quarta-feira, março 25, 2015

Moradia popular é um direito, mas, eu fico espantado

Não há quem não reconheça a necessidade dos governos investirem em moradias para as famílias de baixa renda. Além disso, se reconhece que não é fácil conduzir um programa habitacional de massa que atenda a milhões de pessoas, ofereça além da casa, dignidade e inclusão social.

Porém, ao ver milhões de moradores sendo empurrados para a periferia das metrópoles e cidades de porte médio, num processo de especulação nas áreas mais centrais, que ajudaram a tornar os imóveis ainda mais caros, a luz amarela da atenção se acende.

O espanto fica ainda maior, quando por acaso, observo o balanço de 2014 da empresa MRV Engenharia que se apresenta com atuação em desenvolvimento imobiliário, incorporação, lançamento e vendas.

Na abertura do balanço está exposto em letras garrafais que hoje, 1 em cada 300 brasileiros vive em um MRV. Que seus contratos em 2014 alcançaram R$ 6 bilhões, com uma receita líquida R$ 4,8 bilhões. Lucro líquido de 720 milhões e um caixa ao final do exercício de R$ 567 milhões, com a venda só no ano passado de 41,3 mil imóveis, em 128 municípios de 19 estados brasileiros.

Evidente que numa sociedade capitalista ninguém pode ser contra o lucro. Porém, se espantar com seu tamanho, mais que um direito, acaba sendo, um dever. Ainda mais, ao constatar a baixa qualidade da maioria desses imóveis. Também é reprovável se identificar o encarecimento que as moradias tiveram, seguindo  numa direção inversa do que seria normal, numa relação usual entre oferta e procura do mercado.

Tudo isso me leva a fazer algumas dessas indagações, mesmo sabendo que se caminha para o atendimento da meta do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) chegar a um universo de construir 2,75 milhões de moradias.

Ter delegado a escolha das áreas de execução dos projetos às construtoras foi um erro. A falta de projetos arquitetônicos que levassem em conta especificidades e rompesse os padrões homogeneizados e longe do centros urbanos onde está a maioria esmagadora dos equipamentos públicos é outro equívoco que acaba por contribuir para mais apartações sociais, já grandes, em nossas urbes.

Ótimo que o direito à moradia tenha passado a ser pauta do governo central, em atendimento às classes de renda mais baixas, ao contrário de antes. Porém, ainda assim, há muito que ser ainda aperfeiçoado e regulado pela gestão pública.

Penso que essa deveria ser a linha para que o atendimento da demanda dos mais necessitados das políticas públicas possam ter o direito não apenas à moradia, mas à uma cidade para todos, onde simultaneamente se tenha moradias dignas e cidades habitáveis e integradas socialmente.

Temos adiante uma estrada longa, mas é preciso reconhecer os avanços, sem deixar de ser crítico. Sigamos em frente.

PS.: Atualizado às 15:12 para ajustes no texto.

3 comentários:

Anônimo disse...

Estamos indo na contramão do que anda acontecendo em cidades desenvolvidas pelo mundo. Os governantes destas cidades se preocupam em destinar moradias mais acessíveis em áreas consideradas nobres, para que todos possam partilhar dos mesmos benefícios. O que anda acontecendo em cidades como Campos, só contribui para maior distância social, caos no transporte, enormes distâncias para deslocamentos, etc.

Anônimo disse...

Porque a prefeitura não murou as casas populares, afim de evitar o desastre construtivo observados nas casas muradas sem qualquer critério. Cadê as praças e árvores nesses locais?

Ainda por cima, um imóvel velho e mal projetado, ou um novo com materiais de segunda, em um bairro bom, custam mais caro que uma casa nos EUA.

Anônimo disse...

É preciso repensar o Brasil. As cidades, os valores. Putz... estamos tão longe disso que chego a desanimar.