domingo, abril 27, 2014

Eleição de presidente da República no Brasil

Não sei se é possível falar em regularidade dos números considerando apenas três eleições presidenciais depois de 2002 no Brasil. A discussão embora estatística, tem leitura, fundamentalmente, política.

Pois então vamos aos números e em seguida nos daremos o direito de fazer algumas digressões sobre um quadro possível para a eleição de outubro deste ano de 2014.

Nas três eleições 2002, 2006 e 2010 o pleito foi decidido apenas no segundo turno. O(A) vencedor(a) foi quem ficou na frente já no primeiro turno. Aí entra uma espécie de regularidade, mesmo que limitada, dos números. Vamos ver a tabela abaixo para depois fazermos as considerações.


Observando os percentuais dos candidatos, no 1º e 2º turno nas eleições de 2002, 2006 e 2010 e trabalhando, mesmo que de forma precária, com as pesquisas de 2014, há quase um semestre das eleições é possível fazer uma série de conjecturas:

1) Nenhum candidato depois de 2002 venceu até hoje as eleições no primeiro turno. A eleição em que o primeiro colocado chegou mais perto desta hipótese foi em 2006, quando Lula foi reeleito, quando a candidatura terceira colocada recebeu o menor percentual de votos de um terceiro colocado nas eleições presidenciais até hoje. O fato se deu com a ex-senadora Heloísa Helena, na época, saída há pouco tempo do PT e com o lançamento recente de seus partido o PSol. Na eleição de 2014, as pesquisas indicam no terceiro lugar até aqui, o candidato e ex-governador Eduardo Campos, de um partido recém coligado com o PT, mas, num partido estruturado e governando mais quatro estados brasileiros.

2) O menor percentual alcançado pelo(a) candidato(a) vencedor(a) no 2º turno foi com a atual presidenta e candidata à reeleição Dilma Roussef que alcançou 56%.

3) Os percentuais de votos válidos da pesquisa na coluna 2014 é oriunda da pesquisa do Ibope do dia 16 de abril de 2014. (Aqui seu resultado) Repetindo votos válidos, logo excluindo a enorme soma de percentual de indecisos e intenção de votos brancos e nulos que somados totalizam 41%;

4) Com três candidatos com maior potencial de votos, diminuem as chances da eleição ser resolvida (o que seria a primeira vez no primeiro turno), apesar de nas três eleições, o percentual do(a) vencedor(a) no primeiro turno ter ficado sempre perto desta possibilidade, variando entre 46,4% e 48,6%.

5) O menor percentual de votos do primeiro colocado no primeiro turno até hoje, foi no ano de 2002, quando Lula era oposição, quando chegou a 46,4%. Mesmo considerando que o quadro em 2014 é diverso dos anteriores é possível estimar que na hipótese que tende (pelos motivos acima ser a mais provável) da eleição ir para o segundo turno, é pouco provável que a candidata à reeleição possa somar um percentual menor que os 46,4%, considerando a massa de pessoas atendidas pelos diversos programas governamentais, o arco de aliança de partidos, mesmo com duas defecções que redundam no candidato e vice (campos e Marina (ex-aliados de Lula e Dilma). No limite estaríamos falando de algo próximo a 45%.

6) Se a estimativa estiver correta, estaria-se falando da necessidade dela conseguir 5% de votos do então 3º colocado. Para este objetivo, é mais interessante que se tenha o candidato do partido que vem polarizando a eleição presidencial nestes últimos quatro pleitos que é Aécio do PSDB e não Eduardo Campos.

7) Pela última pesquisa do Ibope, Dilma tem agora, em votos válidos 59,7%, um pouco mais do que teve no segundo turno da sua eleição no 2º turno em 2010: 56%.

8) Outra possível e necessária estimativa é quanto aos votos ainda em disputa. Pelas últimas pesquisas de 2014, inclusive a citada na coluna de 2014 acima, há um grande número de eleitores indecisos que dizem, em sua maioria que querem mudança, mas, pela resistência em optarem pelas opções de oposição podem estar sinalizando que querem mudanças de governo, mas, talvez, não de grupo governante. Voltando para os votos em disputa (considerando os percentuais de votos válidos) pode-se inferir a presidenta Dilma teria sedimentado um pouco mais de 40% dos votos, enquanto os candidatos da oposição quase 30% dos votos. Se isto for real, estaríamos então admitindo que a disputa dos próximos quatro meses, sendo dois e meio após a Copa do Mundo, seria por cerca de 30% dos eleitores sem definição de votos.

