terça-feira, dezembro 15, 2015

Acionistas minoritários reagem a fechamento de capital na Prumo controladora do Porto do Açu

O blog tem recebido comentários em notas e emails com questionamentos sobre a decisão do fundo de investimentos americano EIG que controla a holding Prumo Logística Global S.A. proprietária do Porto do Açu. As reclamações são grandes e as desconfianças muitas.

Um dos emails recebidos traz um texto que seria assinado pelo Antonio Carlos Martins, acionista minoritário da Prumo Logística Global. O blog, mesmo desconfiado com oda esta movimentação que cerca o empreendimento decidiu publicar o texto abaixo.

O objetivo com a publicação é a ampliação do conhecimento sobre as articulações que colocaram em lados opostos o acionista majoritário x acionistas minoritários do empreendimento, mesmo sabendo que este debate tem como base apenas negócios e interesses por lucros:

Carta aberta de um acionista da Prumo

"Ao propor a intenção de fechar o capital da Prumo Logística Gloval a EIG Global Energy Partners (endereço: 1700 Pennsylvania Ave NW # 800, Washington, DC 20006, Estados Unidos, , vizinha da Casa Branca), empresa americana, estará expulsando alguns milhares de pequenos acionistas brasileiros e transformando em território americano, uma área de 90 km² estrategicamente situada em nosso país no estado do Rio de Janeiro. 
O Super Porto do Açu foi iniciado pelo Sr. Eike Batista, o qual transferiu para a EIG, em 2013, a parte majoritária das ações (na época pouco mais de 50%), essa operação foi feita através de um aumento de capital de R$ 1.300.000.000,80 correspondentes a um acréscimo de 1.083.333.334 ações. Passado aproximadamente um ano a EIG efetuou um novo aumento de capital, desta vez na ordem de R$ 650.000.000,00 correspondentes à 1.000.000.000 de novas ações, diluindo drasticamente as ações dos minoritários e tornando-se dona de 74,3% das ações. 

Agora, passado pouco mais de dois anos, a empresa informa ao mercado, através de Fato Relevante, que tenciona fechar o capital da empresa pagando aos acionistas minoritários o valor máximo de R$ 1,15 por ação. Existem em circulação no mercado 713.165.858 de ações correspondentes a 25,7% do total das ações da Companhia. O valor proposto para ser pago pela parte dos minoritários perfaz um total de R$ 820.140.736,70, correspondentes à aproximadamente 212 milhões de dólares. 

De onde podemos concluir que: se 25,7% das ações valem aproximadamente 212 milhões de dólares, o porto inteiro estaria valendo 825 milhões de dólares, pela avaliação da EIG. Vale ressaltar que esse mesmo porto foi avaliado em 2012 pelo BofA Merrill Lynch em 2,5 bilhões de dólares, demonstrando com isso que a EIG subavaliou o Porto ao lançar um preço 3 vezes menor do que o valor avaliado há 3 anos atrás. 

Aproveitando-se de uma situação de baixa generalizada no mercado de ações do nosso país, a empresa americana nos apresenta uma proposta num valor muito abaixo do real valor da empresa, comportamento típico dos fundos abutres muito comuns no mercado financeiro na atualidade. Um flagrante dano moral e patrimonial aos direitos individuais dos pequenos acionistas que estarão sofrendo um vilipêndio moral e econômico caso essa proposta aviltante prospere. 

Essa afronta à soberania nacional, intencionada por essa empresa que adota práticas comerciais típicas dos fundos abutres, deve ser rechaçada por nossas autoridades (assim esperamos). Esse patrimônio de incalculável valor não pode ser arrancado de nossas mãos de maneira tão torpe e desprezível. Para cúmulo da ironia, o maior financiador da EIG no Brasil é o nosso BNDES. Além da mega diluição da ação pelos dois aumentos de capital praticados pela empresa em curto espaço de tempo, passando de 694.141.377 para 2.777.474.711 ações, o valor da cotação também foi muito castigado por refletir o preço de uma empresa pré-operacional com sucessivos resultados negativos em seus balanços trimestrais.

Alguns setores da empresa começaram neste ano a entrar em operação com repercussão na cotação, que iniciou uma lenta recuperação. Todos os acionistas minoritários estavam exultantes, pois parecia que o longo período de insegurança, prejuízos e preocupações estava chegando ao fim, mas qual não foi a nossa surpresa quando recebemos um Fato Relevante nos informando que a empresa pretendia fechar o capital, e para tornar o cenário ainda mais assustador e revoltante, o valor ofertado sequer devolvia o nosso capital aplicado, muito pelo contrário: fazia uma correção negativa, uma espécie de cobrança por termos participado na construção da empresa, ou seja, na hora da recuperação do investimento feito nós não participaríamos. 

A oferta de R$ 1,15 por ação seria baseada na média das cotações dos últimos 90 dias antecedentes a 04/12/15, período ainda de uma cotação muito desvalorizada, reconhecida pelo próprio CEO da EIG Mr. Robert Blair Thomas o qual recentemente declarou "O MERCADO ESTÁ SUBESTIMANDO O VALOR DESTA EMPRESA EM UMA ORDEM DE GRANDEZA”.

