terça-feira, novembro 17, 2015

O livro "Os homens de ferro" e a relação do blogueiro com a rede formada a partir do blog

Nos últimos meses eu passei a ser muito abordado, a partir do blog, por pesquisadores e estudiosos de diversas origens e experiências que encontram nas postagens, informações e análises feitas ao longo do tempo. Eles afirmam obter nos textos, material e inspiração para aprofundar os seus trabalhos.

Esta, talvez seja uma das boas e raras motivações para manter este espaço ainda atualizado. No contato com pessoas, que na maioria das vezes sequer conheço, ou tenho referências pessoais, este blogueiro também se inspira, e numa dupla direção, também se motiva e inspira, a seguir em frente.

Evidentemente, como se trata de um blog pessoal, é natural que os assuntos mais abordados sejam aqueles que o blogueiro mais tem dedicado o seu tempo, mesmo que, eventualmente, também trate com comentários, das questões e fatos do dia a dia, nas diferentes escalas, desde a local à global.

Nesta linha, não é novidade para muitos que tenho investido tempo e estudo para entender como a economia política no plano global tem interferido de forma sistemática e crescente, na vida e na forma como a política interfere em nossas regiões. De forma especial, fui ampliando o leque de observação do Norte Fluminense para o plano estadual e nacional.

Vez ou outra recebo nos comentários, ou por email, questionamentos sobre a menor abordagem dos casos referentes à política e a economia local. Compreendo os questionamentos, mas tenho insistido na necessidade de se ampliar a interpretação mais totalizante, visando uma intervenção local, porque o concreto e o real são sempre locais. Mais adiante falarei um pouco mais sobre esta questão.

Os assuntos mais abordados ultimamente voltam-se para a economia global, a importância dos sistemas portuários neste processo, e no caso brasileiro, em especial, da relação destes temas com a economia do petróleo, considerando-a atualmente, como uma das quatro fronteiras de expansão da economia brasileira.

Exatamente nestes campos, diversos graduandos e pós-graduandos, professores, trabalhadores, analistas econômicos e jornalistas (cada vez mais de fora da região) têm trocado experiências e contatos com o blog, ajudando na interpretação da realidade que se tenta interpretar como fenômeno.

Interessante observar como esta network (rede) ajuda a trazer mais informações _ num processo interativo e colaborativo - e também a construir leituras que se esforçam por juntar pontas, diante deste mundo, hoje, tão fragmentado de informações soltas e, proporcionalmente, de tão poucas interpretações sobre os fenômenos contemporâneos.

Desta forma, os dados e o acompanhamento sobre a mineração mais de perto, surgiu desde que passei a estudar a profusão de projetos portuários no ERJ e ES.

Adiante convidado pelas comunidades atingidas e por outros pesquisadores que estudavam e se organizam em resistência contra os impactos sobre as comunidades locais, produzidas pelos projetos dos setores de mineração e portuário.

Assim, eu acabei avançando um pouco mais na compreensão desta atividade, que faz parte de outra importante fronteira de expansão econômica brasileira que se soma à do petróleo, já comentada, mas que possui em comum com esta, o fato de ser também mineral e obtida de forma extrativa.

Diante disto (desculpem o longo preâmbulo) é claro que o catástrofe produzida pela empresa Samarco, a partir do município de Mariana, trouxe novas atenções para se compreender as atividades extrativas, seu processo de produção, sua relação com o poder econômico e político nas diversas escalas.

É a partir deste referencial que tenho tentado contribuir com algumas informações e linhas de análise, para além das diversas que estão sendo veiculadas, em todos os meios, em especial na chamada redes alternativas de comunicação, que buscam sair do sendo comum, produzida pela maioria das matérias da mídia comercial, com exceção para algumas, paradoxalmente, publicadas pela mídia internacional.

Enfim, escrevi tudo isto (peço desculpas novamente, mas é porque entendo que devo dialogar com os que acessam o blog, para que estes conheçam as referências, de onde falo e comento e também para se compreender sobre os assuntos escolhidos para as notas) para sugerir uma leitura bastante sugestiva ao tema da mineração e do trabalho neste setor da atividade humana, sobre a natureza.

Refiro-me ao livro "Os homens de ferro - Estudo sobre os trabalhadores da Vale do Rio Doce em Itabira" da professora é antropóloga Maria Cecília Minayo que foi professora da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

O livro foi editado em 1986 e o tema tem origem em sua dissertação de mestrado. É uma publicação especial no campo das Ciências Sociais. Trata-se de uma pesquisa etnográfica de fôlego na região mineira de Itabira. Eu usei esta publicação de forma intensa entre 1992 e 1994, quando elaborei minha dissertação de mestrado na Coppe/UFRJ, sobre o que hoje chamaria como os "Heróis do petróleo - estudo sobre o trabalho offshore na Bacia de Campos".

O livro da Minayo aborda desde a geografia da mineração, quanto dos processos e relações de trabalho entre empresa, sociedade e trabalhadores, quando a mesma ainda era do "Rio Doce" e não apenas "Vale" e seu capital exclusivamente do Estado. Nele estão descritos as relações de produção que, mesmo em empresas estatais (como exemplo na Petrobras) obedecem às lógicas do sistema e atuam sobre o território (espaço) e sobre a sociedade de forma nem sempre percebida, diante do discurso majoritário da ideia do "progresso".

Reler esta publicação distante no tempo em trinta anos, numa nova conjuntura de Estado e da corporação e também do peso que a mineração ganhou na economia global e na geografia das corporações no Brasil, embute um enorme aprendizado que me esforço por repartir com os interessados.

A sociedade contemporânea e a capacidade que as rede técnicas de telecomunicações nos oferecem na atualidade, nos fazem tentar interpretar cada fato novo que surge como, um fato estanque, sem processo histórico, assim solto no tempo e no espaço, até que seja substituído por novo fato, que mais uma vez atrairá nossa atenção. Neste processo, na maioria das vezes se deixa lado a necessidade de tentar entender e fazer a ligação entre os mesmos, no tempo e no espaço.

Desta forma, se tem perdido a noção da totalidade, com interpretações equivocadas, bem ao gosto de quem pretender manipular - com construções mentais sem bases e conteúdos - abandonando interpretações e análises mais aprofundadas e críticas.

Não me refiro às "bestas" preocupações com o que chamo repetidas vezes aqui de "falsas neutralidades". Só as argui quem pretende quem pretende a manipulação, porque a construção do conhecimento exige aprofundamento e críticas, porque é a partir delas que se pode avançar para novos conhecimentos científicos, que após sintetizados, serão adiante questionados e reformulados.

Enfim, fica a dica e a sugestão da leitura.

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