9) Há quem julgue que o resultado da Copa do Mundo poderia interferir nas eleições. Isto é uma questão que volta sempre ao debate, porque eleição presidencial e Copa do Mundo acontecem de 4 em 4 anos e no mesmo ano, sendo o campeonato mundial de futebol três meses antes do primeiro turno. Na prática, a maior parte dos analistas sempre refuta a hipótese da população brasileira relacionar uma coisa a outra. Porém, é fato, que este ano a Copa do Mundo é aqui em nosso país e desta forma, julgam alguns, que possa sim haver alguma interferência de um assunto em outro e até mesmo, os candidatos podem ser tentados a criar fatos relacionando uma coisa a outra, com todos os riscos que isto significa para suas imagens e, consequentemente para a sua campanha.

10) Observando o que está listado até aqui pode-se arriscar que teremos uma eleição difícil e disputada, possivelmente, com a menor diferença entre vendedor e vencido até aqui. (Este percentual de diferença já foi no máximo de 22%, em 2002, e o menor de 12%, em 2010).

11) Esta hipótese tende a reforçar o tiroteio e a disputa pelos votos ainda não sedimentados. Sempre há quem julgue que a oposição acirrada e agressiva dê votos, mas, não tende ser assim, especialmente, entre os eleitores indecisos, ao contrário daqueles partidários e com votos já decididos. Estes vibram com os embates, enquanto os indecisos tendem a agir de forma diferente e decidir a eleição. Este outro universo, em última instância, depois de observar as candidaturas vai avaliar se a sua vida melhorou ou piorou nos últimos quatro anos e qual o risco desta realidade atual se modificar para o futuro imediato.

12) Uma eleição muito acirrada e disputada tende a se polarizar entre situação e oposição, mas, principalmente entre os principais candidatos. No caso, isto tende a diminuir o poder de levar a eleição para o segundo turno, que depende muito da votação do candidato "terceiro" candidato que é aquele que não polariza. Por isto, há quem avalie que a relação estreita entre Aécio e Campos tende a se romper caso eles possam efetivamente disputar o lugar para uma possível disputa de segundo turno.

13) Para concluir: Um acirramento e uma polarização mais forte do que a que já se conhece, entre PT x PSDB, parece ser menos interessante para os tucanos, por conta do risco da disputa ir para uma escolha entre os que olham e se preocupam mais com o social e os que possuem base eleitoral maior na classe social mais elevada. Caso se confirme mais um embate assim, de certa forma, retomaremos às eleições anteriores.

14) O resultado deste tipo de disputa, até pelo seu esgotamento tende a levar a mudanças e reformas de maior profundidade por qualquer dos vencedores. Seja com Dilma, com um governo mais à esquerda com solidificação de maior e mais ampla base social, seja Aécio (ou Campos), com governos mais liberais e menor participação do estado na vida dos brasileiros, como têm sistematicamente defendido nos debates políticos e como desejam seus apoiadores dentro e fora do país. Aliás, este aparentemente é o motivo principal que faz com que a grande mídia comercial brasileira e internacional (em especial a britânica The Economist) tenha o discurso único e quase uma atuação partidária como temos vistos diariamente.

Enfim, acompanhemos os desdobramentos.
PS.: Faremos depois uma breve análise sobre as eleições no Estado do Rio de Janeiro.
PS.: Atualizado às 16:52: Para acrescentar um comentário, na última frase desta postagem.
PS.: Atualizado às 19:48: Para corrigir a primeira fase do item 1, a partir do comentário do Manoel Ribeiro, já que a análise se refere ao período de 2002 a 2010/2014. Sendo assim, não estava correta a informação que desde a redemocratização a eleição presidencial nenhum candidato tinha vencido no primeiro turno, o que efetivamente aconteceu com FHC em 1994 1998.

2 comentários:

Manoel Ribeiro disse...

Roberto, após a redemocratização nenhum candidato venceu para presidente no Primeiro turno? Tem certeza? 1994 e 1998 não contam como democracia???

Roberto Moraes disse...

Tem razão Manoel. O blog errou na informação de que desde a redemocratização não houve vencedor no 1º turno. Em 1994 FHC venceu Lula por 54% x 27% Lula, e em 1998 FHC 53% x 32% Lula.

Desta forma, o texto será corrigido dizendo que desde 2002, período na verdade abordado nas tabelas e em nosso texto, nenhum candidato venceu a eleição no primeiro turno.

Agradeço pela correção.