quinta-feira, agosto 14, 2014

Campos, Santos e o dia seguinte que continua seguindo em frente

No final da manhã de ontem, eu estava aqui no Rio, concluindo uns trabalhos e respondendo correspondências na internet, quando antes de sair para a rua a fim de resolver algumas questões, eu dei uma olhada geral nas últimas notícias.

Assim, eu li no meio de várias manchetes no Valor Online, uma notícia de que um helicóptero havia caído em Santos. Cliquei para saber do que se tratava. No primeiro momento o que me passou pela cabeça, foi a ideia de que a região de Santos, com o aumento da exploração de sua bacia petrolífera, poderia estar entrando nas preocupações que rondam a nossa região do Norte Fluminense há décadas, com os acidentes no transporte de passageiros para as sondas e plataformas de produção, no litoral da Bacia de Campos.

A notícia era pequena e dizia não ter ainda informações sobre a empresa e vítimas. Pensei em dar uma nota no blog fazendo esta relação, mas, como não se tinha dados fiquei apenas com o fragmento da informação guardada.

Menos de meia hora depois, já no táxi, meu filho me dá a notícia vendo no seu celular, que o acidente em Santos tinha sido com um pequeno avião e que causara a morte do ex-governador Eduardo Campos e seus assessores.

Assim, a trágica notícia do acidente unia não a Campos, cidade e nome da maios importante bacia petrolífera do país, à Santos, mas, Campos político e um dos três fortes candidatos à Presidência da República.

Em meio a uma série de compromissos durante toda a tarde no centro do Rio, eu, em meio a um lanche ou café li e até postei alguns breves comentários com a minha lista de contatos no Facebook.

A primeira evidentemente era a de lamentar a morte violenta, o peso para a família e amigos diretos e para a nossa jovem e parece que "marcada" democracia.

A segunda foi a de identificar a mudança que o fato, irreversivelmente, trazia para a disputa presidencial que marcará o destino da nação, considerando a proximidade do pleito de cerca de cinquenta dias.

Mais uma vez, a emoção e a comoção já comum em eleições se juntaria à política em nosso país, em decorrência da perda e da forma com que tudo acontecia.

Por mais que o momento fosse de comoção e assim todos os líderes políticos se posicionariam, como era de se esperar, as conjecturas eram desdobramentos quase naturais. Ouvi isso dezenas de vezes nas ruas e esquinas no centro do Rio: "lamentável, mas, e agora como fica?"

Ainda ontem, neste mesmo instante, pensei como é duro e pesado o fardo para as famílias de políticos, o fato de terem que dividir momentos como estes, que são únicos, mas que misturam sentimentos e consequências tão diversas para as pessoas. Desde mãe, mulher, filhos e irmãos, aos que possuem outros tipos de relações. Nesta hora é ainda mais difícil entender e aceitar os "salamaleques" da política em que calorosas manifestações, nem sempre guardam sinceridade, e sim interesses em seus propósitos e meio.

Porém, tudo isto, por mais duro e cruel que seja é real. A vida para além da política impõe continuidade. Falei sobre isto também no FB quando comentei sobre o embaralhamento que o fato produzia na política e na disputa presidencial. Ainda mais no caso do PSB, onde há quase um ano, uma candidata mais bem postada nas pesquisas, ao não ter conseguido atender à Justiça Eleitoral, em suas exigências legais, acabou obrigada a desistir da disputa deste ano, ou a se alinhar a outro projeto.

O martírio parece que será duradouro pelas circunstâncias lamentáveis em que além das mortes de sete pessoas, materialmente, só se tem e sobrou fragmentos.

A junção entre os grupos até aqui foi tênue e muitas vezes tumultuada. Só não foi pior ou se desestruturou, pela liderança das duas lideranças que enxergavam a dependência que um passou a ter do outro.

Em meio a tudo isto não consigo ver chance da Marina não ser candidata. Evidente que para isto se tornar fato, as condolências, o velório e o enterro do governador terão que acontecer.

Na segunda, 19, iniciam as campanhas de televisão que terão que ser todas refeitas. Não que se trate de uma nova eleição, porque há as demais candidaturas posicionadas. Porém, muda o tom, da campanha, dos debates e aumenta sobremaneira o peso da comunicação e da criação de fatos e de disputa de hegemonia pelas suas interpretações.

Isto serve a quem não estava gostando do quadro antes do acidente e vê no suas consequências mudanças, que também não são simples. O tempo é curto. Os desdobramentos terão no seu âmago uma marca menor da lógica da política e o incremento da comoção, que pode ser perigosa tanto a quem pensa em usá-la, como a quem também pensa se postar com cuidados demais para aguardar os desdobramentos.

As pesquisas eleitorais anteriores perdem suas séries históricas. As novas como a que o Datafolha começa a fazer hoje pode também ter influência (real ou criada) mutável mais adiante pela realidade que o tempo imporá. Evidentemente elas ficam à mercê de manipulações como as reportagens de cobertura do fato.

Talvez, tenha passado despercebido para alguns o fato que foi Roberto Marinho que ligou para FHC para lhe dar a notícia, minutos depois de sua confirmação, o que permite a insinuação (talvez apenas maldosa de minha parte) da articulação cotidiana entre ambos no processo em vigência.

Também não passou despercebida a manifestação americana inusual em situações similares. Ou ela demonstra o peso que o Brasil passou a ter no cenário mundial que muitos negam, ou, o que de certa forma também confirma, a hipótese, a eleição brasileira é acompanhada em detalhes, minúcias e interesse pelo poder americano.

Compartilhei no início da noite de ontem no FB, um texto do editor do ótimo portal de notícias e análises "Outras Palavras" Antônio Martins (veja aqui) que, mesmo, quase 24 horas depois de postado, ainda expressa um pouco do que penso sobre as consequências das alternativas de atuação da Marina em sua candidatura.

Marina será candidata, mas, não dos socialistas. Marina não tem base social para um projeto desta envergadura, mas, tem potencial, para se apresentar como "out-sider" da política, embora, não fosse nada sem ela. Assim, poderá resgatar uma parte dos votos indecisos, mas, tem mais potencial para avançar sobre a base dos tucanos que podem estar mais assustados que os apoiadores de Aécio.

A falta de base social e partidária de Marina (Campos tinha um pouco das duas, mais a segunda) todos sabemos a quem agrada, no intuito de oferecê-la, não sem trocas e compromissos.

O quadro eleitoral é complexo porque tumultua ainda mais os apoios cruzados partidários entre candidaturas presidenciais e de governadores pelos estados. Acordos firmados com Campos podem não ser cumpridos por Marina e vice-versa.

Quem pensava e já traía, pode agora ter com o trágico fato, o argumento de que o cenário é outro. Isto tenderá a ser mais comum. Se de um lado isto pode pontualmente interessar à disputa de daqui a 50 dias, de outro, traz nódoas para uma política que se pretenda menos ardilosa e de espertos e mais altruísta de objetivos coletivos e de interesses da nação.

Enfim, aí segue a vida a nos mostrar diariamente a proximidade de nossa finitude e a certeza de que o dia seguinte será como outro qualquer, para quem ainda poderia ter alguma dúvida.

Há que se desejar à família força para enfrentar a dureza da perda, mas, aos seus amigos e aliados políticos, se espera e deseja, que pensem a nação (muito maior que cada um de nós) e aos que mais necessitam dos governos, e assim hajam de forma a honrar sua história que o que ao final restará.

PS.: Atualizado às 20:22 para corrigir algumas passagens do texto truncadas pela ausência de revisão.

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