Interessante ressaltar que antes da EIG assumir o Super Porto do Açu, o dono anterior, Sr. EIKE BATISTA, também havia proposto uma OPA pelo valor de R$ 3,13 por ação, tendo desistido de sua realização porque o valor avaliado pelo BofA Merrill Lynch foi de R$ 7,285 por ação (fato ocorrido em 2012). 

Passados três anos, período no qual o projeto recebeu bilhões de reais em novos investimentos tendo em consequência um impulso significativo nas obras (algumas já finalizadas), novos contratos assinados (tanto de novas locações, como importantes parcerias), dentre as quais: 

- a Edison Chouest que está construindo no Porto do Açu a sua maior base operacional no mundo com mais de 1.000 metros de cais no porto; a Oiltanking que pagou 200 milhões de dólares por 20% do terminal de petróleo (consequentemente avaliando somente o terminal de petróleo em 1 bilhão de dólares); 
- a Votorantim no T-Mult exportando bauxita e outros materiais;
- a Anglo American exportando minério de ferro... e tantas outras empresas já instaladas e funcionando. 
No momento em que o maior Porto Privado da América começa a entrar em operação e poderia possibilitar a recuperação dos prejuízos arcados pelos sócios minoritários, vem a empresa majoritária propor uma OPA por preço vil, isso pode até ser legal diante dessa nossa legislação ultrapassada, mas com certeza altamente imoral e injusta.

Comparando os valores avaliados pelo BofA Merrill Lynch em 2012, em aproximados 2,5 bilhões de dólares e levando-se em consideração todos os investimentos aplicados no Porto do Açu: contratos de locações de áreas assinados, conclusões de várias obras importantes no Porto, a recente venda de 20% do terminal de petróleo por 200 milhões de dólares (parte esta que não representa nem 10% do total do Porto do Açu), podemos estimar, sem receio de erro, um valor aproximado de cinco bilhões de dólares pelo Porto, atualmente. 

Alguma coisa não fecha nas contas da EIG ou no mínimo foram precipitados, pois de existem 713.165.858 ações em circulação no mercado, correspondentes a aproximadamente 25,7% do total de ação da Companhia, o valor pensando pela EIG de 1,15 por ação redundando num valor de R$ 820.140.736,70 para fechamento de capital. Com isso a EIG nos informa que a empresa vale 2.777.474.711 x 1,15 = R$ 3.194.095.917,65 ou US 824.538.158,31 fazendo o câmbio pelo valor de fechamento do dólar comercial de sexta-feira, dia 11/12/2015 que foi de R$ 3,8738, logo a avaliação da EIG pelo total do Porto ficou bem abaixo de 1 bilhão de dólares: 

Em FR de 06/08/2015 a Prumo divulgou: A Prumo Logística S.A. (PRML3) comunica que assinou contrato com a Oiltanking, referente a aquisição de 20% do Terminal de Petróleo do Porto do Açu pelo valor de U$ 200 milhões. Logo se 20% do Terminal de Petróleo do Porto do Açu vale 200 milhões de dólares, consequentemente só o terminal de Petróleo do Porto do Açu vale 1 bilhão de dólares. Então, como todo o Porto vai valer menos do que apenas uma parte dele que não chega nem a 10% do seu valor total? 

A simples comunicação da EIG que pretende ofertar um valor máximo tão abaixo do valor real e potencial do ativo além de enganoso foi extremamente danoso a precificação do ativo no mercado, pois mesmo que essa OPA indecorosa não venha a ser concretizada como achamos que não será pela séria de inconsistências existentes além das aqui nominadas , pois temos registradas em nosso fórum diversas declarações do próprio CEO da EIG e também do Presidente da Prumo, recentemente desligado da empresa, sobre projetos em andamento que neste momento não estamos citando neste texto, mas que estamos buscando e lançaremos num segundo texto . 

Um patrimônio que numa avaliação simplista estaria hoje na ordem de cinco bilhões de dólares, não se considerando suas possibilidades futuras, pois aí então o seu valor sofreria uma elevação estratosférica, foi subavaliado pela EIG ao ameaçar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) pelo valor irrisório de R$ 1,15 por ação o que importaria num valor total para o porto na ordem de 850 milhões de dólares, um valor menor do que um terminal de petróleo do Porto que não representa nem 10% do total da obra. Ou seja, quando vendeu recentemente uma PEQUENA PARTE do porto foi avaliado em 1 bilhão de dólares, agora quando quer comprar o Porto TODO é avaliado, pela mesma EIG, em menos de 1 bilhão de dólares.

Este porto teve o seu início com a desapropriação de terras pelo estado do Rio de Janeiro de milhares de brasileiros que ocupavam essa área de 90 km² de extensão, e agora se repete mais uma e definitiva expulsão de brasileiros: serão mais de 8.000 pequenos acionistas que terão destruídos os seus sonhos de fazer parte de um (prometido) grande projeto privado nacional, mas que em pouco mais de 2 anos, foi absorvido por essa empresa americana, que chegou alardeando aos quatro ventos que trabalhava na busca de valores para os seus acionistas. Infelizmente, não foi isso o que se viu. Essa grande empresa americana, em jogadas manipulativas de mercado, pretende nos alijar do investimento sem sequer nos pagar o valor que nela aplicamos.

