quinta-feira, agosto 18, 2016

Rússia segue com a maior produção mundial de petróleo, com Arábia Saudita em 2º. Brasil segue crescendo

Apesar das dificuldades geradas pelos preços reduzidos, a Rússia segue tendo a maior produção de petróleo do mundo em julho, com o volume de 10,65 milhões de barris por dia (bpd). Isto é um pouco menor do que a produção de junho que tinha sido de 10,71 milhões bpd.

Antes da fase de colapso dos preços do ciclo do petróleo, a Rússia,  Arábia Saudita e EUA brigavam, quase empatados, pela maior produção mundial. Em julho, a Arábia Saudita ficou em segundo lugar com 10,67 milhões bpd, um pouco mais do que os seus 10,56 milhões bpd de junho.

Já os EUA se distancia deste patamar a cada dia, por conta dos custos da produção de petróleo e gás de xisto. No final de julho a produção americana estava em 8,5 milhões de bpd, quando em 2014 chegou a mais de 10 milhões de bpd e no ano passado esteve em torno dos US$ 9,5 milhões bpd.

O preço do barril como era esperado segue equilibrado entre US$ 40 e US$ 50, o barril. São grandes as perspectivas que fique em torno disso, no máximo até US$ 55 ou US$ 60, por pelo menos mais dois anos, com os EUA atuando como uma espécie de regulador. Quando o preço sobe mais um pouco, a produção de xisto é retomada, as importações americanas reduzem um pouco e volta o excesso de petróleo no mercado mundial.

A Rússia deve prosseguir aumentando a sua produção porque ampliou seu mercado, diante do aumento de produtividade conquistado com a redução de custos gerados pela variação cambial, fato comum, na inversão de fases do "ciclo petro-econômico", nos países produtores.

Em julho, a produção dos países da Opep (agora 14 nações-membro) cresceu em relação ao total da produção mundial atingindo 33,11 milhões de bpd, estando em torno de 36%, quando antes esteve abaixo de 1/3 da produção mundial, estimada entre 93 milhões e 95 milhões de bpd. Números sempre controversos por conta do jogo de disputa de mercado e especulações.

No Irã a produção segue subindo e atingiu em julho a 3,85 milhões de bpd, o maior volume desde 2008. Segundo o planejamento do governo iraniano a previsão é de chegar a 4,6 milhões de barris por dia em cinco anos. Assim, há uma grande disputa por mercado e preços entre os países árabes da Opep.

A diferença entre a demanda e a produção mundial segue em torno dos 1,3 milhões de bpd de excesso. Os estoques de petróleo cru e derivados também continuam grandes, embora o preço do barril para futuro em outubro tenha hoje, novamente passado dos US$ 50, o barril. Em parte esta variação para cima está ligado às expectativas com nova decisão da Opep.

Uma mudança nesta previsão pode ocorrer se houver algum acordo da Opep e outros produtores prevista para setembro, na Argélia. Segundo o ministro de Energia da Arábia Saudita, Khalid Al-Falih, "existe uma oportunidade para a Opep e outros grandes exportadores de se encontrarem e discutirem a situação de mercado, incluindo possíveis ações para estabilizá-lo".

Sobre a produção brasileira de petróleo, a Agência Internacional de Energia (AIE) continua revendo para cima as previsões da Petrobras. Para 2017, a AIE está prevendo a produção da Petrobras em 2,88 milhões de bpd em média, maior do que os 2,7 milhões bpd de julho. 

É bom que se diga que estrategicamente, no atual contexto do ciclo petro-econômico, o aumento a "qualquer custo" da produção nacional de petróleo, não parece uma boa alternativa.

Para a AIE e para a Opep, o Brasil está entre as nações com o maior potencial de crescimento de produção do mundo, sendo a Petrobras o carro chefe de tudo isto, especialmente, com a exploração das reservas do pré-sal, cuja produtividade por poço, é geologicamente, fenomenal, considerando a profundidade dos campos, as tecnologias e logísticas envolvidas.  

Assim, é cada vez mais evidente o papel das reservas brasileiras na disputa da geopolítica da energia, com reflexos no aproveitamento das vulnerabilidades econômicas e políticas no país. Seguimos acompanhando.

2 comentários:

Anônimo disse...

Num cenário de desaceleração da economia mundial, onde a capacidade produtiva ociosa tem aumentado, não parece uma estratégia inteligente sair vendendo cada vez mais campos de petróleo. A ANP vem, nos últimos anos, leiloando campos, ou seja, forçando um aumento de produção num cenário de mercado saturado de produto. Não parece uma atitude saudável ao Brasil, independente de uma análise de estatal ou capital privado. Como o Sr enxerga este posicionamento de leilões contínuos de campos em um cenário global como o descrito?

Roberto Moraes disse...

De forma bem resumida, eu entendo que há neste ponto um interessante e estratégico debate.

Entendo que para uma melhor definição sobre o tema é preciso se compreender com mais profundidade o fenômeno que tenho chamado de "ciclo petro-econômico".

Ao contrário do que alguns imaginam o ciclo não é algo natural. Ele é produzido em diferentes dimensões e atinge de formas diversas as nações e as regiões, conforme suas condições de mais consumidora e/ou produtora.

As duas fases do ciclo petro-econômico permitem ganhos ou criam perdas extraordinárias, que interessa ao jogo da geopolítica e de controle de uma(s) sobre outras nações.

O caso específico do Brasil, independente dos que possuem a visão, mais ou menos ligada ao mercado vai pender para um lado.

Entre os que enxergam o mercado como definidor das demais políticas, se defende que se abra o máximo o setor aos leilões e se possa produzir tudo e agora, em troca dos royalties, taxas e impostos.

Para reforçar esta argumentação tem sido usado o discurso que em breve o petróleo (carbono) deixará de ser estratégico em termos energéticos e que por isso seria mais interessante entregar tudo e aproveitar logo.

Opinião inversa desta (e me incluo nela) entende que esta premissa (mesmo que desejável) é falsa dentro de um cenário entre 3 e 5 décadas para frente.

O grande avanço da energia renovável tem sido na geração de energia elétrica e o maior uso do petróleo é disparado como combustível para transporte de pessoas e cargas e isso não mudará de forma significativa nos próximos 30 a 50 anos. O maior uso do gás natural (GN) que é menos poluente ajudará nesta direção.

Assim, eu volto à discussão da importância do ciclo petro-econômico. É ele quem pode ajudar a definir as políticas de maior produção ou de contenção parcial das reservas.

A fase de colapso do ciclo inibe o avanço da exploração e a descoberta de novas fronteiras exploratórias, ao mesmo tempo que aumenta de forma extraordinária a produtividade com a redução de custos de insumos, contratos de serviços, etc.

Estou acabando de escrever um artigo que analisa este fenômeno do ciclo petro-econômico e suas características: transescalar e multidimensional. Nele, uso o argumento de que o seu conhecimento em mais profundidade é indispensável para formulação de políticas para o país, tanto em termos de definições estratégicas para o setor, como de entendimento sobre como manejar a indústria do petróleo como "eixo de desenvolvimento" entre oportunidades e riscos.