sexta-feira, julho 17, 2009

A arte e a vida

Não tenho talento artístico. Nunca tive. Não foi por falta de vontade e sim por dom ou vocação mesmo. Gosto de arte. Umas mais e outras menos. Nunca aprendi violão como cheguei a pretender e pouco insistir. Fui gostar de literatura na juventude depois da infância e a adolescência em que o tempo foi tomado por outras boas coisas disponíveis de um bairro como o Turfe há quarenta anos. A música embala a alma quando o espírito está voando. Um bom filme serve para provocar o vazio do pensamento em busca de novas reflexões. Tudo isto, talvez tenha a ver com a chegada do final de semana que embora próximo do fim, ainda guarda pela frente inúmeros compromissos a serem cumpridos... Neste passo é que me deparei com duas boas entrevistas que mostra como o bom jornalismo, impresso ou na tela, terá para sempre o espaço para aplacar a curiosidade e o interesse dos humanos... Uma destas abre o Segundo Caderno da edição de hoje do jornal O Globo. Ela foi feita por Marília Martins com o escritor mexicano Carlos Fuentes. Este, ao responder se literatura tem influência sobre a política e se um romance pode conscientizar seus leitores, disse: “A literatura tem influência relativa. Philip Roth dizia que uma ditadura aprisiona seus opositores em campos de concentração, e uma democracia os prende a uma tela de TV. A imaginação pode ser um convite à passividade e à alienação. Vem daí a responsabilidade do escritor, de fazer uso da imaginação e da linguagem de forma a não alienar, de forma a discorrer sobre sua visão política. A literatura tem exigências enormes de tempo de concentração. Se um romance pode conscientizar seus leitores? Depende do escritor. Não acho que Balzac tenha conscientizado seus leitores sobre a necessidade de uma revolução burguesa na França, mas acho que Soljenitsin alertou seus leitores sobre os horrores do stalinismo. Em tempos de ditadura, a literatura ganha outra leitura, que tem a ver com o momento político”. A segunda entrevista, também no mesmo caderno, feita por Suzana Velasco com o pintor Luiz Áquila traz uma boa conceituação sobre a arte: “A arte é um organograma emocional, a possibilidade de você organizar sua emoção, construir com ela e oferecer ao público. Só existe arte porque nossa vida é incompleta. A arte cobre vários vazios”. Pois bem, por tudo, vê-se que no mínimo a arte tanto quanto a vida e não sobrevivida faz pensar. E isto basta!

2 comentários:

Gustavo Carvalho disse...

Oi Roberto, como homenagem ao Soljenitsin, cabe lembrar o seu clássico "Arquipélago Gulag". Nessa obra, o super escritor dissidente (manifesto vivo de integridade e resistência intelectual), consegue a proeza de narrar a vida tétrica num campo de trabalhos forçados a partir do "humano demasiadamente humano". Outra referência literária contemporânea sobre o sistema de reeducação (sério, a "finalidade" era reeducativa como a Revolução Cultural de Mao!) de Stalin, é o Martin Amis no seu "Casa de Encontros".

[m_] disse...

Li as duas matérias e fiquei muito tempo pensando nessa frase: "Só existe a arte porque nossa vida é incompleta".

Talvez a gente viva, o tempo todo, buscando essa completude...

Gostei desse post intimista.
:)

Bjs!