Se esta OPA se concretizar teremos no Brasil algo parecido do que aconteceu em Cuba com a apropriação da Baía de Guantânamo, uma área de 116 km², que passou a ser território americano dentro de Cuba. O Porto do Açu, com 90 km², o maior projeto brasileiro de empresa privada, estrategicamente localizado e vital para a segurança nacional, sendo de inteira propriedade da empresa americana EIG, teremos no estado do Rio de Janeiro, dentro do território brasileiro, uma área de 90 km² exclusivamente americana. Uma afronta à soberania nacional que o atual governo parece nem estar tomando conhecimento do que está acontecendo, muito embora o BNDES seja o maior financiador deste empreendimento. 

O Açu foi considerado pelo EIG como “a joia da coroa”. A gestora americana acredita que o porto tem enorme potencial de valorização e pode se tornar uma base logística essencial para a exploração do pré-sal. Próximo à Bacia de Campos e acessível à Bacia de Santos, o complexo ocupa área maior do que a da ilha de Manhattan, em Nova York. (Publicado no Estadão em 23 Janeiro 2014)

Esse texto foi elaborado e redigido por Antonio Carlos Martins, acionista minoritário da Prumo Logística Global. Autorizada a sua reprodução desde que não sofra modificações e identificada a sua autoria."

4 comentários:

douglas da mata disse...

Bem, se eu fosse um cara cruel, riria da cara desses "frágeis" acionistas.

Uai, isso é capitalismo, that's business...

Agora, somente agora, quando a naba entrou no fiofó deles, eles falam em "soberania" ou violação do espaço fluminense.

E claro, o preço saiu, como sempre, baratinho.

Nós, dos blogs independentes, denunciamos desde o início o enorme rol de maracutaia que envolviam essa grilagem oficial do espaço do Açu, e sofremos uma saravaida de críticas e xingamentos.

Pois é, esse jogo é para gente grande...

Caíram no conto do paco...(ou, dos valores dos acionistas).

Otários.

Manoel Ribeiro disse...

Em apoio ao comentário do Douglas da Mata;
- Quando os proprietários de pequenos sítios e chácaras foram expulsos de suas terras, quem os defendeu?
- Quando a pacata São João da Barra (que saudades daqueles carnavais na infância) se transformou em uma cidade violenta, quem reclamou?
- Quando o mar começou a invadir a praia do açú porque a areia ia e não voltava mais, quem se preocupou?
- Quando a água do subsolo ficou complemente salinizada, quem viu que deu ruim?

Agora, quando aqueles que acreditaram nos "power point" do Sr Batista perdem um dindin porque caíram no conto da carochinha, sabe quem vai defendê-los?

Aguardem, aqui vai uma profecia: isso é só o começo... Campos ainda vai sofrer muito com esse porto. O progresso tem o seu preço.

Manoel Ribeiro

Unknown disse...

Querido Douglas, sou pequeno proprietário na estrada da granja, vizinho da querida dona Noemia,e pertenço a família Batista Ribeiro, e gostaria muito de parabenizá-lo pelo comentário bem abalizado, quando a maioria de nós fomos expulsos de nossas terras, só os pequenos foram,pouquíssimos tiveram a coragem e a ombridade de nos defender, a grande maioria, como de costume, tomaram o lado mais forte e falaram que a região precisava se desenvolver e que se danassem os pequenos, agora eu um dos atingidos com o roubo de minhas terras digo aos pequenos investidores: "engulam o choro", "engulam o choro", "engulam o choro", pois agora vocês estão sentindo na pele como é ruim ser roubado sem ao menos poder se defender.

levy disse...

Sou acionista da Prumo e lamento não só pelos que perderam suas terras, mas também pelos investidores da empresa.
Num país onde o desrespeito impera, e onde vemos os próprios ‘brasileiros’ marginalizando outros ‘brasileiros’, temos aqui uma empresa americana a querer, como disseram, fuder nosso fiofó.
Ingênuo enxergar o mercado de capitais como um mar sereno sem considerar a hipótese de altas ondas. Não existe lugar para chororo, mas para reivindicações.
O que se trata aqui são dois assuntos distintos: de um lado um acionista que desabafa e tenta impedir uma covardia corporativa em que o mercado de capitais e a CVM deveriam coibir; do outro, moradores indignados que tiveram sua terra expropriada e sua história desrespeitada, mas todos, ambos os lados, tratados sem a devida consideração, execrados a algo próximos a lixo.
Compreende-se o ressentimento dos moradores, reações de quem sentiu na própria pele experiências ímpares. E nesse rolo de mágoas entram os acionistas que investiram na empresa, estes alvos da metralhadora giratória dos primeiros, por serem considerados coautores do ato praticado contra os que perderam suas propriedades.
De qualquer forma, cada um a seu modo, todos vítimas.
Os moradores (muitos investidores do mercado de capitais) fazem rescaldo e exalam desforra.
Os acionistas lutam para não cair na mesma vala.