sábado, julho 25, 2009

"Simpáticos, cordiais e canalhas"

Normalmente não gosto do Nelson Motta como articulista, mas no seu texto publicado ontem, no jornal O Globo, fora a crítica fácil contra os políticos, embora correta, contém como melhor parte, a que se refere a tipos encontráveis em nosso dia-a-dia. Separei alguns trechos: "Cuidado com os simpáticos e cordiais, sempre advirto minhas filhas, e mais ainda com os bajuladores e paparicadores: são condições básicas necessárias para o exercício da canalhice..." ... Nada contra a simpatia ou a cordialidade, pelo contrário, com elas a vida e a convivência se tornam muito mais agradáveis, civilizadas e produtivas, e me esforço diariamente para usá-las como um estilo de vida. Não uma arma. "Assim como o psicanalista Hélio Pellegrino dizia que a inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice, a simpatia e a cordialidade, quando usadas para o exercício da canalhice, são piores do que a secura e a dureza no trato..." "... São contadores de causos pitorescos, gostam de citar provérbios populares de suas regiões, aparentam simplicidade interiorana, mas são raposas urbanas vorazes e vaidosas..."

3 comentários:

AngelMira disse...

Para complementar o pensamento, prefiro os falantes, com bom ou mau intuito, do que os silenciosos que temem mostrar o q pensam...

Gustavo Carvalho disse...

Caro Roberto, esse post faz lembrar o clássico da cultura nacional: Raízes do Brasil (1936) de Sérgio Buarque de Hollanda. Uma das noções mais interessantes e polêmicas formuladas por ele é a do "homem cordial". Durante muito tempo tal conceito pareceu ser a síntese da "brasilidade" (junto com o jeitinho, a malandragem ou o mito da "democracia racial"). Durante anos Sérgio Buarque teve que prestar satisfações sobre o uso ideológico desse conceito. Nas palavras dele: "Nunca disse que o brasileiro é bonzinho." Ou ainda, "hoje (1977) eu não usaria essa expressão, porque é ambígua." Em outra edição do livro (nota/1947) ele já havia refinado o ponto de vista: "A inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, nisto que uma e outra nascem do coração, procedem, assim, da esfera do íntimo, do familiar, do privado". Na sociedade onde vive o homem cordial, diria ele no livro, cada indivíduo "afirma-se ante os seus semelhantes indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie suas afinidades emotivas". O homem cordial, generoso e hospitaleiro no trato, é na verdade superficial, apegado às aparências. Abre flanco aos personalismos, segundo ele, um dos fundamentos da sociedade brasileira.

Roberto Moraes disse...

Caro Gustavo,

Não li Raízes do Brasil(e não vou escrever ainda - porque sinceramente esta leitura não está nas minhas prioridades) mas sim, diversos escritos sobre o livro do Sérgio Buarque de Hollanda.

Imagino que assim como seu comentário eles têm pistas importantes sobre entendimentos que buscamos perto de nós.

Ontem li sobre o Mazaroppi e Jeca Tatu. Uma outra interpretação da esperteza, brasileira, só que vinda do rural e não do urbano.

As dificulades para enfrentar o conflito e a discordância tem origens nestas análises.

Melhor concordar e acomodar do que discordar, discutir, aprofundar e debater. Por vezes, melhor a alternativa que surge é a agressão pessoal...

Bom que os cientistas sociais nos ajudem a compreender isto que ainda está debaixo dos tapetes...

Valeu por mais este aprofundamento nos posts aqui jogados ao vento...