quinta-feira, novembro 26, 2015

Mudanças demográficas

Uma interessante matéria do Wall Street Journal (WSJ) sobre demografia, aponta que a redução da população no mundo seria uma nova ameaça à economia mundial. (Acesse aqui)

A reportagem é bastante interessante e diz entre outras coisas que "no próximo ano, as economias mais avançadas vão atingir uma marca crítica. Pela primeira vez desde 1950, o total de sua população em idade de trabalhar vai diminuir, segundo projeções da OCDE. Até 2050, essa população vai encolher 5%".

O jornalista Greg IP relata que essa mudança reflete duas tendências há muito estabelecidas: o aumento da expectativa de vida e a queda da fertilidade, ou fecundidade. Ele também diz que a maioria dos países com alta fertilidade está na Ásia e na África.

Isto também pode ajudar você a entender a geopolítica mundial para além da disputa energética e de recursos minerais que atualmente vivemos. Além disso, oferece pistas para entender a posição das nações centrais sobre imigração, apesar dos discursos humanitários.

Vale ainda ler como algumas nações estão já se organizando para este aumento da idade me´dia da população e da classe trabalhadora. Também como as empresas pensam na produção e nos serviços para atender população com mais idade e diferentes consumos.

Ou seja, uma matéria muito interessante para pensar além do quadrado e das disputas locais de poder. Penso que o acesso a matéria na íntegra que consome uma página inteira do impresso esteja acessível a todos e por isso sugiro e reparto a leitura e interpretação com os leitores do blog. (Acesso aqui)

Antes porém, para os que não terão tempo para ler a íntegra da reportagem, eu postarei abaixo três infográficos (desta e outra matéria do WSJ) com dados que mesmo para quem acompanha um pouco mais a discussão mundial, sempre traz dúvidas e é interessante que se conheça:

1 - A relação dos 10 países mais populosos do mundo hoje e sua previsão em 2050. Tenho certeza que você se surpreenderá com alguns números que têm como fonte o documento da ONU "Perspectivas da População Mundial - Revisão 2015";

2 - Três gráficos sobre: expectativa de vida (projeções) no mundo e para populações de alta, média e baixa renda; Fertilidade também para para populações de alta, média e baixa renda; variação da população mundial (em bilhões de pessoas) por três faixas de idade - de 0-14 anos; de 15-64 anos (idade ativa) e + de 65 anos;

3 - Um terceiro gráfico oriunda de outra matéria do WSJ que mostra que também na China, a população em idade para trabalhar também já começou a cair. Em 2050, a população ativa terá declinado em 212 milhões de pessoas, estima a Organização das Nações Unidas. Isto é o contrário daquilo que você sempre ouve falar sobre a China, incluindo a informação de que em 2050, a população da Índia já terá ultrapassado a da China.No mês passado, a China aboliu sua política do filho único.

De outro lado num mundo onde a produção e o consumo sem fim não fosse a razão de ser, menos gente, poderia significar repartir mais e melhor os recursos ainda disponíveis. Mas a lógica do sistema não é esta.



































8 comentários:

Márcio Vitor Barbosa disse...

Excelente informação professor. Obrigado por compartilhar.

douglas da mata disse...

Em tempo, caro amigo, é bom ler Slavoj Zizek e sua proposição sobre a Economia Política dos Refugiados.

Se gente para trabalhar é outro recurso em vias de escassez, é claro que o contrabando de gente vai movimentar grandes hordas de cifras no mercado irregular.

Zizek, ao contrário da maioria da esquerda europeia advoga que é preciso regulamentar esse "mercado" urgentemente, e não cair na armadilha na qual se encontra boa parte da esquerda de lá (e do mundo?), que acaba por defender o laissez-faire na movimentação de gente, um axioma ultra liberal que nunca se realiza, senão para colocar gente em condições precárias e manter os lucros de quem toca esse negócio (contrabando de gente).

Em outras palavras, Zizek argumenta que os Estados Nacionais europeus devem controlar e utilizar seus aparatos para controlar os fluxos de gente, e estabelecer regras mínimas para que habitem os países-destino.

É uma tese polêmica, mas merece atenção.

Roberto Moraes disse...

Este assunto é para lá de polêmico, especialmente considerando as causas e não o acesso às fronteiras.

