segunda-feira, fevereiro 04, 2013

A espuma da morte

Sei que muitos estão já fartos dos detalhes e das explicações sobre os problemas na boate de Santa Maria que causou tanta desgraça e mortes. Ainda assim, retornarei ao tema, que, só abordei antes aqui para falar da confusão entre a busca das causas e das responsabilidades (culpas).

Hoje a abordagem é outra, mas, nem tão diversa assim da busca das causas.

Já ficou evidente que a fumaça tóxica matou a grande maioria dos jovens e ainda combali outros tantos nos hospitais gaúchos.

Devo confessar que mesmo militando na área de engenharia de segurança do trabalho, eu não sabia que a queima daquela espuma acústica gerava o cianeto, um dos mais mortais gases. Infelizmente, só a tragédia possibilitou espalhar esta informação.

Ainda nas abordagens técnicas, há outra, esta sim, de meu conhecimento e uso nas aulas, que ainda não vi comentado nas matérias e debates sobre a tragédia, que a espuma utilizada na boite de Santa Maria (veja na imagem ao lado) e, em tantos outros lugares de espetáculos e estúdios, não tem a função de bloquear ou isolar o som para que ele não “vaze” para o exterior.

O que isola som é construção pesada, paredes duplas, vidros duplos, etc. e não materiais macios e curvos como aquelas espumas. A função delas é outra diferente da isolação. Estas espumas servem para melhorar o som no ambiente interno, no caso, da boate.

As espumas evitam o eco, absorvem o som, pela superfície macia e porosa, e pela semelhança ao desenho de casca de ovo, desviam a pequena quantidade de som que reverbera, para diferentes direções e não apenas para uma única que gera eco e distorções, que neste caso são extremamente diminuídas, dando mais nitidez ao áudio das músicas.

No caso específico de Santa Maria, não saberia dizer qual a finalidade que se esperava da espuma acústica, se para a equivocada tentativa de isolar o som das músicas do interior da boate, ou para a qualidade do som do ambiente interno. Repito: a espuma não tem função de fazer isolamento acústico.

O fato é que a instalação daquele tipo de espuma acústica da boate (que é quase a totalidade de todas as usadas em boates e estúdios), na sequência da equivocada pirotécnica, acabou sendo causa da maioria das mortes, embora consequência desta.

Sendo assim, é oportuno que os dois aprendizados, ambos de natureza técnica, sejam absorvidos por uma quantidade maior de pessoas e não apenas especialistas.

Mesmo sendo macabra, a análise da tragédia, suas causas e consequências, devem obrigatoriamente, servir para aperfeiçoar e ampliar nosso conhecimento sobre prevenção de acidentes. E isto, não tem nada a ver com oportunismos que surgem até nas tragédias. 

PS.: Atualizado às 18:18: Mais cruel ainda é se a espuma estava sendo usada entre o rebaixamento de gesso e o teto de alvenaria e não exposta como superfície do teto, porque neste caso, ela não teria nenhuma serventia de isolamento e nem de absorção do som para evitar reverberação. No caso da boate de Santa Maria parece que isto ainda não ficou claro nas investigações levada a cabo e/ou divulgadas até aqui.

5 comentários:

Anônimo disse...

O problema professor, é que aquilo não deve ser espuma acústica, usada em tratamento acústico da superfície, tanto que, segundo notícias que circulam na internet, foi adquirida numa loja de colchões.

Roberto Moraes disse...

Na verdade, na imensa maioria dos casos estas espumas são similares quanto ao resultado de absorver o ruído e evitar a reverberação. Sendo vendida em lojas especializadas ou lojas de colchão. A diferença quanto ao resultado acústico de absorção é pequena.

O equívoco é de usá-la para isolar ruído, aí, o gesso, madeira, paredes falsas, tudo isto é mais eficiente para isolar, mas, não para evitar a reflexão (reverberação)do som (ruído).

A grande diferença é quanto ao tipo de material e as consequências em caso de incêndio.

Só que até este episódio isto era muito pouco levado em conta, até porque já se subentendia que elas eram altamente inflamáveis como os plásticos, a não ser, os especiais.

O seu uso demandaria uma detecção, um controle e prevenção de incêndio bastante eficaz, como sensores, sprinkles (chuveiros automáticos) para limitar e combater o início de incêndio de uma forma eficaz e rápida.

Sds.

Anônimo disse...

Infelizmente, os fiscais são poucos para tanta desordens, em nossa cidade de Campos dos Goytacazes. multiplicaram os salões de festas e eventos em praças publicas e igrejas que além de fazer barulhos nos bairros não oferecem neuma prevenção contra incêndios, avalanches, tumultos, tiroteios etc. Muitos imoves que são sede dessas desorganizações, somente tem uma saída e na maioria é uma estreita escada. Não foram projetadas para estes tipos de eventos. Estamos sujeitos a morrer a qualquer momento em uma festa .

Marcelo Siqueira disse...

Professor
Permita-me discordar de você, já vi casulos de compressores envolvidos com espuma e também têm os protetores auriculares, que são revestidos de espuma e aprovados cpelo IMETRO, como redutores de ruídos, reduzem até o nosso direito a insalubridade, por exposição a ruídos.
Na verdade, não conheço nada sobre essas espumas, é apenas observação,a mas acho que o isolamento tem haver com densidade, espessura e volume. Antigamente usavam caixas de ovos em estúdios, talvez por isso tenham este formato.

Anônimo disse...

Existem 3 tipos de espuma que se utiliza com a finalidade acústica:

1. Espumas de poliuretanos convencionais, com desenho conhecido como “casca de ovo” (base poliéter e poliester) que não possuem tratamento retardante à chama. São utilizadas comumente no mercado de móveis, colchões, peças técnicas e também em aplicações acústicas por empresas não-profissionais.

2. Espumas de poliuretano que possuem aditivos retardantes à chama em sua formulação. São mais caras (como as espumas da marca Sonex).


3. Espuma de Melamina: é a melhor (e mais cara evidentemente) alternativa quando há preocupação com flamabilidade, pois atende aos requisitos máximos de segurança de acordo com a Norma Técnica dos Bombeiros, a Norma ABNT NBR 9442/1986-Classe A e IT10-Classe A II. Materiais de Construção - Determinação do Índice de Propagação Superficial de Chama pelo Método do Painel Radiante e Ensaio de Determinação da Densidade Ótica Específica de Fumaça pela norma ASTM E 662-92.

A espuma de Melamina (ex. SONEXilltec) é classificada como incombustível emitindo baixíssimos índices de fumaça, sendo o revestimento seguro para qualquer ambiente.

FONTE: Site da OEA Brasil / Sonex