quarta-feira, setembro 11, 2013

Carta do Açu

O texto da Carta dispensa apresentação, porque já diz tudo. Confira:

Carta do Açu

Atingidos de Conceição de Mato Dentro/MG e do Porto do Açu/SJB/RJ, pesquisadores  de diversas Instituições de Ensino Superior nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, e representantes de Movimentos Sociais realizaram, nos meses de maio e agosto de 2013, o intercâmbio das resistências ao Projeto Minas-Rio, organizado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (Gesta/UFMG), a Universidade Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes e a Associação dos Produtores Rurais e Imóveis Município de São João da Barra – ASPRIM.

O intercâmbio possibilitou a visitados atingidos do Açu às  comunidades atingidas pela mineração  em  Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas e, em um segundo momento, a visita de representantes das comunidades mineiras às comunidades atingidas pelo Porto do Açu e  demais estruturas localizadas no  5º Distrito de São João da Barra – Açu/RJ.

Após este intercâmbio, nós, atingidos, pesquisadores e lideranças dos Movimentos Sociais, na defesa da dignidade da pessoa humana, e, em especial, da garantia dos bens essenciais à vida  como a água e o território, vimos a público, pela presente, denunciar os seguintes e inaceitáveis danos e violações de direitos ocorridos tanto nos municípios mineiros quanto na região do Norte Fluminense, promovida pelo empreendedor – Anglo American e LLX,  – com a participação dos respectivos Governos Estaduais.

·         Violação do direito de liberdade de reunião, associação e expressão: durante a realização do intercâmbio, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, os veículos que transportavam os atingidos foram seguidos e monitorados pelos empreendedores;

·         Mascaramento dos impactos socioambientais: os danos e impactos ambientais provocados pelo empreendimentonos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro foram subdimensionados ao longo dos processos de licenciamento, fracionados de forma indevida. Não constam dos EIA-RIMAs os impactos conexos mina-mineroduto-porto e os efeitos do empreendimento no estado vizinho do Espírito Santo - área costeira, poluição, óleo, poluição sonora marinha, erosão do solo marinho;

·         Degradação dos mananciais e cursos d’água, tornando-os impróprios para uso humano, dessedentação de animais, a pesca, e para os usos sociais, tais como plantios da agricultura familiar e recreação. No Açu, a gravíssima salinização nas águas e nas terras ameaça transformar o 5o  Distrito/SJB e toda a Baixada Campista, em um verdadeiro deserto;

·         Não reconhecimento dos Atingidos: em Minas Gerais, empreendedor e Estado se recusam a reconhecer a amplitude do universo de comunidades atingidas, que resta indefinido no licenciamento, apesar da existência de estudo independente realizado para esse fim; no Rio de Janeiro, tampouco são reconhecidas as famílias atingidas pelos impactos gerados pela salinização;

·         Violação do direito de propriedade: os atingidos denunciam as pressões e formas diversas de coação a que vem sendo submetidos. Em Minas Gerais, o violento assédio a herdeiros de terras familiares deflagrou processos conflituosos e desagregadores nas famílias, agravados por práticas comointervenções não autorizadas nos terrenos. No Rio de Janeiro, são recorrentes os despejos violentos de agricultores familiares e pescadores, sem indenização e aviso prévios. Em ambos os Estados, o empreendedor derruba cercas, casas, fecha caminhos, finca placas, forçando o abandono das terras, das criações e lavouras.

·         Tais pressões inviabilizam  o direito à justa negociação e ao tratamento isonômico, conforme critérios transparentes e coletivamente acordados;

·          Violação do direito de ir e vir – Em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, caminhos seculares que interligavam comunidades foram fechados; no Açu, os pescadores se encontram impedidos de acessarem as lagoas e realizarem suas pescas durante a semana;

·         Violação dos direitos das comunidades  tradicionais em MG e RJ: a reprodução de práticas e modos de vida tradicionais foi inviabilizada pelo empreendimento, assim como o acesso e a preservação de bens culturais. Em Minas Gerais, territórios familiares e lugares de memória foram fragmentados ou tornaram-se inacessíveis às comunidades locais; a mineração inviabilizou o turismo cultural. No Rio de Janeiro, conhecimentos tradicionais acumulados pelas famílias no cultivo da restinga foram desconsiderados, e inviabilizou-se a pesca artesanal;

·         Violação do  direito de proteção à família e aos laços de solidariedade social e comunitária: procedimentos de negociação fundiária obscuros e violentos fragmentam as famílias, enquanto os reassentamentos já realizados não atendem à necessidade de manter os laços de solidariedade preexistentes;

·         Violação da dignidade e bem estar de grupos vulneráveis, com direito à proteção especial: idosos vêm sendo alvo de pressão e sujeitados a reassentamentos compulsórios que não permitem a reprodução de seus modos de vida.

Os protestos, as diversas denúncias, as sérias objeções ao Projeto Minas-Rio, já relatadas em órgãos e audiências públicas e nas instâncias administrativas responsáveis pelos licenciamentos,não têm sido suficientes para barrar a implantação desse empreendimento, que se sustenta pelo uso da violência e pela afronta às leis, aos direitos e à dignidade da pessoa humana.

Chamamos a sociedade brasileira a se indignar com essa situação de arbítrio e a aprofundar a solidariedade ativa com os agricultores e pescadores, de modo a impedir a continuação de todos esses crimes.

Assinam esta carta:

Atingidos pelo Projeto Minas - Rio;
Associação dos Produtores Rurais e Imóveis do Município de São João da Barra -ASPRIM
Brigadas Populares;
Coletivo Margarida Alves – Assessoria Popular;
Comissão Pastoral da Terra  – CPT;
Comitê Popular de Erradicação do Trabalho Escravo/NF.
Forum Nacional da Sociede Civil nos Comites de Bacias Hidrográficas;
Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais  – GESTA/UFMG;
Grupo de Trabalho em Assuntos Agrários - Associação dos Geógrafos Brasileiros/AGB, Seção Rio de Janeiro e Niterói;
Grupo Políticas, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade da Universidade Federal de Juiz de Fora - PoEMAS/UFJF;
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE;
Laboratório de Cenários Socioambientais da Pontíficia Universidade Católica /PUC Minas Gerais;
Mariana Criola - Centro de Assessoria Popular
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas  – MLB;
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra  – MST
Movimento pela Serras e Aguas de MInas - MovSAM;
Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos da Universidade Federal Fluminense – NERU/UFF;
Núcleo de Estudos em Estratégias e Desenvolvimento do Instituto Federal Fluminense – NEED/IFF;
Núcleo de Estudos Socioambientais da Universidade Federal Fluminense
 – NESA/UFF;
Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de janeiro - PPFH/UERJ;
Rede Nacional de Advogado/as Populares – RENAP.
Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Aduenf.
Unidos por Conceição - UNICON.  

3 comentários:

Anônimo disse...

Blá, blá,blá,blá,blá,blá e mais blá,blá,blá,blá,blá...

Anônimo disse...

direito dos outros são dos outros né?

douglas da mata disse...

Roberto, estranho é a UENF não se posicionar institucionalmente, ainda que através de um laboratório ou centro, haja vista que ela funcionou como ponta de lança ao desmascarar as empresa X e o crime ambiental que praticaram ao salinizar as águas da região.