terça-feira, setembro 08, 2015

Ainda sobre o avanço das tradings e bancos sobre a IE no Brasil: dois anos depois - a realidade do DutoX

Dando prosseguimento à breve análise que fiz na nota aqui abaixo, baseado na materialidade dos fatos, o blogueiro, julgou oportuno recorrer ao processo histórico, lembrando fatos anteriores.

Dizem que as análises de fatos mais complexos precisam ser feitos com a distância do tempo para melhor se observar o fenômeno. Na maioria dos casos a premissa acima é não só válida como necessária. Porém, como fugir do interesse em aprofundar a análise de fatos que nos cercam no quotidiano?

Foi com este desejo que há dois anos, mais precisamente no dia 11 de setembro de 2013, logo após iniciado o baque no grupo EBX e no fechamento do acordo de venda do controle da LLX para o fundo americano EIG que postei o texto abaixo ousando interpretar o que estava acontecendo naqueles dias.

Exatamente dois anos depois, dando uma vasculhada numa série de notas e textos que postei sobre os negócios do Açu e que consta da seção do blog do lado direito "As últimas do Complexo do Açu" (agora dividida em duas partes - uma até maio de 2015 e outra das informações mais novas), eu me deparei com este texto que republico na íntegra, da mesma forma que foi feito em 2013 (veja aqui), para análise dos que acompanham o blog e o assunto.

Hoje, o empresário Eike Batista é detentor de apenas 0,26% das ações da Prumo (LLX) que deixou de ser uma empresa da holding (grupo EBX) e passou a ser a holding que controla a empresa Porto do Açu, além de diversas outras empresas, a maioria em sociedade (joint-venture) com empresas estrangeiras, como é o caso da FerroPort (com Anglo American), Açu Petróleo, G3X, GSA entre outras.

quarta-feira, setembro 11, 2013


MMX vende Porto Sudeste e grupo EBX vai se transformando em DutoX

O porto Sudeste localizado na Baía de Sepetiba, em Itaguaí foi avaliado em R$ 4,5 bilhões. Os compradores são o grupo holandês Trafigura e o fundo árabe de Abi Dhabi Mubadala que alocarão mais US$ 400 milhões e assim ficarão com 65% do empreendimento.

Além dos R$ 4,5 bilhões os novos sócios devem ficar com as dívidas da MMX, no valor de R$ 3,4 bilhões que somados dão aproximadamente R$ 8 bilhões valor equivalente a um terço do total de dívidas do grupo EBX de aproximadamente R$ 25 bilhões. Assim como na negociação da LLX com a EIG, a previsão de conclusão do acordo com a Trafigura e Mubadala é de um mês.

A Trafigura é um grupo internacional (que se intitula Trader) com negócios em petróleo e metais. A corporação trans-nacional está instalada em cinco continentes e mais de cinquenta países. Na América do Sul até agora tinha a base de suas operações na Argentina. Seu negócio e negociar e transportar grandes volumes destes materiais (commodities). No ano passado seu faturamento foi de US$ 120 bilhões.

O grupo Mubadala (palavra árabe que significa troca) que já investiu na holding EBX e tem participação na LLX informa que objetiva trabalhar como "catalisador" para diversificar a economia do país produtor de petróleo na Arábia, Abu Dhabi. O grupo tem investimento no mundo todo de mais de US$ 55 bilhões.

Com mais esta confirmação de negociação de participação das empresas "X", na prática, o empresário Eike se estabelece como um verdadeiro "duto". Por ele está fluindo imensos negócios e interesses na direção do Brasil para um posterior fluxo de materiais e capital.

Até o momento estamos falando de corporações alemã, americana, holandesa e árabe, entre outras possíveis. Poderia se dizer que na prática a holding ou grupo poderia deixar de ser EBX para passar a ser DutoX.

