domingo, fevereiro 21, 2016

E a caravana passa: Petrobras coloca em operação + um FPSO e seu maior gasoduto submarino - Rota 2

Enquanto os problemas são enfrentados, a caravana segue seu curso. Entre todas as grandes petroleiras do mundo, a Petrobras, certamente é que enfrenta, na conjuntura atual, os maiores desafios que juntou a fase de colapso de preços no ciclo do petróleo e, ao mesmo tempo, as sérias consequências de gestão da Operação Lava Jato.

Os problemas são gigantescos. Troca de diretoria e de todo o Conselho de Administração. Investigação e punição de seus maiores fornecedores de equipamentos, obras e serviços. Suspensão e redução de contratos para dar conta do cenário e ainda a administração de uma grande dívida, contraída para um ousado projeto de investimentos, planejado na fase de boom, do ciclo da commodity petróleo.

Pois bem, em meio a tudo isto e às reformulações de projetos de todas as grandes petroleiras do mundo, a Petrobras vai seguindo seu curso na condição de uma corporação global, mesmo diante das pressões de todas as pressões do “mercado” reverberada e com forte apoio a mídia comercial, e em parte do judiciário.

Mesmo assim, nos últimos dias, dois grandes projetos estão entrando em operação, com notícias discretas na mídia comercial, mais interessada em bombardear e fragilizar a empresa, e assim facilitar seus "apoiadores" na luta para obter e adquirir os ativos da estatal, assim como mexer na condição da Petrobras, de operadora única das reservas da camada do pré-sal.

Como venho estudando o assunto como alguma profundidade resolvi trazer aos leitores e colaboradores mais detalhes sobre estes dois projetos que estão entrando em operação no meio deste tufão de pressões:

FPSO Cidade de Maricá
O FPSO Cidade de Maricá já foi alocado na área de Lula Alto, no campo de Lula, foi interligado aos poços e deverá estar em produção nestes dias. Ele é sétimo grande sistema definitivo de produção do pré-sal da Bacia de Santos. A capacidade de produção diária do navio-plataforma (FPSO) Cidade de Maricá é de até 150 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás.

A unidade vai produzir, armazenar e transferir petróleo ancorada a uma profundidade de 2.120 metros e a cerca de 270 quilômetros da costa. Com mais este sistema de produção, a camada pré-sal contida nas Bacias de Santos e de Campos já responde por 35% da produção brasileira de petróleo.

Segundo a Petrobras, a consolidação da Bacia de Santos, que responde por 70% da produção da camada pré-sal, vem se dando há pouco mais de cinco anos, com uma média de lançamento de uma grande plataforma a cada nove meses.

A performance da produção tem se mostrado dentre as melhores em termos mundiais, sendo que os quatro primeiros sistemas de produção, instalados entre 2010 e 2014, permanecem produzindo praticamente a plena capacidade (475 mil barris diários de petróleo, com apenas 19 poços produtores) e os três mais recentes, que estão em fase de crescimento da produção, também apresentam o mesmo alto desempenho com relação aos poços já em operação (205 mil barris diários de petróleo com apenas sete poços produtores).

A Petrobras informa que o primeiro desses grandes sistemas a entrar em produção foi o Piloto de Lula, em outubro de 2010 (FPSO Cidade de Angra dos Reis). Na sequência foram implantados o Piloto de Sapinhoá em janeiro de 2013 (FPSO Cidade de São Paulo), o Piloto de Lula Nordeste em junho de 2013 (FPSO Cidade de Paraty), Lula/Iracema Sul em outubro de 2014 (FPSO Cidade de Mangaratiba), Sapinhoá Norte em novembro de 2014 (FPSO Cidade de Ilhabela), Lula/Iracema Norte em julho de 2015 (FPSO Cidade de Itaguaí) e Lula Alto em fevereiro de 2016 (FPSO Cidade de Maricá).

Ainda em 2016, entrarão em operação mais dois grandes sistemas definitivos de produção, o projeto Lula Central (FPSO Cidade de Saquarema) e o projeto Lapa (FPSO Cidade de Caraguatatuba).

Rota 2 pode levar à redução de importação de gás pelo Brasil
A segunda importante instalação que entrou em funcionamento no dia 12 de fevereiro é o maior gasoduto submarino (401 km) já construído no Brasil, o Rota 2 que interliga a Bacia de Santos, no campo de Iracema Sul, onde está o FPSO Cidade de Mangaratiba, ao Parque (terminal) de gás de Cabiúnas (TECAB), em Macaé, Bacia de Campos.

O gasoduto Rota 2 interliga instalações das duas maiores bacias petrolíferas do Brasil e tem capacidade para escoar 13 milhões de m³/dia. Para isso o TEcab teve a sua capacidade de processamento ampliada para 28,4 milhões de metros cúbicos por dia, de forma a receber o gás proveniente do pré-sal da Bacia de Santos e, também, da Bacia de Campos.

Mapa dos gasodutos Rota 1,2 e 3 da Petrobras interligando as plataformas a terminais em terra



























O Rota 2 está também conectado ao FPSO Cidade de Paraty, no campo de Lula Nordeste) e adiante será ligado ao FPSO Cidade de Itaguaí, instalado no campo de Iracema Norte. Estas três plataformas produziram juntas, em dezembro passado, um total de 16 milhões de m³/dia. O resultado disto é mais produção e assim, o Brasil poderá reduzir importação de gás da Bolívia e, mais adiante, também o gás natural liquefeito (GNL), hoje importado para ser regaseificado em terminais no Ceará e no Rio de Janeiro.

O que isto significa?
Este dois fatos poderiam ser considerados um processo natural do planejamento anterior. Mas, como já foi comentado, diante da conjuntura atual, eles não podem ser considerados como fatos corriqueiros ou naturais. Não, não é pouca coisa diante também, da redução dos ritmos das obras e instalações que a conjuntura obrigou. Observar com mais acuidade estas informações e ligá-las a outros fatos, observando a importância em organizar a empresa para um novo ciclo, tem importância econômica e geopolítica para o Brasil. 

A nível interno é interessante observar que mesmo que a produção do pré-sal que tem 35% de toda a produção de óleo e gás do país, 70% dela está instalada na Bacia de Santos. Sendo assim, começa-se a ter agora, um movimento em que a produção no litoral paulista cresce para ser enviado ao ERJ, num movimento inverso ao que se teve há cerca de quinze anos, quando existiam reclamações do óleo sair do RJ para ser processado em refinarias paulistas. 

É certo que o debate tributário, em meio às discussões dos royalties e participações especiais (PE), arrecadação de ISS e ICMS se tornarão mais frequentes. O avanço da conclusão do Comperj em Itaboraí para processar o óleo também se intensificará.

Além disso, observemos que que o gás da Bacia de Santos já está sendo encaminhado para o Terminal de Cabiúnas em Macaé, RJ.

Assim, eu sigo comprovando como se está construindo um "Circuito Espacial de Produção do Petróleo" no litoral fluminense, vinculado ao paulista, para além do Norte Fluminense, um dos subtemas de minha pesquisa.

Este espaço que envolve boa parte do litoral Sudeste está sendo cada vez mais interligado, não apenas pelos modais de transportes mais conhecidos (rodoviário e ferroviário), mas também pela via marítima e pelas dutovias, por malhas de oleodutos e gasodutos. Continuamos acompanhando e conferindo!  

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