sábado, maio 07, 2016

Arábia Saudita faz significativas mudanças em seu governo e em suas estratégias, possivelmente para fugir da condição de alvo geopolítico

Há fortes sinais de que novos conflitos no Oriente Médio possam eclodir. A forte Arábia Saudita vem rompendo um dos princípios de Maquiavel, de não se brigar com todos ao mesmo tempo.

As frentes de confronto dos sauditas é composta por muitos grupos e nações. Desde herança e ódios de conflitos antigos como do Irã, quanto da Rússia, que agora também foi um de seus alvos ao forçar a baixa do preço do petróleo. Além disso, também atingiu, lateralmente, até o antigo aliado que é os EUA.
As informações sobre o envolvimento dos sauditas e diretamente do rei Salman no atentado do 11 de setembro voltaram com força, através do famoso relatório de 28 páginas, que andam prometendo divulgar e que chegaria como um nova "bomba" e para breve.

Pode ser blefe, mas pode ser a arma para desarmar a "guerra do preço dos petróleo" puxada por ambos, mas agora só mantida pela Arábia Saudita.

A Arábia Saudita é hoje o maior produtor mundial com cerca de 10,5 milhões de b/dia, perto de seu record de 10,57 milhões de b/d produzido em julho de 2015. Além disso é disparado o maior exportador mundial.

Se não bastasse, a Arábia Saudita concluirá agora no final de maio, a expansão do campo de petróleo Shaybah, no qual se estima uma ampliação de mais 500 mil b/dia, na capacidade de produção que assim chegaria aos 11 milhões de b/dia.

Ao mesmo tempo a Arábia vive problemas internos com cortes de despesas em serviços públicos e subsídios, que estão gerando demissões e desemprego.

Depois de 25 anos, os sauditas voltaram a procurar bancos internacionais para buscar dinheiro, evitando comprometer demais os recursos de seus fundos soberanos, Além de vender percentuais de sua mais valiosa empresa, a estatal de petróleo Saudi Aramco.

Diante deste quadro, depois de apostar contra muitos ao mesmo tempo, a Arábia foi se tornando um alvo cada vez mais visado por muitos. E pior, num momento conturbado do cenário mundial de estagnação da economia mundial que vem levando à prática de juros negativos em alguns lugares, além de redução do comércio mundial.

A Arábia vem também resistindo a negócios de petróleo com a China que passou a exigir negociação em sua moeda e não mais apenas em dólar.

E hoje, cada vez mais, fora do discurso hegemônico dos EUA, poucos deixam de perceber o deslocamento em direção ao Oriente, da capacidade de determinar preços das commodities que antes eram unicamente definidas pelos EUA.

Por conta disso, para garantir seus mercados de petróleo, a Arábia Saudita passou a admitir vendas à vista, quando antes praticava apenas negócios, em mercados futuros.

Tem mais. A Arábia vem ampliando a compra de equipamentos militares e armas do qual sempre esteve entre os maiores importadores do mundo. Assim, vem também se organizando e avança no processo de produzir algumas destas armas que antes só importava.

Se já não bastassem todos estes problemas, agora ficaram ainda mais expostas as confusões internas do país, quando se anunciou hoje, a demissão feita pelo rei Salman do ministro do Petróleo, Ali al-Naimi. Ele que estava no cargo há 21 anos, acumulava ainda a presidência do Conselho de Administração da poderosa estatal de petróleo Saudi Aramco. 

Um fato importante na decisão da demissão do ministro do petróleo é que ele era contra a estratégia de redução da produção de petróleo que trouxe no bojo um conjunto de ônus.

Esta nova realidade pode estar significando uma mudança de estratégia da Arábia Saudita em relação às ações externas do país para o setor de petróleo, não apenas por uma estratégia de mercado, mas por pressões geopolíticas sobre o país, que teria relação com udo o que está descrito acima.

Além da mudança no Ministério do Petróleo, o rei Salman da Arábia Saudita também anunciou hoje mudanças em diversos outros ministérios como: Saúde, Transportes, Saneamento, Assuntos Sociais, etc.

Os fatos sinalizam que as mudanças estratégicas da Arábia Saudita podem indicar um esforço para romper as vulnerabilidades que criou externa e internamente e assim fugir da condição de alvo geopolítico.

Não se sabe se esta reação será ainda em tempo de evitar novos conflitos no Oriente Médio, porque poucos conseguem fugir dos princípios de Maquiavel, de que não se deve brigar com todos ao mesmo tempo unificando seus adversários. A conferir!

