo a economia mexicana de 2008 até o ano passado pelo menos. Querem que o México assuma a liderança de uma tal de Alianca do Pacífico e aprofunde a subordinação que vem tendo com os Estados Unidos (com baixo crescimento, moeda em desvalorização, endividamento igual ao seu PIB, déficit fiscal e comercial permanente sem saída estrutural á vista).

México tem déficit fiscal há muito tempo, enquanto o Brasil tem superávit fiscal por pressão destas mesmas forcas políticas. Incrível, os reis dos “superávits” fiscais que nos impedem de investir e atender as necessidades de nossos povos, revelam uma disposição impressionantemente positiva com o novo governo do México. O departamento fiscal do FMI nos surpreende com as seguintes ponderações: “É legítimo que México utilize o déficit fiscal quando se tem momentos de baixo crescimento e, sobretudo, quando se usa para facilitar a acomodação orçamentária de reformas estruturais como as que se concretaram”

Em palavras mais simples para o leitor entender de que se trata com estas afirmações que aparentemente se colocam contra toda a teoria que manejam estes órgãos neoliberais: o México acaba de PRIVATIZAR O PETRÓLEO, havendo sido o primeiro pais da região a criar o monopólio estatal do petróleo no início da década de 1940, logo, tem direito a tudo. Para os amigos dos decadentes donos privados do petróleo mundial tudo vale. O FMI está pronto para voltar a meter-se no Brasil e ajudar a completar a obra privatizadora dos dois governos do PSDB. No fundo, este duplo tratamento que notamos aqui são partes da mesma política.

Querido leitor, seja qual seja sua origem social, étnica e de gênero: No Brasil estão jogando suas cartas duas correntes mundiais:

Uma que se coloca do lado de uma tentativa de “ELIMINACAO” da pobreza, de uma democracia participativa, apoiada na sociedade civil organizada, da soberania de todos os povos para defender suas riquezas naturais e só explorá-las de acordo com as melhores condições de vida dos povos afetados pela sua exploração, do planejamento do desenvolvimento humano e sustentado de todos os povos, da verdadeira liberdade de opinião e de informação, da associação cooperativa de todos setores sociais e de todos os povos, sobretudo dos povos latino-americanos e caribenhos organizados na CELAC, na UNASUL, na ALBA, na Comunidade Andina e particularmente no MERCOSUL que transformou profundamente o comércio brasileiro e a dinâmica da relação brasileira com o mundo americano. Este enfoque se entronca com a crescente unidade dos BRICS ( Brasil, Russia, India, China e África do Sul ) que abre caminho para uma nova economia mundial. Este é o novo BRASIL que a aliança de forcas comandadas pelo Partido dos Trabalhadores está tentando avançar no nosso país com um forte apoio de forcas sociais mundiais que estão em plena ofensiva no mundo.

Do outro lado, estão as forcas que respondem aos interesses do grande capital internacional e dos Estados Nacionais, partidos e grupos sociais que os apoiam e seguem. Eles são terrivelmente poderosos, mas como seus interesses entram em contradição com a grande maioria da humanidade não podem exercer este poder impunemente. Claro que lhes interessa sobretudo controlar a opinião pública mundial com o domínio monopólico dos meios de comunicação para impor a versão adoçada das vantagens do seu mundo. Eles utilizam como instrumento privilegiado desse controle as “guerras psicológicas” que visam criar o ódio contra as forcas do avanço da humanidade e o progresso.

Eles comandam a maioria dos órgãos de poder mundial para sustentar a economia mundial desigual e combinada que impõem sobre o conjunto do mundo. Mesmo assim não podem impor totalmente suas idéias e seus interesses. Exemplo disto é a decadência do Grupo dos 7 que pretendeu comandar a economia mundial a serviço da Trilateral, organização criada pelos grandes grupos econômicos internacionais dos Estados Unidos, Europa e Japao. Atualmente eles estão em plena decadência enquanto os povos que eles pretenderam deter estão em ascenso . Estados Unidos assiste sem entender, a China passar o seu Produto Interno

