segunda-feira, maio 11, 2015

Ainda sobre a terceirização & precarização

Interessante esse debate sobre a terceirização. Os empresários e alguns aliados querem dizer que a legislação será boa para o trabalhador, porque a "falta de regras" atualmente cria embaraços para o trabalhador e que isso explicaria as más condições de trabalho, ocorrência proporcional de mais acidentes, etc.

Porém, a conta não fecha, quando ao mesmo tempo, eles garantem que com a nova lei será garantida mais produtividade.

Ora, há neste falso dilema uma tentativa de enganação.

Porque produtividade significa mais produção com menos custos. Ou seja, mais produção em menos tempo. Ou mais produção com menos trabalhadores.

Se a terceirização trata unicamente de trabalho, ou seja, sobre a parte da mão de obra na produção, o aumento da produtividade de que falam o que seria? Da onde sai esta vantagem? Ela sai da onde e vai para onde?

Pois bem, eu fiz esse comentário ontem em meu perfil ontem no FB. Por conta disso eu recebi do Marcelo Gondim, a sugestão de um breve vídeo (2 minutos) do professor Elvino Bohn Gass que dá detalhes e números exatamente sobre isso que levantei como questão mais geral. Vale conferir:



Ainda sobre o mesmo assunto, há muitos que imaginam que o precarização se dá apenas para os menos qualificados. Um engano.

No campo da análise sobre o que é precariado, numa perspectiva de análise vale conhecer os estudos do professor e pesquisador Guy Standing, que tratava do tema, ainda antes do brasileiro Ruy Braga.

Para Standing, o precariado se caracteriza pela instalação de um “período de incerteza e insegurança crônicas” exatamente como estamos vivendo. Standing diz ainda que o precariado é ainda uma classe em construção, embora tenha relações de produção bem definidas: “o trabalho desempenhado pelo precariado é, de sua natureza, frágil e instável, andando associado à casualização, à informalização, às agências de emprego, ao regime de tempo parcial, ao falso autoemprego”.

Standing chama de os “denegados” e lembra Hannah Arendt dizendo tratar-se de um grupo de pessoas que perdem “o direito de ter direitos”, que seria a chance de ter cidadania. Para ele, o precariado tende a ver o trabalho como algo instrumental e não como algo para determinar toda a sua vida.

Standing classifica o precariado em três tipos e o terceiro seria exatamente este caso que citei acima que inclui aqueles formados por “instruídos” que por força do trabalho inconstante e falta de oportunidades se veem privados de um sentimento de futuro.

Ou seja, é um equívoco imaginar que a precarização atingirá apenas os menos qualificados. O que está em jogo é exatamente a precarização dos mais instruídos. É aí que se terá o ganho de produtividade que o setor produtivo (como a Fiesp) deseja, e que sindicatos de trabalhadores estão enveredando sem noção (ou com noção, oportunismo e má intenção) estão se enveredando.

Nem na Europa onde hoje se tiram as conquistas pós-guerra do Estado de Bem-Estar-Social a terceirização da atividade principal existe. Aqui nos trópicos caçam as chances de ascensão social e pretendem avançar na direção de uma negociação que seria direta entre leão e um pardal. Assim, de forma bem equiparada.

Assim, para encerrar é oportuno que lembremos que a ideia de evolução da espécie humana não é um processo natural e nem estabelecido. O retrocesso sempre é possível.

A construção política do neoliberalismo thatcheriano ou bushiano continua demonstrando os passos atrás neste processo. Alguns enxergam saída nesta busca desenfreada e irracional pelo aumento da produtividade entre as nações, imaginando-a ilimitada. 

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