terça-feira, dezembro 29, 2015

Disputa para base logística se amplia entre ES e RJ

No ano passado o estado do Espírito Santo pressionou a Petrobras por conta da forma de licitação para contratação de bases portuárias, para dar apoio às explorações offshore de petróleo, para atendimento da Bacia do ES.

Uma comissão com governador capixaba, mais os senadores e deputados federais pressionaram contra as regras da licitação, que acabou com a americana Edison Chouest ganhando a licitação, para operar junto ao terminal 2 do Porto do Açu. A resistência à licitação também aconteceu por parte da Prefeitura de Macaé que temia o enfraquecimento da base de Imbetiba.

Por conta das conversas entre as autoridades do estado do Espírito Santo e da estatal divulgou-se que nova licitação fora acordada, para atender a bacia petrolífera do estado.

Adiante, já em 2015, com a ampliação da crise do baixo preço do barril, levou à redução de custos e à revisão de projetos, por parte tanto da Petrobras, quanto das demais petroleiras no Brasil e em todo o mundo.

Assim, o Terminal Industrial Multimodal da Serra (TMIS), onde a Petrobras opera já há mais de uma década, uma área de 230 mil m² para armazenamento de materiais e equipamentos deverá ser transferida para o Porto do Açu, segundo reportagem do jornal capixaba, A Gazeta. (Veja aqui)

Base portuária que a Edison Chouest implanta
no Porto do Açu para atender à Petrobras
A disputa entre os dois estados para ser uma base de logística vem crescendo nos últimos anos. O fato dos dois estados serem litorâneos, com litoral com extensão parecidas e ambos, vizinhos do estado de Minas Gerais, que possui grandes reservas minerais amplia esta competição.

A exportação de minério de ferro em grande quantidade, no início da década de 80, começou a ser feita pela Vale, através do Porto de Tubarão. Em volume exportado por décadas Tubarão esteve na liderança em todo o país, até pouco tempo, quando a exportação pelo Porto de Itaqui no Maranhão passou a dar a vazão à extração feita na Serra dos Carajás, no Pará.

Enquanto isso, o Estado do Rio de Janeiro pelos terminais da Vale e da CSN, junto ao Porto de Itaguaí na Baía de Sepetiba, também passou a exportar minério de ferro. Agora, o ERJ tem mais, o Porto do Açu e o Porto Sudeste, também em Itaguaí exportando o minério de ferro.

As bases de apoio portuário para exploração offshore, a Bacia do ES foi atendida por Macaé e por pequenas áreas, em terminais do Porto de Vila Velha (CPVV) e pelo Terminal de Serra (TMIS).

Nos últimos anos com a expansão da exploração da Bacia de Santos e das reservas do Pré-Sal, terminais na Baía de Guanabara, nos portos do Rio e Niterói passaram a atender boa parte desta nova demanda. Assim, o ES esperava ter uma base para atender a exploração em seu litoral.

Localização desenhada para o Porto de Ubu da Petrobras
O estado do ES também reclama outros projetos da Petrobras que não foram levados adiante. Um base portuária em Ubu, no município de Anchieta, próximo ao terminal da Samarco, fez parte de um protocolo de intenções assinado em 2007. Ele tinha previsão de inciar obras em 2013, mas o projeto foi descartado, depois que as explorações direcionaram a expectativas para o Pré-sal na Bacia de Santos. (Veja outros detalhes em nota do blog aqui em setembro de 2010)

Um terminal de GNL (Gás Natural Liquefeito) também chegou a ser projetado para Aracruz, junto a um terminal portuário já existente, mas as intenções não foram para frente.

Um Polo Gás Químico também chegou a ser aventado em Linhares, num projeto de investimento de US$ 4 bilhões, mas não saiu da especulação e de intenções.

Também foi muito comentado as negociações para que o polo naval da coreana Jurong que foi implantado e agora está paralisado pela crise do setor, fosse para o Açu, numa articulação que tinha como interesse o empresário Eike Batista, junto da OSX, ainda antes da crise do grupo EBX. Na ocasião o fato gerou tensões entre os dois estados (Veja nota do blog aqui, em março de 2013)

O blog já comentou aqui algumas vezes que a crise do preço das commodities tendia a beneficiar o Porto do Açu, na medida em que o projeto, mesmo com atrasos no cronograma e com muitos problemas técnicos e financeiros, levava vantagens sobre os diversos projetos portuários que surgiram, no período entre 2008 e 2014, no litoral capixaba e fluminense.

Projeto do Porto Central em Presidente Kennedy, ES
A maior parte deles passou a estar vinculado às demandas relativas à apoio portuário à exploração de petróleo e fabricação e manutenção de embarcações para este fim. Até mesmo, o projeto do Porto Central, em Presidente Kennedy, no sul capixaba, liderado por gestores do Porto de Roterdã, na Holanda, já sofre com ausência de investidores para este tipo de atendimento.

Embora, o projeto ainda esteja em fase final de licenciamento ambiental (ver nota do blog aqui), o desenho do projeto demanda a presença de investidores, que por conta da crise co, o preço das commodities tende a ser mais difícil de ser obtido, apesar de toda a experiência e conhecimento que o pessoal de Roterdã tem junto a operadores marítimos e portuários, profundo conhecimento de rotas e ainda, do design de negócios e articulação que eles projetaram entre um porto aqui, na América do Sul, em triangulação com o de Roterdão, no Norte da Europa e com outra joint-venture em Dubai, na Arábia.

Enfim, a disputa estratégica entre os dois estados ainda terá muitos outros capítulos pela frente. É ainda interessante relembrar o projeto da ferrovia EF-118 que interligaria os portos da região Sudeste, desde Vila Velha, no Espírito Santo, o sul do Espírito Santo, Açu, Macaé, Itaboraí e Itaguaí, onde se encontraria com os ramais da MRS Logística, que liga ao Porto de Santos e à Belo Horizonte.

Sob o ponto de vista econômico esta integração parece mais interessante do que a disputa entre os estados. De certa forma ela se parece com a disputa dos municípios, naquilo que chamamos de "guerra dos lugares" que tende a trazer benefícios para o capital, em detrimento das populações.

Enfim, vale observar os fatos que tendem a se intensificar, sobre esta disputa da importância estratégica dos Centros de Logística, que estes dois estados do Sudeste acabaram projetando em seus planos estratégicos de desenvolvimento econômico. As infraestruturas portuárias e a relação com a exploração petrolífera ajudam a explicar as bases materiais sobre esta dinâmica econômico-espacial.

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