Bruto em 2014. Alemanha e Japao - que disputavam o segundo lugar entre os maiores PIBs do Mundo - lutam para não cair mais diante do avanço do PIB da India. Franca, Italia e Inglaterra lutam para manter os próximos lugares diante do crescimento do Brasil, da Turquia, da Russia e outras potencias emergentes. Eles estão em plena decadência e querem levar consigo os povos sobre os quais exercem uma influencia decisiva baseado nos seus colaboradores e agentes no interior de quase todos os países do mundo. Mas não se enganem. Eles não tem quase nada a oferecer aos povos, principalmente os mais pobres. O grupo que quer voltar ao poder são os mesmos que privatizaram a preco de banana as principais empresas estatais do pais para consumir entre eles mesmos as sobras desta operação de corrupção generalizada.

Agora querem fingir que estão do lado da Petrobrás que não puderam privatizar totalmente mas não se iludam: estão lutando violentamente para controlar o petróleo do Brasil que surpreendeu o mundo com o pré-sal, resultado do esforço tecnológico da universidade brasileira. Eles necessitam de um governo que os ajude a dominar toda esta riqueza. O PSDB já mostrou de que lado está. Você vai permitir isto?"

PS.: Atualizado às 15:06: para corrigir concordância verbal no texto de apresentação que o blogueiro faz sobre artigo do professor Theotonio dos Santos.

8 comentários:

Anônimo disse...

Ainda bem que o Sr. Postou o seguinte: " Numa tentativa de eliminar a pobreza".

Caro blogueiro não sejamos utopicos, a pobreza nesses países latino ameriano, está muito longe de ser erradicada.
Sem um bom sistem de ensino público e sem empregos de qualidade, não sairemos dessa pobreza.
E o PT teve 12 anos para melhorar essa situação e não fez. E, somente agora lembrou-se desses fatos e promete implementa-lo caso vença o 4° mandato.
Chega de promessas vazias.

Roberto Moraes disse...

Oh meu caro a sua métrica continua tão torpe quanto as informações do plim-plim.

Todos os índices melhoraram, abaixo do que gostaríamos mais melhoraram e isto tem a ver com as dificuldades com os estados (responsável pelo Ensino Médio) e prefeituras (Ensino Fundamental).

Neste governo criou-se o Fundo soberano o petróleo para a educação quando terá 10% do PIB para a educação. Hoje está na faixa dos 7%, nos anos FHC era de 5%.

O número de escolas técnicas federais criadas em 12 anos é maior do que o que havia sido feito em 100 anos. (Repito 100 anos, ou um século, desde o campista Nilo Peçanha o seu criador);

As vagas nas universidades públicas foram quase dobradas e o número de campus crescido em 50%.

O PRoUni deu oportunidade a todos que antes não chegavam nas universidades feitas para filhos da classe média alta e ricos.

Dobrou o crédito educativo.

O Ciências Sem Fronteiras criou mais de 75 mil bolsas para estudos no exterior que só terão repercussão e seus resultados avaliados em cerca de dez anos.

São fatos reais contra a época de FHC que pretendeu privatizar (chamavam de publicizar as Escolas Técnicas Federais). Sei bem disso porque fui diretor-geral da ETFC neste período de arrocho de orçamento, proibição de concursos e de ampliação das chamadas Unidades Descentralizadas criadas antes por Sarney.

Não tem jeito meu caro, não estamos falando de promessas vazias, mas de fatos e resultados reais. Visite as escolas. Converse com os alunos que agora sentem estímulo para estudar em cursos técnicos porque há empregos.

Um outra realidade que irá seguir avançando e não retroceder com Armínio Fraga arrochando salários de servidores orçamentos das universidades, etc.

É o bastante.

Roberto Moraes disse...

Esqueci, mas não devo deixar de falar do descaso com que trata da pobreza da América Latina. Os governos de uma forma geral têm melhorado a vida do povo de suas nações que se tornaram menos dependentes. Há muito por fazer para eliminar a pobreza, fazer inclusão social e avançar.

Juntos estas nações podem mais, porém, não com governos que só olham os ricos e tratam as classes que necessitam de apoio para ascensão social com descaso e recursos ridículos, só para constar.