Sobre elas não tenho dúvidas da "economia dos refugiados" e citei na nota a relação disto com os interesses de alguns estados-nação. Em especial dentre os europeus, que sob a retórica do humanismo, ajeita a reposição de sua nem tão futura, mas já atual mão de obra para dar conta de sua curva descendente demográfica, para tentar manter a hegemonia na região do euro que tenta ainda segurar, mesmo esgarçada.

Porém, é um pouco demais, a meu juízo, falar em "laissez-faire nesta movimentação de gente" porque me parece que ela atua na consequência e não nas causas da imigração, entre elas a luta pelo petróleo-energia e por gente nova (imigrantes) para manter demografia.

Tempos para lá de estranhos.

A matéria é muito boa e sugere uma série de reflexões como esta.

Outra é como a reestruturação produtiva em época de radicalização da automação e impressão 3D considerar um problema a falta de gente para produção e num grau menor, mas não menos importante para o consumo massificado.

Comunidades de velhos consomem menos, por isso o apelo de marketing exagerado para dialogar com a "3ª idade" com interesse em fazê-lo consumir e qualquer custo, para se mostrar como jovem ativo e em permanente consumo, menos de produtos e mais de serviços.

Como disse ela deixa evidente algumas das principais contradições do capitalismo: os velhos pensam numa lógica do uso e não da troca. Assim, a lógica do sistema fica na berlinda, também porque a produção sempre crescente e massificada entra em check e por isto se volta a falar em produção mais localizada e especializada.

De novo se fala em poder e política e sua relação como o dinheiro, mais que a produção.

Observe que com análises mais macros se tem condições melhores para observar as direções a que somos empurrados.

douglas da mata disse...

Sim, compreendo o que diz, mas Zizek vai um pouco mais além, e não se resume ao problema dos refugiados aos surtos recentes das guerras por petróleo, e sim do fluxo africano permanente...

E como a existência deste pressão nos países em conflito não explica por si o fluxo migratório, sem que houvesse um propulsão tocada por interesses econômicos dos contrabandistas de gente e da oportunidade do momento histórico, ou seja, sua visão não confronta a dele.

O que ele propõe é que a tese da liberdade de ir e vir é falsa, pois a verdadeira liberdade só para produtos.

O resto, os humanos, só entrarão para serem explorados como mão-de-obra barata no que ele chama de sweatshops.

E nada mais rentável para o capitalismo do que um monte de gente alimentando o sonho de "vencer" no país rico...

Há outras discussões no texto dele (A economia política dos refugiados), todas polêmicas, mas que não podem ser ignoradas...até porque atacam certos paradigmas que utilizamos, no campo da esquerda...

Um abraço...

Roberto Moraes disse...

Sim. Eu não li este texto dele vou conferir, embora esteja com dificuldades para dar conta de tanta coisa. Vo aqui no blog da Boi Tempo.

Por falar em Zizek parece intrigante o seu novo livro "O absoluto frágil", um ensaio que defende uma aproximação entre o cristianismo e o marxismo, onde mais uma vez Zizek parece ter coragem para tratar de temas fora do quadrado.

Abraços.

douglas da mata disse...

É intrigante...

Ele propõe que é mais prático desconstruir a religião por dentro, aproveitando o legado civiliatório indiscutível, e a essência revolucionária e coletivista do cristianismo...

De acordo com ele, o cristianismo é a única religião das monoteístas que mata deus (jesus crucificado) e aposta na comunidade do "espírito santo" (o que resta depois da morte de deus), a afastá-lo (o cristianismo) com o ateísmo.

Ele continua ateu, mas coloca a necessidade pragmática desta "aliança", quando a saída da esquerda europeia para o eurocentrismo é abraçar o relativismo contido na culpa em não denunciar a barbárie dos fundamentalistas do islã, apenas porque eles estão em territórios inóspitos explorados.

Roberto Moraes disse...

Referindo ao texto "Economia Política dos Refugiados" que só agora fui ler, eu opino que ele é muito intrigante. Com referência à proposta eu tenho dúvidas, embora concorde com a maioria das "quebras de tabu das esquerdas" que ele propõe.

