domingo, setembro 07, 2008

Futuro, passado e presentes simultâneos

O artigo do colunista Fernando Abrucio na revista Época desta semana é bastante interessante. Numa época em que é difícil achar quem faça análises e pense no longo prazo sob o ponto de vista estratégico e de gestão pública, este artigo é uma boa provocação. Sua segunda parte, em que ele relaciona esta avaliação de cenários com um problema atual dos grampos, pode ser descartada, não por não ter importância, mas porque, aos olhos do blog, ela retira a importância do que foi dito antes e que serve, não apenas para o âmbito de toda a nação, mas também no nível dos municípios. Numa cidade rica, o momento é de acabar com os problemas do passado e do presente, para tocar um futuro, menos patrimonialista, corrupto e desigual. Com esta ótica leia abaixo os parágrafos iniciais do artigo que tem o título dado a esta nota: Futuro, passado e presentes simultâneos “O Brasil é um país onde passado, presente e futuro convivem no mesmo tempo histórico. Resquícios de forte atraso permanecem no trabalho infantil ou no sistema político-administrativo, principalmente nos municípios. Enfrentamos problemas tipicamente contemporâneos, como a questão metropolitana. E o futuro bate a nossa porta, em temas como as células-tronco ou a necessidade de definir como será explorado o petróleo do pré-sal e para quem serão distribuídos seus recursos. A leitura sobre a simultaneidade dos tempos no Brasil e alhures já apareceu em grandes pensadores. O que me levou a retomá-la foram dois eventos: uma excelente palestra do ministro Mangabeira Unger sobre a gestão pública brasileira e o recente episódio da escuta telefônica envolvendo personagens dos Três Poderes da República. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República reuniu um grupo de especialistas para construir uma agenda de longo prazo para a gestão pública. O planejamento de ações futuras, independentemente de quem venha a governar o país, e a riqueza dos debates já valeriam pelo encontro. O mais interessante foi a palestra do ministro, que mostrou como a administração pública brasileira precisa enfrentar, ao mesmo tempo, questões dos séculos XIX, XX e XXI. No terreno do passado, é preciso combater os resquícios do patrimonialismo, que vai muito além do nepotismo. O que nos falta, em boa parte do aparelho de Estado, é a constituição de uma burocracia meritocrática. Esse problema é mais grave nos Estados e, principalmente, nos municípios, exatamente os níveis que executam a maior parte das políticas públicas. Entre os instrumentos de gestão do século XX, o ministro destacou o papel das técnicas gerenciais. O Brasil teve avanços nesse terreno nos últimos anos, como demonstra o exemplo do governo eletrônico, usado em compras governamentais. Mas milhares de escolas e hospitais públicos ainda funcionam como repartições arcaicas, morosas em sua rotina e com atendimento precário para os cidadãos mais pobres. Mangabeira ressaltou a necessidade de a administração pública buscar o paradigma do novo século, marcado pela maior importância da democratização do poder público e pelas parcerias com a sociedade. O ministro propôs que todas as dimensões sejam enfrentadas simultaneamente, pois não há como esperar que o passado seja resolvido para atuar no presente, nem pensar o futuro sem combater o legado perverso da História”.

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