PS.: Sobre o assunto, se desejar leia três outras postagens recentes do blog:

4 de Maio de 2016:
Quinta Frota dos EUA conclui exercício militar no Mar do Oriente Médio: o que isto tem a ver com o Brasil?
Link: http://www.robertomoraes.com.br/2016/05/quinta-frota-dos-eua-conclui-exercicio.html

26 de Abril de 2016:
Ainda sobre a Arábia Saudita e sua dependência do petróleo: a maldição que também nos atinge
Link: http://www.robertomoraes.com.br/2016/04/ainda-sobre-arabia-saudita-e-sua.html

25 de Abril de 2016:
Arábia Saudita maior produtora e exportadora de petróleo é também obrigada a se mexer diante da crise dos baixos preços do petróleo que ajudou a instituir
Link: http://www.robertomoraes.com.br/2016/04/arabia-saudita-maior-produtora-e.html

PS.: Atualizado às 22:15 e 22:36:
Atualizo a postagem para comentar um pouco mais sobre a possível participação da Arábia Saudita nos atentados do 11 de setembro nos EUA. Por lá, as pressões de parentes das vítimas crescem dia-a-dia para que sejam conhecidas as páginas do relatório (num total de 28) que o presidente Bush havia censurado.

Sobre o assunto veja matéria extensa sobre o assunto, publicada hoje, pelo jornal francês Le Monde, de autoria do jornalista, Alain Frachon. Seu título: "11-Septembre : le mystère saoudien" (11 de Setembro: o mistério Saudita).
Link: http://www.lemonde.fr/idees/article/2016/05/05/11-septembre-le-mystere-saoudien_4914032_3232.html?xtmc=alain_frachon&xtcr=1.

O Portal UOL publicou agora há publicou a tradução da matéria do Le Monde, sob o título: "Mistério do envolvimento saudita no 11 de Setembro está prestes a ser desvendado".
Link para a matéria traduzida: http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/le-monde/2016/05/07/misterio-do-envolvimento-saudita-no-11-de-setembro-esta-prestes-a-ser-desvendado.htm

É ainda oportuno relembrar que o jornalista brasileiro, Pepe Escobar, que vive baseado entre São Paulo, Hong-Kong e Paris (circuito Eurásia). Escreve apenas em inglês e é especialista em assuntos sobre Geopolítica e colunista de diversas publicações online (blogs) e impressas, como "Asia Times Online"; sites como: Â Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire, além de correspondente/articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera.

Pois bem, Pepe Escobar já havia publicado no dia 29 de abril de 2016, no portal russo "Sputniknews" uma ampla matéria cujo título é "Petróleo e Casa de Saud" que fala de "uma calma antes da próxima devastadora tempestade geopolítico-financeira".
Link: http://sputniknews.com/columnists/20160429/1038822230/saudi-arabia-oil-prices-russia.html#ixzz47M3wA1G1

Os assuntos se interligam. Outros dados que cito no texto da nota acima e ainda as informações sobre as decisões de hoje do rei saudita Salman, trocando grande parte do seu ministério, inclusive do Petróleo, mostra que os fatos seguem se sucedendo em processo contínuo, guardando assim uma coerência das análises, sobre as hipóteses dos movimentos geopolíticos em curso entre as nações citadas.

Assim, torna-se indispensável continuar acompanhando os passos a seguir para além dos interesses do mercado de petróleo, mas pelos desdobramentos geopolíticos que estão em curso, aparentemente acelerados. A conferir!

PS.: Atualizado às 00:50 de 08/05/2016:
A Agência Reuters também deu destaque às mudanças na gestão do governo da Arábia Saudita, em especial à mudança do Ministério do Petróleo, que passou às mãos do Jalid al-Falih. graduado em 1982 em engenharia mecânica pela Universidade de Texas A&M (EUA). Falih trabalhou por três décadas na petroleira estatal Saudi Aramco, onde em 2009 foi nomeado CEO e, em 2014, presidente do conselho. Há anos Falih era considerado um possível sucessor de Naimi, que também chegou ao cargo de ministro após liderar a Aramco.

