quinta-feira, maio 14, 2015

Dois momentos: boas reflexões no campo da política e da economia

O blog divulgou aqui na semana passada sobre dois eventos: uma palestra do professor e economista da Unicamp e também presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, ocorrida na terça-feira pela manhã no polo da UFF em Campos, por organização do Centro Acadêmico de Economia.

O segundo evento foi um debate na Uerj, organizado pelo grupo de pesquisa Conjuntura, Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH-UERJ) e pela Clacso, com o ex-governador Tarso Genro e com o deputado estadual Marcelo Freixo. O tema foi: "Debatendo Estado e Sociedade em Tempos de (In)Determinação Política: Crise dos Partidos, Reforma Política e Democratização da Participação Popular".

Dois momentos bastante interessantes para pensar os problemas contemporâneos, não apenas no campo da economia, mas da sociedade do fazer Política como elemento de mediação da cada vez mais complexa e fragmentada realidade em que vivemos.

Comentei no meu perfil no Facebook e de alguns parceiros de rede trazendo para um público uma espécie de "síntese apressada" sem maiores interpretações o que tinha ouvido. Assim, eu resolvi trazer também para este espaço do blog estes registros. Penso que assim se colabora em ampliar a divulgação do seu conteúdo. Espero em breve divulgar vídeo dos debates:

1) Do Pochmann na UFF-Campos em 12-05-2015:

Ótima palestra. Didática, clara, densa com bastante dados e argumentos sobre a realidade social-econômica do Brasil contemporâneo. Fez um passeio histórico do Brasil agrário, ao desenvolvimento industrial e a atual realidade serviços. Categorizou os períodos em "Blocos de Investimentos" e "Ciclos de Consumo". Criticou o "curtoprazismo" e a natureza do capitalismo em apenas se preocupar em ampliar o acesso aos bens de consumo e assim manter a estrutura das classes sociais. Questionou a propaganda da expansão da classe média como forma de se passar a ideia de que estamos numa sociedade que caminharia para a sua "medianização" e não para uma polarização de classes. E por último deu números para os problemas que a interferência cada vez maior do poder econômico sobre a política ao dizer que segundo a Justiça Eleitoral em 2010, os deputados que se elegeram gastaram em média R$ 4 milhões e os candidatos que não se elegeram gastaram em média R$ 100 mil. Por fim, também falou obre como o sistema e o estilo de produção também influenciaram e mudaram as nossas cidades para pior. Excelente abordagens. Parabéns ao CA Economia da UFF Campos pelo convite e organização.

2) Do debate Tarso Genro e Marcelo Freixo na Uerj em 13-05-2014:

Professor Gaudência Frigotto (PPFH-UERJ) abrindo o debate
no auditório principal da UERJ em 13-05-2015
Um excelente debate nesta quarta-feira no auditório principal da Uerj que estava superlotado. Começou às 18:45 e seguiu por quase três horas. Cada um usou a palavra por cerca de 40 minutos. Outros tantos foram usados com perguntas e questões. Freixo precisou sair um pouco mais cedo por compromissos agendados antes.

Freixo usou a palavra primeiro. Tratou do movimento das ruas desde 2013 e criticou o presidencialismo de coalizão, mas questionou mais o parlamentarismo de extorsão. Levantou ainda a questão de que na história de nosso país, apenas cinco presidente eleitos em votação livre e secreta concluíram seus mandatos e que isso precisava ser considerado ao se pensar a democracia. Foi enfático no questionamento da democracia contemporânea no meio urbano. Citou por várias vezes, o caso do Rio de Janeiro, como espaço de disputa pela cidade entre o cidadão e os que negociam e se apropriam da urbe. Questionou ainda aqueles que tentam despolitizar a política. Segundo Freixo, esses, fizeram com que prefeito e governador passassem a ser apenas os gerentes do capital, que atua na cidade para viabilizar seus interesses. Apontou quem são os "donos do Rio", os empreiteiros que tocam os negócios privatizados da cidade do Rio. Bateu na tecla da reforma política dizendo que quem é contra ela, são os mesmos que trabalham para despolitizar a política. Disse que para acabar com os partidos de aluguel basta acabar com a possibilidade de "venda" ou aluguel dos tempos de TV. Defendeu uma aliança da esquerda a favor da concepção de cidade para todos, não privatizada e não apartada.

Depois, foi a vez do ex-governador e ex-ministro Tarso Genro. Ele inicio falando das mudanças pelo mundo, em relação aos novos alinhamentos e à crise do capitalismo. Levantou o marco normativo da política pelo mundo em que o Estado passou a ser capturado pelo setor financeiro e questionou a lógica dos ajustes que jogam sobre a população o arrocho. Disse que cada vez a capacidade que os governos podem dar às demandas da população é menor. Citou exemplos do Rio Grade do Sul. Deixou claro as pressões inaceitáveis exercidas pela mídia comercial agindo como partido político. Se declarou vítima desse processo pela RBS, afiliada da Rede Globo a quem acusou de pautar a política no país, no que diz respeito às relações políticas, as relações internacionais do país, a economia, etc. Disse ainda que a força normativa da economia global é muito mais forte que o arcabouço das constituições nacionais. Citou que o quadro atual exigem de quem se dispõe a liderar quatro pontos essenciais: 1) De que ajuste se fala: esse para tender as crises do capitalismo, "que constrange" a quem votou fora do neoliberalismo, ou um ajuste que se disponha a romper com a dependência do capital financeiro, os grandes fundos que querem mais juros e lucros; 2) O que se pretende: a dependência e a subordinação ou a independência e cooperação com as forças que em outras nações estão construindo saídas? Há que se ter coragem de "sair da tutela deste capital financeiro". "Eles te sabotam o tempo todo e te liquidam". 3) Reforma Política escolhendo os pontos básicos neste quesito: higienização da política retirando o financiamento empresarial das campanhas; retirar o "endinheiramento dos partidos". Há a necessidade de uma grande mobilização com os movimentos sociais para proibir a venda do tempo na TV e o financiamento das campanhas pelas empresas; 4) Avançar em novas formas de "Democracia Direta" para além da representação que é incapaz de moderar a relação com a sociedade, num modelo que é o mesmo desde o início do iluminismo. Por fim, criticou veementemente a fragmentação das forças progressistas e da sociedade. Defendeu um "Programa de Transição para um Futuro Indeterminado". Questionou ainda a "Fujimorização" do processo político brasileiro com fascistas defendendo a exclusão pela força e se disse a favor da "criação de uma sociedade livremente orientada" para superar as promessas e a sedução do neoliberalismo que oferece liberação, mas que na realidade aprisiona as pessoas num esquema individualista e a sociedade como um todo, num modo de vida sem razão e sem perspectiva de felicidade.

Como se pode perceber posição aprofundada no campo da esquerda numa perspectiva da constituição de uma frente de esquerda com um programa de transição que há que ser ainda profundamente debatido. Porém, os pressupostos como se vê são qualificados e merecem ser aprofundados.

2 comentários:

ComTudo disse...

Olá professor, tudo bem?

Gostaria de saber se alguém, ou alguma entidade, gravou o debate na uerj. Preciso para meus estudos. Boa noite e parabéns pelo blog.

Prof Leandro M Sarmento

Roberto Moraes disse...

Caro Leandro,

Fui informado que sim. Assim que tiver acesso disponibilizaremos o vídeo e/u seu link aqui no blog.

Abs