quarta-feira, junho 24, 2009

A África

O jornalista Aydano André Motta que mantém um blog vinculado ao espaço do Ancelmo Gois na internet, chamado "O chope do Aydano" fez uma feliz crítica sobre os pré-conceitos da Fifa com os problemas daquele continente que merece ser lida e analisada por mais gente. Assim o blog transcreveu parte do texto abaixo dizendo que o mesmo pode ser lido na íntegra aqui: "De boas intenções os caminhos do inferno estão engarrafados - mas já na Copa das Confederações, o preconceito, sólido como sempre. Primeiro, foram as críticas às vuvuzelas, as cornetas que o público usa nos estádios do país. O barulho é aborrecido, sim - mas bem menos do que o trânsito de Paris ou Nova York. E o povo africano gosta. Logo, jogo jogado. O problema maior veio ontem, com a ação de um pedinte, um flanelinha, que ousou se aproximar de um jornalista alemão e pedir um trocado. Ora, incomodar um visitante com a carência alheia, onde já se viu? (Houve assaltos em hoteis, mas nenhuma cidade do mundo, rica, pobre ou remediada, pode reclamar de tal mazela.) Se a Fifa e seus seguidores não queriam avistar pobres - afora um ou outro imigrante -, ficassem encastelados nos cinco estrelas europeus e americanos. É aquela velha história, "não sabe brincar, não desce pro play". A ideia de levar o mundial de futebol à África só faz sentido se for para enfrentar a tragédia social que paralisa o continente com indicadores de 200 anos atrás. Assim, o planeta bola vai desembarcar na África do Sul para dar esmola, encarar a violência urbana, driblar a falta de infraestrutura urbana, aturar as vuvuzelas - e ajudar um pedaço do mundo sufocado pela mais pesada miséria de nosso tempo. Se não for por isso, o circo da Fifa não precisa nem se abalar. Pode ficar no bem-bom da Europa, porque a Copa do Mundo, sem a devida recompensa social aos anfitriões, torna-se uma desnecessidade".

2 comentários:

Jornalista_desempregado disse...

É gozado mesmo o que fazem essas competições. Elas partem para a democratização, expandindo fronteiras e impondo a necessidade das estrutruras de altíssima qualidade - mesmo que em seu entorno sejam lugares de baixíssimo nivel social.

Para se ter uma ideia, só para se ter idéia, os jogos de Copa sao sempre disputados nos seguintes horarios locais: 15h; 18h e 21h. Sendo assim, 2/3 precisam de energia elétrica para ilumina-los. Sabem qual é a exigencia de "lux" da Fifa para seus jogos? 2.600 lux. Voces gostam do Maracanã? E do Engenhão? Bem iluminados. Pois é. O "maior do mundo", com toda sua pompa, nao tem mais que 1.200 lux e o Engenhão chega a 1.000 sofrendo.

Lancei essa informaçao para que se tenha uma idéia. Uma ideia de que, nem no país do futebol, tanto tecnologia faz falta sempre. IMAGINEM na Africa. Lá, o futebol é o terceiro esporte, atrás do Rugby e do Cricket. Serão 10 estádios moderníssimos; 32 centros de treinamentos para as seleções em grandiosíssima qualidade. E o povo passando fome.

Depois de nossa experiencia propria com o Pan do Rio, em que nem lugares em que os esportes mais comuns nao conseguem manter-se (o velódromo de ciclismo hoje é ocupado pela equipe de ... JUDÔ!!!!) Façam ideia do que será amanhã a Africa.

Ou será q vao dar "vuvuzelas" pro povo soprar e comer?

Marcelo Bessa disse...

Olá, Roberto.
Não concordo com o texto do Aydano. Não é a primeira vez que ele inventa uma discriminação para escrever um texto (quando escreve só sobre futebol ele é bem melhor).
Creio não haver nada de errado na reclamação da FIFA com relação às cornetas (vuvuzelas), porque elas são muito mais barulhentas do que duas torcidas juntas, são mesmo irritantes e - o verdadeiro motivo, que nada tem a ver com preconceito - atrapalham o espetáculo, que é mundial, não só africano.
A comparação com o trânsito de Paris, que é ainda mais barulhento, cria um suposto preconceito e enfeita o texto ("joga para a torcida"), mas não tem nexo: a FIFA levou a Copa para a África (quando havia interesse de grandes potências no evento) exatamente para lutar contra o preconceito (ela não foi obrigada a aceitar a África por causa de um sistema de cotas, por exemplo). Pelo contrário: a FIFA impôs o rodízio. Isso é preconceito?
E outra: a Copa do Mundo é um evento da FIFA, não da África do Sul. Logo, quem manda é a FIFA.
A Copa de 2014 será no Brasil, que não tem, ainda, estrutura pra recebê-la. Se até lá continuarmos como estamos, vamos ver o preconceito que será inventado para justificar o que estiver errado.
Grande abraço.