Segundo os autores da matéria da Reuters Rania El Gamal e Reem Shamseddine, "a indicação de Falih deve apenas fortalecer essa estratégia em vez de trazer quaisquer mudanças de pensamento, disseram observadores sauditas e analistas". Embora a matéria seja fechada reforçando a ideia de que "Naimi sempre tentou utilizar a força financeira saudita e a escala do fornecimento de petróleo para pressionar produtores de alto custo ou concorrentes durante períodos de queda do mercado".

O título da reportagem é:
"Arábia Saudita nomeia Khalid al-Falih como ministro de Energia em reestruturação do gabinete".Link: http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKCN0XY0MW

As informações da Reuters são praticamente restritas às questões econômicas e ligadas à troca de gabinete na área do petróleo, considerando as trocas de gabinete como um processo natural na linha sucessória. Porém, considerando as demais questões que troucemos no texto principal da nota e nas primeiras observações, as decisões de hoje parecem ser mais amplas e que refletem questões de espectro geopolítico, além das questões e gerenciamento interno do país. A conferir!


PS.: Atualizado às 02:56 e 03:08 de 09/05/2016: Para trazer para o tema mais informações divulgadas pela Agência Reuters sobre as mudanças na Arábia Saudita, em que a nomeação de Falih integra uma grande reestruturação anunciada no sábado pela Arábia, em uma grande remodelação de alguns importantes ministérios feita pelo Rei Salman, destinada a apoiar um programa de reformas econômicas de grande alcance:

1) O novo ministro de Energia da Arábia Saudita, Khalid al-Falih disse em comunicado por e-mail, neste domingo que: "a Arábia Saudita irá manter estáveis suas políticas de petróleo. Continuamos empenhados em manter o nosso papel nos mercados internacionais de energia e fortalecer nossa posição como fornecedor de energia mais confiável do mundo";

2) "Estamos empenhados em cumprir a demanda existente e adicional de hidrocarbonetos de nossa base de clientes em expansão global, apoiada por nossa atual capacidade máxima sustentável."

3) A terceira, ainda como parte da reestruturação, o Ministério do Petróleo passou a se chamar Ministério de Energia, Indústria e Recursos Minerais. Ou seja, além do imenso setor de petróleo, o novo "mega-ministério de Energia da Arábia Saudita, passa a ficar encarregado de mais da metade da economia e desenhado para superar a burocracia e tornar o governo mais coerente e eficiente, será um desafio formidável", ao lidar com extração de petróleo e gás, geração e distribuição de energia, mineração e desenvolvimento industrial".

4) A grande reestruturação feita pelo Rei Salman se insere no seu programa chamado Visão 2030 e visa segundo informações "encerrar décadas de má comunicação e conflitos entre departamento do governo". Para isto criou um ministério amplo com poderes para fiscalizar setores que respondem por 53 por cento da produção econômica do reino. Uma enorme concentração de poder que está sendo arquitetada pelo vice-príncipe Mohammed bin Salman. “Ainda falta saber qual tipo de mudanças organizacionais específicas acontecerão no nível operacional”, segundo a Reuters.

5) "Anteriormente, o ministério do Petróleo estava encarregado de extração de hidrocarbonetos e mineração, o ministério de Água e Energia Elétrica lidava com geração de energia e o ministério do Comércio cuidava da indústria. Outros departamentos tinham sobreposições com essas atribuições, cobrindo políticas como energias nuclear e renováveis e a administração de cidades industriais".

6) "As grandes estatais, como a Aramco, o conglomerado de petroquímicos e metais Saudi Basic Industries Corp (Sabic), a mineradora Saudi Arabian Mining Co (Maaden) e a elétrica Saudi Electricity Co (SEC), ficam entre esses ministérios. Falih deve ter, agora, uma maior influência na administração dessas companhias."

7) Uma medida do governo da Arábia Saudita informada neste domingo, pelo Ministério da Habitação, em outro área e que diz respeito à criação de um novo imposto, anual, contra especulação imobiliária. Ele incidirá sobre terrenos urbanos não desenvolvidos, que integra um sistema destinado a resolver a escassez de habitação acessível, estimados entre 40% a 50% dos terrenos dentro de grandes cidades que permanecem vagos, muitos dos quais pertencentes a ricos indivíduos ou empresas que tendem a mantê-los ou trocá-los por lucros especulativos ao invés de desenvolvê-los para a habitação. O novo imposto será equivalente a 2,5% do valor do terreno de propriedade de indivíduos ou entidades não-governamentais. As receitas geradas serão gastas em serviços públicos, como estradas, água, eletricidade e sistemas de esgoto em projetos de habitação do ministério.

