quarta-feira, janeiro 06, 2016

Informação e contrainformação como estratégia na geopolítica da energia

Mais uma informação que reafirma e ratifica o que temos insistido sobre a redução em todo o mundo dos investimentos no setor de petróleo.

O gráfico ao lado publicado em matéria do The Wall Street Journal mostra uma série histórica interessante (2000-2015) sobre o volume de investimentos de capital no setor de óleo e gás.

A reportagem publicada na última segunda-feira aponta ainda uma aposta de que o óleo e o gás de xisto (shale) em grande abundância nos EUA, tem um fator especial para alterar o mercado de petróleo no mundo.

Isto se dá, ao contrário do que tem sido mais dito, pelo volume que chegou a levar os EUA à disputa com Arábia Saudita e Rússia pelo posto de maior produtor mundial e sim, pelas características e capacidade de interromper e retomar a produção de óleo e gás de xisto (shale) muito mais rapidamente do que as demais extrações petrolíferas e mesmo de outros minerais.

Como se sabe a extração de xisto hoje é operada pela tecnologia de fracking (fraturamento hidráulico) que é altamente eficiente, mas muito danosa ao meio ambiente, especialmente pela contaminação aos lençóis freáticos e mananciais de recursos hídricos.

Para alguns estudiosos, aí estaria uma possibilidade nova no antigo mercado mundial de petróleo que poderia limitar por um bom tempo, o valor máximo do petróleo, mesmo em situações de conflitos regionais.

Assim, preços acima de US$ 100, como tivemos até junho do ano passado, não mais existiriam, num cenário até 2050, já que a partir daí, se dá como mais provável o maior uso e incremento de outras fontes de energia.

Porém, esta é uma hipótese e não um fato. Pelo menos por enquanto. As interrupções de diversos projetos de exploração de xisto nos EUA estão sendo traumáticas e mexem com disputas intercapitalistas que, como se sabe, mesmo baseada em lucros e acumulações, nem sempre possui a agilidade que se imagina.

Além do mais, este discurso ou esta hipótese, pode ser parte de uma estratégia para forçar o barateamento das reservas e dos seus ativos, visando fazer com que elas sejam ofertadas mais facilmente e em menores valores do que os atuais, já bastante baixos diante do baixo preço do barril.

Nesta linha estariam aqueles defensores da venda descontrolada de ativos para as grandes petroleiras mundiais, como fez recentemente, em editorial o jornal brasileiro O Globo.

Há na questão, uma clarividente contradição que só incautos ou mal intencionados podem não querer enxergar.

Se não vale a pena manter as reservas, para o momento seguinte da atual crise, onde serão mais escassas as reservas, por conta da redução das prospecções (perfurações com sondas que seguem com seus contratos sendo reincididos), porque as petroleiras estrangeiras, em especial as grandes americanas e inglesas, estariam tão interessadas nestas reservas, como tem demonstrado seguidamente a Shell e a Chevron, entre outras?

A conferir!

9 comentários:

Anônimo disse...

Excelente análise! Muito boa a postagem.

Anônimo disse...

Caiu a máscara de José Serra!

Márcio Soares disse...

Estado e municípios petro rentistas tomaram uma rasteira inesperada.
Sob a ótica de segunda hipótese, seria impressionante o poder de influência mundial do capital petróleo. Empresas de toda cadeia produtiva e empregos pelo mundo inteiro, sem privilégio de fronteiras, estão abalados. A pressão para queda no valor dos ativos é muito grande seja no Brasil, Estados Unidos ou na Asia.
Desdobrando este pensamento, atento para a importância da manutenção estratégica do controle estatal desta commodity como a mais forte defesa contra a oligopolização.
Podíamos ter surfado melhor nesta bela onda que passou com royalties, política de conteúdo nacional e revitalização da indústria naval.
Agora, o futuro é incerto.

Anônimo disse...

Até quando vamos ficar pagando essa conta , até quando vamos pagar esse preço astronômico, pelos combustíveis brasileiro, produzido pela Petrobras, apesar dos preços no mercado internacional, estarem em queda ?
Chega de pagarmos esse absurdo.

Roberto Moraes disse...

Caro Márcio,

Este é um dos principais focos de minha pesquisa que tenta mostrar como as corporações globais deste setor atuam, como tratam o mundo como um único espaço, se articulam com os governos nacionais para se instalarem, negociam menores regulação e assim produzem novas territorialidades numa dinâmica econômico-espacial com grande poder de influência e articulada com o capital financeiro através dos fundos.

Não há como observar e traçar planos e projetos locais ou regionais sem compreender este processo. Depois de quase uma década de pesquisas sobre os orçamentos e as gestões das cidades petrorrentistas, desde 2010/2011, eu ampliei a escala de observação (e com um olhar multiescalar) deste fenômeno e tenho tentado neste espaço compartilhar alguns destes principais movimentos com repercussão.

Sds

Roberto Moraes disse...

"menores regulações"

Gian disse...

Enquanto isso em Macaé demissões em massa estão ocorrendo... Todas fornecedoras de equipamentos e serviços não param de demitir. Lamentável...

Elíseo disse...

Roberto , vc tem o material de sua pesquisa disponível para leitura ?

Roberto Moraes disse...

Caro Elíseo,

A pesquisa completa que é parte de meu doutorado no PPFH-UERJ eu estou escrevendo com previsão de conclusão no segundo semestre deste ano.

Há diversas partes dela espalhada em notas pelo blog.

Porém, há um artigo publicado no segundo semestre do ano passado, na revista "Espaço e Economia" que contém uma parte importante das reflexões:

http://espacoeconomia.revues.org/1511

Ela começou estudando a gênese do projeto do Porto do Açu. Neste link você pode fazer download para um artigo apresentado no ANPUR, em 2013, em Recife, PE.

http://unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/download/4346/4216

Também em 2013 nosso grupo de pesquisas apresentou o artigo:
"MIDAS como oportunidade e ameaças para os impasses da logística, numa conjuntura de paradoxal crescimento do Brasil e crise econômica mundial – O caso dos portos transformados em complexo: Supae-PE; Açu-RJ; Pecém,CE e Itaqui-MA." Ele foi apresentado no II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades. 8 a 11 de outubro de 2013.

Não sei se o mesmo ainda está publicado digitalmente. Se tiver interesse posso enviá-lo.

Um outro texto mais sobre a questão portuária foi publicado ano passado na plataforma ibero-americana "GeocritiQ", hospedado na Universidade de Barcelona depois de um estágio doutoral de um semestre nesta universidade:

http://www.geocritiq.com/2015/02/portos-demandam-regulacao/

Por email podemos dialoar: robertomoraespessanha@gmail.com

Sds.