Porém, destaquei estes dois parágrafos sobre o qual cometo a seguir:

"A lição que o mundo pós-11/9 nos trouxe é a de que o sonho de Francis Fukuyama de uma democracia liberal mundial está chegando ao fim e que, ao nível da economia mundial, o capitalismo corporativo triunfou em todo o mundo. Na verdade, as nações do Terceiro Mundo que abraçam esta ordem mundial são aquelas que agora estão crescendo a uma taxa espetacular. A máscara da diversidade cultural é sustentada pelo real universalismo do capital global; será melhor ainda se o suplemento político do capitalismo global fiar-se nos assim chamados “valores asiáticos”.

O capitalismo global não tem nenhum problema em acomodar-se a uma pluralidade de religiões locais, culturas e tradições. Assim, a ironia do anti-eurocentrismo é que, em nome do anti-colonialismo, ele faz uma crítica ao Ocidente em um momento histórico no qual o capitalismo global não precisa mais dos valores culturais ocidentais para funcionar sem problemas. Em suma, tende-se a rejeitar os valores culturais ocidentais no exato momento em que, criticamente reinterpretados, muitos desses valores (igualitarismo, os direitos fundamentais, a liberdade de imprensa, o Estado de bem-estar, etc.) podem servir como uma arma contra a globalização capitalista. Será que já nos esquecemos de que toda a ideia de emancipação comunista, como prevista por Marx, é completamente “eurocêntrica”?"


Para mim um BOA QUESTÃO:
A ampliação do capitalismo corporativo global (ver Renato Ortiz no livro Universalismo e Diversidade) encontrou limites em outra ponta de tentar impor culturas. Isto reduziria sua capacidade. Para isto foi melhor se acomodar à pluralidade de religiões, culturas e tradições, como disse acima Zizek. Assim, o capitalismo corporativo global prescinde dos valores em nome de sua expansão, deixando para trás mais uma contradição, que seria a limitação do império (e da sua forma eurocêntrica) que fala em direitos humanos (e o nega), fala em liberdade de imprensa (e a nega) e em welfare-state (e também o nega).

Assim, para Zizek não há porque defender o que não existe. (ótima sacada) Vale repetir Zizek acima: “a máscara da diversidade cultural é sustentada pelo real universalismo do capital global”.

Desta forma pode-se dizer que o universalismo sonhado pelo iluminismo, acabou cooptado pela globalização, fenômeno real do sistema que paradoxalmente acabou por induzir diversidades como um desejo de pluralismo que antes seria um dos principais atributos reivindicados pela luta em prol do universalismo.

douglas da mata disse...

É isso...é por aí.

O cerne trazido por Zizek é a questão paradoxal intrínseca (e permanente) apresentada pelo capital global quando da sua apresentação como tal, ou seja, universalizado e über-Estados Nacionais, mas que, no fim das contas, necessita dos controles estatais para funcionar e se financiar (ainda).

Logo, o discurso esquerdista anti-colonialismo, negando a importância deste controle (estatal) e manifestando-se pelo livre ir e vir (justamente o que o liberalismo prega, mas só pratica para explorar a parcela de indigentes-imigrantes que lhe interessa), enfraquece um paradigma importante que serviria como ferramenta a esquerda.

Levando estas considerações para o campo da convivência e tolerância, dentro das estruturas sociais, Zizek nos diz que é perigosa a sedução das esquerdas quando em nome deste suposto unversalismo:

01- Abandonam os valores humanistas para "integras" culturas que os desconsideram, pois não faz sentido combater a xenofobia da ultra-direita branca europeia e passar a mão na cabeça dos ultra-fundamentalistas do Islã, apenas porque emergem de países pobres;

02- Esses povos, em parte, querem uma parte do conforto europeu, mas se negam a aceitar regras mínimas de convivência;

03- A suposta universalidade desconsidera que no seio destas levas de imigrantes há importantes conflitos de classe e heterogeneidades que a vitimização da mídia soterra, onde aparece aí a tese da economia política dos refugiados;


Em suma, Zizek, no meu raso entender, parece dizer que a luta anti-colonialista é extemporânea, porque o capital já ultrapassou esta etapa e se adaptou a todas conformações, arranjos e estamentos sociais ao redor do planeta.

Como já percebemos, é um bom debate.