segunda-feira, maio 18, 2015

Ainda sobre a Petrobras: símbolo e caso de aproveitamento das oportunidades em meio às crises!

Conversando amistosamente no sábado, com um petroleiro das antigas, pessoa que respeito pela sua capacidade de enxergar o técnico, o administrativo e a relação disto tudo com a Política, sobre os significados, explicações e símbolos dos resultados da Petrobras, ele me disse:

Não tenha dúvida que a empresa está muito bem alicerçada. Um dos pontos altos é a engenharia submarina. Os avanços são enormes. A técnica de colocação das árvores de natal (conjunto de válvulas instaladas nas cabeças dos poços) está apuradíssima, mesmo com maiores profundidades, de 3 mil, 4 mil metros. É um processo que exige cálculos de lançamento, movimentação marinha, posicionamento das embarcações, etc. Isto entre outras coisas ajuda explicar a redução extraordinária de tempo, entre a descoberta do poço, a avaliação de sua potencialidade e a colocação do mesmo em condição de produzir. Também explica a produtividade. A nova diretora de exploração e produção é técnica de carreira, competente e que conhece a política”.

Quando se ouve de um petroleiro que está vinculado diretamente à exploração (perfuração e produção) e à realidade material sobre o que está ocorrendo no desenvolvimento da Petrobras fica ainda mais fácil interpretar, não apenas os números dos resultados financeiros, mas as repetidas declarações dos dirigentes de outras petroleiras estrangeiras, sobre o interesse em estar junto da Petrobras, em vários projetos.

Não há motivos para abandonar a decisão da Petrobras como operadora do Pré-sal

Por isto é um descalabro pensar em não deixar a Petrobras como operadora obrigatória do pré-sal brasileiro. A Petrobras quer isto. Pelas falas é possível perceber que de qualquer forma ela estará presente. A diferença é saber se farão isto com o controle brasileiro, ou se este controle administrativo e financeiro será repassado. Seja com a contratação de seus técnicos ou com outras formas de transferência da tecnologia que é uma expertise desenvolvida pela Petrobras.

As empresas estrangeiras todas querem aprender como fazer isso, já que a exploração offshore hoje se espalha para além do litoral brasileiro, Golfo do México e Mar do Norte. Hoje, o Mar de Barents, Mar da China, o lado africano do Atlântico, etc. estão se transformando em áreas de exploração petrolífera com conhecimentos em grande parte obtidas por aqui.

Os processos de extração nestes ambientes não são protocolos rígidos e fixos. Eles dependem de inúmeras variáveis que não são de conhecimento geral. Presença de gases, adaptação de processos e tecnologias é uma constante que tem dificuldades de ser absorvida por aqueles que possuem dificuldades em trabalhar em "processos não convencionais" que exigem adaptações.

Ou seja, resultados financeiros, diante das crises (preço do barril e de governança) são pequenos diante do que eles apontam para um futuro, não longínquo, mas, imediato, considerando esta enorme fronteira exploratória do pré-sal.

Procurando os resultados também do 1º trimestre de 2015 de outras importantes petroleiras se encontra: Pemex (México) – prejuízo de US$ 6,5 bilhões; Chevron (Texaco - EUA) – lucro US$ 2,57 bilhões; Shell (anglo-holandesa) – US$ 2,86 bilhões.

Assim, se vê como a Petrobras se situa bem, já que entre todas estas é a que mais em aumentando a sua produção. Como já foi dito, a produtividade (produção em relação a custos e prazo) que se tem obtido no pré-sal é muito, mas muito maior que a mais otimista das previsões que se tinha até aqui. Poços com produção de 30 mil barris por dia e até 40 mil é extraordinária.


A política de conteúdo nacional da ANP é manifestação estratégica e real de soberania

Outro ponto que deve ser realçado é o acerto da política de conteúdo nacional exigida pela ANP para os projetos exploratórios das petrolíferas ou seus consórcios. Até para isto a crise ajudou a que tenhamos noção do encadeamento a favor da indústria nacional. Bom frisar que não apenas a do setor naval, mas a de outros fornecedores de insumos e serviços, portuários, etc.

É a política de conteúdo nacional que está permitindo que setores nacionais se enrosquem nas cadeias de valor e na absorção de tecnologias que empresas de fora veem aqui oferecer, de olho nesta imensa fronteira exploratória. Quem quer ficar fora?

Ao vir para perto, se vincular às tecnologias da Petrobras (e do seu centro de pesquisa – Cenpes) e também acaba deixando aberto, o flanco por onde o Brasil pode absorver e produzir equipamentos e tecnologias antes presos e exclusivos de seus criadores. É a tal contrapartida que muitos falam em teoria, mas que em meio a vários problemas passou a ser exigido.


