segunda-feira, setembro 23, 2013

Consultoria & espionagem

Dizem que consultoria é o que se cobra para dar palpites. Há muitas piadas sobre consultorias. Todo mundo conhece aquela das ovelhas. (Está postada abaixo desta nota para não perder a sequência e o raciocínio). Porém, mais do que isto elas servem para outras coisas.

Recordei de tudo isto ao ler dois textos. Uma resenha cujo título é "O bom negócio de de mandar fazer sem ter que responder pelo mau resultado" sobre o livro e Duff McDonald, "The Firm - The Story of McKinsey and Its Secret Influence on American Business" que faz uma análise crítica da maior consultoria americana, a McKinsey.

A própria resenha diz que a McKinsey faturou em 2008, um total R$ 6 bilhões, sem produzir nada, a não ser opiniões, invariavelmente, sobre enxugamentos e demissões dentro de um processo que, talvez para se relacionar à produção passaram a chamar de "reengenharia". A McKinsey talvez possa ser considerada um dos símbolos da economia de serviços deste nosso tempo.

O segundo texto é de uma nota da coluna "Rosa dos ventos", do jornalista Mauricio Dias, na revista Carta Capital, edição desta semana, cujo título é: "Nós e os espiões". 

Dias, ao citar a espionagem não oficial americana e a decisão da presidenta Dilma de não viajar aos EUA, opina que há contradições nessa história e cita que "na ANP (Agência Nacional do Petróleo), o Banco de Dados de Exploração e Produção de Petróleo (BDEP) é administrado pela americana Halliburton, via Landmark Solution. A McKinsey fez quase todos os estudos estratégicos do BNDES e, no governo FHC, dispunha de um andar inteiro no edifício-sede da Petrobras, onde dizem, também gerenciava informações estratégicas da empresa. Outra consultoria americana a Booz Allen foi responsável pela elaboração do "Brasil em Ação", plano de governo do segundo mandato de FHC".

Vendo tudo isto, lembrando do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) encomendado por FHC para "tomar conta" daquele território não é difícil concluir pela relação biunívoca entre os assuntos de consultoria & espionagem. 

Ainda, antes de terminar, eu recordo que há algum tempo recebi um email pedindo informações complementares sobre uma postagem feita aqui neste espaço. Como sempre faço perguntei qual era o interesse e a quem prestava serviço. 

O interlocutor disse que era consultor da McKinsey e realizava um estudo para um cliente. Este blogueiro devolveu dizendo que poderia até complementar a informação, mas em troca, solicitava que informasse qual era o cliente que desejava aquelas informações. Como o interlocutor negou repassar, alegando regras de contrato, este blogueiro também, devolveu a negativa, já que a informação aqui postada era gratuita.

De lá para cá desconfio que continuo trabalhando de graça para esta turma, que quando quer detalhes manda jornalistas tentar apurar como se fosse notícia e interesse jornalístico.

Enfim, é bom que se tenham as antenas ligadas para esta realidade e não se veja na piada abaixo apenas uma brincadeira. Há muito interesses em jogo e o brasileiro, via de regra, é sempre extremamente solícito com estrangeiros. Alguns "colonizado" chegam a tirar os sapatos para gente de terno e falando inglês...

Agora fiquem com a piada do consultor...


O consultor
Um pastor de ovelhas estava cuidando de seu rebanho, quando surgiu, pelo inóspito caminho, uma Pajero 4x4 toda equipada. Parou na frente do velhinho e desceu um cara de não mais que 30 anos, terno preto, camisa branca Hugo Boss, gravata italiana, sapatos moderníssimos bicolores, que disse:

- Senhor, se eu adivinhar quantas ovelhas o senhor tem, o senhor me dá uma?

- Sim, respondeu o velhinho meio desconfiado.

Então o cara volta pra Pajero, pega um notebook, se conecta, via celular, à Internet, baixa uma base de dados, entra no site da NASA, identifica a área do rebanho por satélite, calcula a média histórica do tamanho de uma ovelha daquela raça, baixa uma tabela do Excel com execução de macros personalizadas, e depois de 3 [três] horas, diz ao velho :

- O senhor tem 1.324 ovelhas, e quatro podem estar grávidas.

O velhinho admitiu que sim, estava certo, e como havia prometido, poderia levar a ovelha.

O cara pegou o bicho e carregou na sua Pajero. Quando estava saindo, o velho perguntou:

- Desculpe, mas se eu adivinhar sua profissão, o senhor me devolve a ovelha?

Duvidando que acertasse, o cara concorda.

- O senhor é Consultor, diz o velhinho! . .

- Incrível ! Como adivinhou ?

- Quatro razões:

- Primeiro, pela frescura;

- segundo, veio sem que eu o chamasse;

- terceiro, me cobrou para dizer algo que já sei.

- e quarto, nota-se que não entende merda nenhuma do que está falando:

- devolve já o meu cachorro...

3 comentários:

carlos ivan disse...

A verdade é que desde os tempos mais remotos da existência da vida humana, nós já praticamos a espionagem. Começamos a espionar os costumes uns dos outros,os hábitos alimentares e fomos introduzindo aos nossos costumes o que nos era mais conveniente. Jesus foi espionado e numa fase mais contemporânea no período da guerra fria era o que mais acontecia e sem mais resenhas, ela ainda continua. Agora o que mais me deixa estarrecido é que só o governo brasileiro não sabe disso! Quanta inocência há quando os assuntos se refere ao estrangeiro. Por outro lado,o governo é tão espertos quando inventam um novo imposto, realizam aumentos de salários para eles mesmos e etc e tal.

Roberto Moraes disse...

Caro Carlos,

Entendo que a questão é um pouco mais ampla.

Nas questões relativas a relações entre governos o fato vale tanto quanto as aparências.

Saber que espiona é diferente de ver os detalhes de como este processo está se dando.

O caso foi tão escandaloso que até os líderes da oposição deram apoio à reação do governo.

No plano internacional o caso ainda hoje repercute, exatamente, pela contundência das provas.

carlos ivan disse...

concordo plenamente! Só que por outro lado, acredito que o governo deveria de estar um pouco mais precavido quanto esse assunto. Antes de toda essa descoberta se era difícil entra no sistema americano, imagina agora? Prevenção continua ainda sendo o melhor negócio. Foi o que nós não fizemos.