Comentário do blog: Concentração de poder de tal tamanho tem significados claros, ainda mais numa economia já centralizada por um reino e por quase um monopólio de atividade econômica principal que arrasta as demais, diante do seu peso já conhecido, como maldição mineral. 

Épocas de emergência, costumam também exigir concentração de poder. Sendo assim, a hipótese mais forte levantada pelo texto original continua mantida, a despeito do primeiro comunicado do novo ministro de Energia da Arábia Saudita, Khalid al-Falih, ao acenar e garantir estabilidade nas políticas sobre o petróleo a serem seguidas pelo país.

Sobre a investida contra a especulação imobiliária é possível intuir dificuldades na administração interna e no atendimento à população, por conta, provavelmente, da redução do orçamento e do aumento do déficit de quando o preço do petróleo esteve, especialmente entre 2010 e 2014, acima dos US$ 100 dólares, o barril. Administrar agravamento dos problemas internos, de forma simultânea a um maior tensionamento externo é sempre mais complicado, mesmo para quem vive assim na maioria do tempo. Continuamos conferindo.

7 comentários:

douglas da mata disse...

Amigo Roberto, desde há muito tempo, Michael Moore desvendou aspectos estranhos em seus documentários sobre a relação promíscua dos árabes, os falcões-neocons, a família bush e o atentado...

Os árabes, cujos laços se estreitavam na direção dos executores do ataque, foram cuidadosamente retirados dos EUA, mesmo após bloqueio dos aeroportos...

Enquanto o resto dos muçulmanos eram elevados a categoria de inimigos públicos número 1...

O resto já se sabe.

Um abraço.

Roberto Moraes disse...

Sim Douglas, em um de seus documentários. Não me lembro qual.

Roberto Moraes disse...

Sim Douglas, em um de seus documentários. Não me lembro qual.

douglas da mata disse...

Farenheit 9/11, se eu não me engano.

Wander disse...

Boa noite Roberto.
Não sei se você já teve oportunidade de ver, senão segue link de uma análise da relação do Petróleo com o Indice Ibovespa. Mostra bem o quanto todo o nosso mercado está diretamente ligado ao óleo.

http://www.valor.com.br/financas/4541791/correlacao-entre-ibovespa-e-oscilacao-do-petroleo-cresce

Roberto Moraes disse...

Sim Wander. Vi sim e registrei. Vai na linha do que ando pesquisando sobre o peso que a cadeia produtiva do setor petróleo foi ganhando em nossa economia, mesmo com todos os problemas e a ampliação da produção no pré-sal tenha acontecido de forma mais significativa já nesta fase de baixa do ciclo do petróleo no mercado mundial. 12% do PIB e entre 33% e 37% do PIB do ERJ, o conteúdo local que expandiu os estaleiros para além do ERJ, e levou o emprego na indústria naval de 2 mil para 88 mil empregos não apenas no ERJ, PE, RS, SC, etc.

Em minhas produções acadêmicas fruto da pesquisa e aqui no blog ainda incluo o sistema portuário que fecha o que chamo da tríade: "petróleo-porto-indústria naval", que sendo também infraestrutura demandou as empreiteiras e o resto é sabido...

Por isto e outras questões que exigiriam mais espaço, o peso do petróleo na Bolsa, que é relativamente limitada, ainda, em termos de alcances no setor produtivo nacional com empresas abertas foi se ampliando.

O ciclo do petróleo será retomado adiante (porém vinculado também à questão geopolítica) e com o golpe sobre o sistema político, o setor voltará forte, mas com trocas de comandos e entradas de mais empresas de fora, o que não seria problemas em acordos comerciais e parcerias, mas nunca da forma como se está montando.

Por isso, eu tenho dito que não é possível observar o setor petróleo sem observar a economia global.

Agradeço pela sua observação que é importante. Aliás, seria interessante um levantamento mais detalhado sobre a quantidade, porte e tipo de atuação destas empresas que atuam no setor petróleo e que estejam no Ibovespa. Vale também observar suas composições acionárias e participação de fundos financeiros aqui e de fora. Assim, mais questões serão explicitadas. Tenho elementos que me permitem formular algumas hipóteses.

Anônimo disse...

Gostaria de ler algumas considerações sobre o mega rombo na Caixa Econômica e um eventual socorro do Tesouro naquela instituição.

Grato