segunda-feira, outubro 27, 2008

Gabeira: sobras à direita e falta à esquerda

Com o texto abaixo, o blog apresenta seu novo colaborador: Caio Mayerhoffer Moraes. Ele faz a sua estréia comentando um dos fatos marcantes da política neste final de semana: a eleição do Rio de Janeiro: Gabeira: sobras à direita e falta à esquerda Caio Mayerhoffer Moraes e-mail: caiomp@gmail.com A derrota do candidato do PV nas eleições cariocas reteve o sonho de eleitores cariocas que, segundo as próprias palavras, esperavam uma mudança no Rio. Prerrogativa essa de mudança que se baseou no histórico do candidato, de ações e lutas contra a ditadura e de confrontos na Câmara dos Deputados. No entanto, o clima vivido na cidade a partir do segundo turno evidenciou que o candidato poderia se eleger com um toque deja vú. O apoio de César Maia somado com a massiva "moda Gabeira" na Zona Sul provocou uma certa polarização eleitoral na cidade. Eduardo Paes, seu adversário que manteve o foco da campanha nas classes mais baixas, teve a oportunidade de questionar justamente o espírito novo e revolucionário do seu adversário, apesar de Gabeira timidamente tentar desvincular seu nome ao atual prefeito. Mas já era tarde. Acabou se confirmando o que já poderia ser previsto desde a escolha do seu vice, Luiz Paulo, ex-secretário de Maia. Gabeira, que poderia representar uma nova via para o Rio, teve sua campanha direcionada a ser o candidato da Zona Sul e da classe média. Juntando isso ao impressionante deslize quando se referiu a vereadora Lucinha como suburbana, foi sacramentada a contemplação dele como candidato elitista, a qual foi decisiva nos quase 60 mil votos que faltaram para a sua vitória. Para quem conhece a história do Fernando Gabeira, é surpreendente a conclusão de que talvez não tenha faltado votos da direita, mas sim da esquerda.

7 comentários:

Anônimo disse...

Mas me conta isso direitinho. Aquele menino bonito que vi pequenininho é o autor deste comentário? Adorei. Na veia, com certeza, corre o sangue crítico mas, fundamentado e elegante do pai. Parabéns, Caio! Vibrei . Sou sua fã de carteirinha.

Postador disse...

Luiz Paulo foi secretário de Marcelo Alencar, de quem era vice e hoje é deputado estadual. Creio que nunca foi secretário de Cesar Maia.

Anônimo disse...

Parabéns pela estréia.
O Gabeira, ao se unir ao Cesar Maia perdeu mais que ganhou votos.
Tornando inclusive algumas de suas bandeiras de lutas bastante comprometidas.
Afinal, a Cesar, o que é de Cesar! E ele nós sabemos, é um conservador de primeira hora.
Até mais...

Anônimo disse...

Luiz Paulo foi secretário de transportes de Maia quando ele assumiu a prefeitura em 2001 e saiu para se candidatar a deputado estadual em 2002.

Bruno Lindolfo disse...

Boa análise, Caio, preciso desse poder de síntese: curto, direto e abrangente.
Aí vão algumas impressões minhas.

Gabeira morreu pela boca.

A maré Gabeira vinha galopante e se encaminhava para o trunfo, se não fosse entrecortada pelas falas equivocadas do candidato durante a campanha. E a maré terminou em caldo. A cisão de classes patrocinada pelo Paes não afetava a campanha do Gabeira, pelo contrário, fortalecia a necessidade de superação do proselitismo ideológico e classista.

As declarações infelizes sobre a vereadora Lucinha e, também, quanto aos sambistas foram os pontos cruciais da campanha e que definiram a derrota do Gabeira. A primeira com efeito mais devastador, por ser um baque duplo. Além do conteúdo da própria declaração, essa ainda ensejou um pedido de desculpas e a imagem de um afago tão lépido quanto o tapa dado, bem ao gosto da velha prática política oportunista onde adversários se tornam parceiros do dia para a noite. E foi justamente a firmeza de posições que alçou e cacifou o político Gabeira em toda sua história, mas que faltaram ao candidato Gabeira em campanha.

Pouco me agrada a dicotomia direita/esquerda, que já produziu cada qual seus grandes líderes e, também, suas mazelas e que quase sempre procura esconder sob o manto ideológico a pequenez de caráter e a inconsistência de valores e idéias. Creio que mais valem as boas idéias, que não tem berço ou nascedouro político. A fragilidade desse conceito pode ser vista no exemplo do próprio Eduardo Paes, verdadeiro camaleão político ideológico. Gabeira, por outro lado, sempre esteve ali, esquerda e direita que parecem ter transladado ao seu redor.

Por isso a candidatura do Gabeira era diferencial e cresceu tanto: era a sinalização por parte do eleitorado já enfastiado da velha mentalidade política, era a esperança de mudanças administrativas, mas também de concepção social política, na superação da distinção de classes.

Concordo com o Caio quando ele diz que faltaram votos da esquerda, mas isso não é apenas fator, é também conseqüência, que advém do caminho ao qual o Gabeira se furtou de trilhar, quando abdicou, justamente, da linha coerente de superação dessa dicotomia, caindo no discurso fratricida típico do eleitorado que naturalmente lhe acompanharia e que bradou no resultado final a vontade de emancipar-se da Zona Oeste.

Mas, incoerências a parte, ainda fico com o Gabeira. Pela campanha limpa e inteligente até certo ponto, sem panfletos apócrifos, sem utilização de merenda para campanha, sem apoio de milicianos, de Piccianis, Gerominhos etc. Sai fortalecido da campanha e tem grandes chances de se eleger senador nas próximas eleições, já que serão duas as cadeiras em disputa.

Paes sai desgastado, se é que tem alguma imagem para desgastar: desempenho medíocre em face dos apoios recebidos e da verdadeira cartilha partidária que agrupou em torno de sua candidatura e que cobrará mais a frente o preço desse apoio.

Bruno Lindolfo disse...

Esqueci de comentar...

Quanto ao Luiz Paulo, não vejo o maior erro de sua escolha como sendo o fato de ter sido correligionário do César Maia, mas por sua escolha engessar a candidatura do Gabeira, segregando-a ao universo da Zona Sul, um pouco da Norte. Melhor seria um vice com penetração e apelo na Zona Oeste.

Anônimo disse...

Dando parabéns ao novo colaborador que certamente dará mais sustentação ao Blog aproveito para acrescentar que na minha opinião a derrota de Gabeira, além do já analisado pelo Caio, confirma o fim da teoria da "pedra no lago", já vista com Lula. Era aquela idéia que quem ganhava a eleição era quem ganhava a opinião da classe média e a partir daí esta idéia se expandia para as classes populares, tal qual "ondas" que se fazem qdo se joga uma pedra num lago. Mais uma vez parabéns Caio!
Nelson Crespo