Há uma série de questões a ser observada sobre o fato. Uma delas que vem logo à mente é que a entrada de grupos estrangeiros nestes negócios acontecem, depois do licenciamento e do aporte de recursos do BNDES, o que concede garantias e vantagens enormes e interessantes aos grupos que entram nos negócios.

Outra observação é que assim, os negócios deixam de ser de uma pessoa e passa a grupos de investimentos, sem rosto, sem cara e com muitos e conhecidos interesses. Se com controlador nacional as compensações, mitigações e impactos sobre as comunidades já eram grandes imagina-se agora. Momentos de transição são excelentes para serem perdidas e "esquecidas" as exigências e os compromissos, a não ser que o Estado cumpra sua obrigação de regulação e fiscalização.

É também interessante, de outro lado observar, que ao contrário do que alguns falam, o Brasil, enquanto país chamado de emergente oferece uma série de possibilidades de ganhos por estas corporações. Estas vêem aqui capturar o excedente de nossa economia e nossas riquezas.

Com a extrema valorização do minério deste a segunda metade da década passada e logo depois com a confirmação de nossas enormes reservas petrolíferas do pré-sal o Brasil se transformou em atração geopolítica, porque além de não estar no conturbado Oriente Médio é um povo alegre e trabalhador.

As grandes corporações começaram vindo para o Brasil quando de sua industrialização e continuou assim até recentemente. Depois, foi passando para o agronegócios. Segui-se a de telefonia e energia elétrica. Adiante para a área financeira e de seguros, seguiu para a área de serviços, consultoria, saúde, educação, etc. Agora mais recentemente vemos a entrada das corporações na área de concessões de infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos, etc.)

Na verdade, antes de aquisições como estas das empresas X, já vimos diversas corporações trans-nacionais entrando aqui com financiamento do BNDES, como é o caso das concessões e PPPs em que todas foram feitas com garantias de financiamento.

Sofremos riscos de monopólios e carteis como vimos recentemente em São Paulo. Regular estes setores não é algo simples. Há quem enxergue neste desenho a forma de, no curto prazo o país, usando o alto valor atual de nossas commodities, a chance de entrarmos no sistema mundo-global de forma menos subordinada do que fizemos até aqui, tentando reproduzir aqui o modelo do Canadá ou da Austrália.

De outro, há um enorme risco de aprofundarmos nossa dependência, nossa subordinação, não apenas a nações (impérios), mas a corporações que são cada vez mais fortes e controladoras das nações que antes lhes ofereciam o território para suas sedes e hoje, parecem dutos para o capital financeiro e líquido em busca de espaços para instalar o capital fixo.

Para além desta análise mais macro desta realidade cabe, uma análise regional-local sobre o que tudo isto significa, já que temos visto que negociações e contratações locais não acontecem e toda a dinâmica deste processo é decidida e centralizada nas metrópoles, onde a direção do capital é decidida, sem nenhuma intervenção dos poderes políticos ou econômicos regionais.

O que fazer para mudar esta realidade? Como intervir? O que exigir? Não parece simples, mas, ao mesmo tempo, não parece assim, tão complicado se manifestar e se preparar para deixar claro do que não admite que seja feito e o que não se abre mão de que seja garantido e realizado.

A não ser que queira continuar a observar toda esta realidade como um torcedor olha um jogo de tênis, apenas olhando para um lado, ou para o outro, só sendo chamado a atuar para aplaudir.

Para quem vive e pretende intervir nesta realidade seria bom se organizar e entrar em campo, porque, só assim, o jogo pode passar a ser outro.

PS.: Atualizado às 22:52: O novo controlador da MPX, a alemã E.ON. acabou de anunciar que mandou para o espaço ou para o dutoX, o nome antigo da empresa de energia elétrica que agora será a Eneva, sem X, para retirar as digitais. O X que multiplicaria agora foi subtraído. Por enquanto querem se livrar do X, mais adiante veremos. Agora, olhando a logo, parece que tentaram esconder o sol e o X foi só separado. Confiram na imagem da logo ao lado. Oh, marqueteiros!

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