quarta-feira, agosto 28, 2013

Consenso ou exposição de conflitos: o que é melhor para a sociedade brasileira?

Muito se fala na falta de habilidade política de Dilma para a condução do país. Da mesma forma, muitos criticavam a habilidade do Lula, em sua busca permanente pelos consensos e pela construção de amplos arcos de alianças que de certa forma produziu quando esteve à frente da Presidência da República.

A grosso modo, parece-me que se tratam de atributos e formas diversas de se abordar os múltiplos e conflitantes interesses, presentes numa sociedade, no caso específico desta que habita o nosso imenso território brasileiro.

Neste aspecto o antropólogo Sérgio Buarque de Holanda, expôs, em seu tradicional livro "Raízes do Brasil", a figura simbólica do "homem cordial", do jeitinho brasileiro, presente como expressão da nossa informalidade, do nosso modo de agir e ser e que opta pela busca das soluções flexíveis, apostando nos acordos, nas mediações, ou mesmo, no consenso. Sem nenhuma dúvida, o ex-presidente Lula, com acertos e erros, sempre encarnou, exercitou e apostou neste estilo.

Ao contrário, também com acertos e erros, a presidenta Dilma, parece, não sei se intencionalmente ou não, preferir deixar os conflitos fluírem, a sociedade e os interesses se manifestarem, os argumentos serem postos à mesa e só aí, com tudo às claras, a mediação ser procurada para o encaminhamento de solução por acordo, ou por maioria, ou pelo exercício da representação do cargo político obtido no voto popular.

É verdade que a grande maioria, independente da posição política que ostenta, a favor ou contra o governo (suas propostas, programas e projetos), se espanta com a exposição dos conflitos, com o esgarçar de posições, nestas épocas, felizmente, de amplas liberdades democráticas e de redes sociais ativas e acessáveis, por milhões de pessoas que expõem quase instantaneamente suas posições, paixões e até seus recalques.

Todo este preâmbulo surge, a partir da reflexão da forte e extensa polêmica gerada pelo programa "Mais Médicos". Poderia citar outros casos anteriores em que processo semelhantes se deu e os questionamentos sobre a falta de "habilidade" tornaram-se quase que regra e discurso único.

Pois então, ainda neste espaço de reflexão indago: seria melhor um acordo negociado na linha do consenso, ou, a atual polêmica?

O debate parece estar expondo posições a níveis e ideologias que muitos desconheciam até de si próprios. É natural que do debate, os extremos se coloquem, mesmo que como posições para dar a noção da totalidade do problema.

Em meio a este processo é natural que indaguemos: para a sociedade brasileira qual seria a melhor forma de nos conhecermos e de enfrentarmos nossos problemas e dilemas? A exposição dos conflitos ou a sua negação?

O acordo e o consenso adormecem a compreensão das diferenças e inibe o debate esclarecedor e o aprofundamento de posições que podem se tornar princípios em nossa sociedade.

É verdade que o debate aberto além de nos expor, tende a causar espanto e perplexidade na sociedade, mas, simultaneamente, permite, que enfrentemos nossos demônios, muitas vezes encobertos pelo jeitinho e pela falsa cordialidade quase consensuada como forma "correta" e única de encaminhar as soluções, sejam no plano particular de nosso grupo de convívio familiar e de trabalho, organizações mais próximas de nossa vivência, ou mesmo da sociedade e do país de uma forma mais ampla e universal.

Os fatos e as interpretações que eles geram e que estamos assistindo, a partir da vinda dos médicos cubanos no "Mais Médicos", poderão se tornar paradigmáticas, do tipo de sociedade e princípios que desejamos que prevaleçam em nosso país.

Não vou lembrar Hegel para refletir sobre aquilo que é real e sobre o que seria fenômeno, muito menos entre o que seria particular (deste caso) para o que seria universal como princípio. Porém, vou insistir na análise da categoria mediação com "visão historicizada" deste caso específico, situando-o no tempo e no espaço atual, como forma de construir não apenas políticas públicas, mas novas formas de organizar a sociedade de maneira menos concorrencial, mais humanista e solidária.

É provável que no calor do debate político do presente não tenhamos a dimensão do que isto possa representar num processo histórico em que a referência não seja a de um mandato de representação política, mas, de construção de nação, de povo e mais ousadamente, de civilização. Mas, isto já seria uma outra e longa conversa.

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