Foi isto que fez a economia do no nosso país crescer e gerar empregos.

É o suficiente!

douglas da mata disse...

Acrescente a sua lista, caro Roberto:

ffhhcc vetou o PNE, Plano Nacional de Educação, que previa um aumento do investimento na pasta em relação ao PIB, e ficou estagnado em 3.4%

O PT já está em 6.7%, e se considerarmos os valores absolutos do PIB de ffhhcc e do PT é covardia:

ffhhcc tinha 3.4 % sobre 500 bilhões de reais de PIB, e hoje temos 6.7% do PIB de 2.3 trilhões de reais.

Anônimo disse...

Paises como a China e Índia que tem mais de 5 mil de história, ainda estão impregnados de pobres. Em paises ditos desenvolvidos existem pobres. Então falar em erradicar totalmente a pobreza seria fantasia.

Anônimo disse...

Não consigo entender a forma com a qual a ótica do blog permite discordar de tudo relacionado aos escárnios do PT. Parece-me que há um mundo a parte, um plano mental superior ao qual nós, simples mortais e analfabetos políticos creio, habitamos. Este mundo deve ser o mundo irreal, abastecido pelas tendências difamatórias da mídia "global", discordante da realidade política governista. Não consigo entender até onde vai a famigerada forma de "tapar o sol com a peneira", apenas por um ideal político defendido a meu ver de forma ignorante, distante tremendamente da realidade a qual as mídias nacionais e mundiais informam "ou desinformam", dependendo da ótica. Creio que negar tanta ingerência assim é negar a própria história social atual e pretérita, atitude bem própria daqueles que vivem em suas torres, protegidos por suas funções públicas, logicamente, meritórias, sem dúvidas, entretanto, bem confortável em detrimento do desconforto de uma nação que sufoca pelos escândalos de um PT que dá ascos a qualquer um, menos vocês.

Anônimo disse...

E a Petrobras foi para o brejo. Será proibida de ter ações vendidas nos EUA, após as investigações das maracutaias do Paulinho do Lula. Que vergonha Brasil!

Ao que parece, o blogueiro é daqueles que aceitam o "rouba mas faz". Mas no caso do PT o mais correto é dizer: "rouba mas, teoricamente, faz". Na verdade é uma mentirada danada.

Roberto Moraes disse...

Oh, caro comentarista,

Você como leitor assíduo do do blog sabe da posição crítica do blogueiro sobre diversos assuntos do governo.

É só conferir os arquivos de dez anos do blog. As cercas de 3 mil visitas diárias do blog atestam a forma do blogueiro se posicionar.


Não faz como a mídia comercial se fingindo de neutro ou imparcial.

Porém, num momento especial como este há que se separar as coisas. O blog é contraponto da mídia comercial que mesmo fingindo de neutra é porta-voz partidária de uma candidatura, escondendo mal-feitos do Aécio e dos tucanos paulista (Mensalão mineiro e trensalão) entre outros e trata, como mostra a séria pesquisa do "manchetômetro) como seu opositor.

Por isto não há motivos para tentar bancar de neutro. A opção tucana é o que de pior pode ter par ao futuro do país e do continente.

Esta é a linha do blog neste período. Se não gosta fique exclusivamente com o plim-plim e com a Veja ou outros jornalões.

Te garanto que não perderei nada com isto. Se queres debater continuamos mesmo que a cantilena seja a mesma dos editoriais e pautas destes que ganham para isto.

A The Economist em nome da banca internacional quer o "Planalto" para seus negócios por isto apoia Aécio, o seu candidato. A Shell, Chevron e BP quer o pré-sal, por isto se comprometeu e financia o seu candidato o Aécio e você reclama deste bloguinho, rs.

Mesmo com a maior soberba do mundo, eu não perderia a lucidez de ter a pretensão de achar que faço com algum contraponto a estas gigantes da banca mundial.

Porém, não me venha aqui pedir isenção diante de tudo isto porque assim, quem se torna risível é você.

É o bastante. Sigamos em frente!