sexta-feira, março 06, 2015

Soffiati pontua duas boas oportunidades de aproveitamento de água que ajudaria a superar crise hídrica


Abaixo o blog publica mais um artigo do professor e pesquisador Arthur Soffiati. Ele identificou e descreveu, pontualmente, duas boas oportunidades de evitar o desperdício e aproveitar a água em Campos. Confiram:

Desperdício de água 

Arthur Soffiati 

Poderia estar acontecendo em qualquer lugar do mundo em que a água ainda é um bem abundante e deve estar acontecendo em várias partes do mundo. Mas acontece também em Campos dos Goytacazes, que vive a mais ingente crise hídrica desde que os registros de chuvas e estiagens começaram a ser feitos com regularidade, em 1930. Campos está inserida na Região Sudeste, onde esta crise se abate com inclemência, malgrado as chuvas pontuais dos meses de janeiro e fevereiro. Embora a crise não seja tão aguda aqui a ponto de exigir o rodízio ou o racionamento de água para abastecimento público, não há como negar que a falta de chuvas afeta a agropecuária.

Um desperdício de água acontece há quase um mês nas obras de rebaixamento do solo para a construção de alicerces que sustentem um edifício do Condomínio Maxime Residence, sob responsabilidade da empresa RMZ Engenharia Ldta., na Rua Doutor Pereira Nunes. Passei por lá hoje (06/03/2015) e o bombeamento de água subterrânea continua, a fim de esgotar água de subsolo para o início das obras. Em feverereiro também estive lá a convite do Site Ururau, que publicou matérias sobre o tema (http://www.ururau.com.br/cidades53782 e http://www.ururau.com.br/cidades53888). São vinte mil litros por hora. A água desperdiçada continua correndo pela sarjeta até encontrar bueiros da galeria de águas pluviais e, por ela, chegar ao Canal Campos-Macaé. Por ele, segue até o Canal de Tocos, onde penetra e alcança a Lagoa do Jacaré, apêndice da Lagoa Feia.

O engenheiro responsável pela obra disse que nada pode fazer para utilizar a água desperdiçada por causa da burocracia da Prefeitura de Campos e do Instituto Estadual do Ambiente (INEA). Procurada, a Secretaria de Obras informou que já notificou a empresa, mas a água continua a fluir livremente na rua. O INEA informou que o caso é de responsabilidade da Prefeitura, acrescentando que este grande volume de água não é perdido, pois cai no Canal Campos Macaé e vai para a Lagoa Feia. Ao passar pela Chatuba, ela é despoluída pela Estação de Tratamento de Esgoto da empresa de saneamento concessionária Águas do Paraíba.

O que de fato acontece com esta água. De longa data, sabe-se que há uma ligação subterrânea entre o Rio Paraíba do Sul e a Lagoa Feia. É o rio o principal responsável por alimentar o lençol freático da margem direita. Se seu nível sobe, o nível do lenço freático sobe também. Se ele desce, o lençol freático o acompanha. O nível do Paraíba do Sul é o mais baixo desde 1930, nesta época do ano. Esta retirada das entranhas da terra fica exposta ao sol e ao calor e evapora. Não há garantia de que o vapor d'água se precipite em forma de chuva na região em que ela foi gerada, pois os ventos empurram as nuvens para longe. Parece, aliás, que esses ventos, estão impedindo a penetração, na região, da zona de convergência de umidade que se forma na Amazônia.

Caindo no imundo Canal Campos-Macaé, ela carreia esgoto e lixo para a Lagoa Feia, pois a Estação de Tratamento de Esgoto da Chatuba não trata as águas do canal, mas as águas de esgoto lançadas no canal. Em resumo, continuamos assistindo a um descalabro sem que as autoridades estaduais e municipais tomem qualquer providência. O mais prudente seria deixar essas água embaixo da terra. Elas seriam melhor conservadas. Não sendo possível, ela deveria ter destino melhor, como água a ser usada para irrigação. Assim, parte dela voltaria ao subsolo. 

Fundo da antiga Lagoa do Furtado, depois do Osório, hoje cabeceira
da ponte Leonel Brizola, no lado de Campos. Foto do autor.
Enquanto isso, as chuvas caídas em 3 de março inundaram vários pontos da cidade, principalmente na descida da ponte Leonel Brizola, no lado de Campos, que passou por obras caríssimas pagas com dinheiro da Prefeitura, portando nosso, e de nada adiantaram. Nunca se pensou que aquele ponto de descida da ponte já foi a drenada Lagoa do Furtado, depois Osório e hoje com o fundo impermeabilizado com asfalto. Essas águas também não deveriam deveriam fluir para o canal. Já está na hora, se é que ela não passou, de o Poder Público Municipal construir reservatórios de água de chuva para sua utilização em limpeza urbana e atendimento à agropecuária. Não estamos mais no século XVI, onde a abundância permitia desperdício. Campos e outras cidades devem proceder como em Kuala Lumpur, capital da Malásia e uma das maiores cidades da Ásia.

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