Sobre custos na cadeia do petróleo e faturamento estimado para a Petrobras

Para aqueles que citam a grande dívida da Petrobras como um empecilho aos seus resultados futuros, não consideram que não há como desenvolver sistemas produtivos sem aportar capital fixo em instalações e base física e sem buscar recursos de investimentos, que tem como lastro os seus ativos (campos, poços, expertise, conhecimento tecnológico e mão de obra – trabalhadores – altamente qualificados), sem buscar financiadores, assumindo dívidas e riscos.

Assim, vale citar aqui um brevíssimo cálculo feito pelo consultor legislativo da área de Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos, da Câmara Federal, Paulo César R. Lima, em trabalho de março de 2015. Mesmo trabalhando com custos de produção médio (que não apenas do pré-sal), da ordem de US$ 15 por barril se chega a uma conta interessante.

Se somar a este custo básico de produção de US$ 15 por barril, as participações governamentais (royalties, PE e outros custos gerais) eles podem chegar a US$ US$ 28. Se acrescido o custo de refino da Petrobras, da ordem de US$ 3 o barril, se teria um valor total de US$ 31 por barril.

Hoje o valor do barril está a cerca de US$ 65 no mercado internacional. Porém, mesmo que o considerasse na faixa dos US$ 60 e uma agregação de valor por barril de US$ 6 se teria um valor de US$ 66. Assim, entre os US$ 66 do valor de mercado e os US$ 31 do custo de produção se teria uma lucratividade média de US$ 35 por barril.

Aí chegaríamos à principal conta: se a Petrobras vier a produzir, mesmo que apenas em 2025, os 4 milhões de barris por ano, o lucro anual da Petrobras seria de R$ 51 bilhões. Repetindo, lucro anual de R$ 51 bilhões. Diante disto, o amortecimento dos juros e pagamento da dívida principal são facilmente absorvíveis e por isto, não faltará agora quem queira financiar.

O blog tem acesso a estudos dos departamento de pesquisas econômicas dos bancos privados, e mesmo antes do anúncio do lucro da última sexta-feira e todos chegam, internamente, a estas mesmas conclusões.

Ainda sobre custos e preços, vale conhecer o caso da produção de combustível, tomando como o exemplo, diesel, que é o carro chefe. Ele possui hoje, um custo de produção de cerca de R$ 0,60 para a Petrobras. No mercado internacional o custo final sai a aproximadamente R$ 1,35. No Brasil, atualmente a R$ 1,56.

Assim,  mesmo com a desvalorização dos ativos, feita no balanço de 2014, mesmo adicionando os prejuízos da Lava Jato, e ainda considerando o valor médio do barril a apenas US$ 50, em nenhuma hipótese, a Petrobras, deverá ter um lucro anual inferior a US$ 30 bilhões.

Desta forma, as dívidas atuais e outras que serão agora contraídas a juros menores, em função destes excelentes resultados, são perfeitamente absorvíveis e parte da estratégia da Petrobras que deve estar referenciada no seu novo PGN (2015-2019) que será lançado em junho e na revisão do seu Plano Estratégico (PE 2020-2030).


Petrobras é um caso que explica a disputa entre os modelos social-nacional-desenvolvimentista x neodependência liberal de mercado

Observando todo este cenário, se identifica que mesmo entre os desafios de tecnologia, gestão financeira e administrativa e relações com o poder e a política, que este setor de petróleo coloca diariamente a empresa em confronto, não há nenhum motivo para entregar tudo isto de bandeja aos interesses privados e de outras nações.

O tamanho e a proporção dos valores envolvidos e os interesses geopolíticos que o circundam reforçam a hipótese de que o caso se trata de um assunto estratégico e de interesse nacional.

O contrário disto é o que vem defendendo aqueles que continuam a pensar de forma colonizada, dispostos “a negociar a dependência”. Eles mantêm aquela ideia de que assumindo a dependência poderíamos ficar na frente de outros colonizados (espécie de cabeça de sardinha), ao invés de se lutar para romper com a subordinação. Mesmo com alguns riscos, é hora de ver o mundo e a inserção de nosso país, nestes tempos de realinhamentos geopolíticos, de uma maneira não subordinada, mas articulada a nações, onde os interesses da maioria de nossa população seja garantidos.

Continuamos acompanhando!

Um comentário:

Anônimo disse...

Conversa mole para boi dormir, para que o petróleo continue nosso, ou seja, dos petroleiros. Enquanto isso as coisas não andam, ficam ruminando e o país não sai do subdesenvolvimento.