domingo, outubro 13, 2013

Religião & migrações entre Brasil, Europa e EUA

Assisti na última semana uma conferência, num congresso internacional interdisciplinar, na área social e de humanidades, em Belo Horizonte cujo tema foi "Deslocamentos contemporâneos: religião e migrações" que me deixou espantado por uma série de motivos. Alguns vou expor abaixo. A conferência foi proferida pelo professor Donizete Rodrigues da Universidade da Beira Interior, Portugal

Prof. Donizete Rodrigues mostrando no mapa
a prevalência de religiões por país e continente
Independente dos questionamentos sobre o método de pesquisa, no campo da antropologia social e da etnografia, os dados e as interpretações apresentadas me estarreceram.

Parece que estamos mesmo vivendo épocas complexas, paradoxais e confusões pós-modernas em graus que talvez sejam preocupantes.

O conferencista português analisou, por conta de uma pesquisa articulada pela Universidade do Sul da Califórnia sobre religiões, fluxos migratórios no triângulo geográfico EUA-Brasil-Europa na atualidade.

Os estudos identificariam enclaves em diversos países dentro destes eixos criados, a partir de atividades missionárias que entrelaçam populações e etnias, num processo complexo, meio caótico e que mistura questões econômicas com o "mercado da fé" e influências culturais.

Segundo o pesquisador o universo pesquisado envolveria cerca de 900 milhões de cristãos no mundo (especialmente no triângulo), com uma maioria de 550 milhões pentecostais e 350 milhões de católicos, entre outras religiões cristãs com menor quantidade de seguidores.

Interessante conhecer a realidade de como se dá o processo em que os evangélicos se instalam onde os imigrantes já estão, enquanto os católicos, por tradição, trabalham com igrejas fixas, algo que o novo Papa Francisco tem a proposta de ser alterada.

Também foi interessante ouvir que o catolicismo carismático caminha em direção cada vez mais próxima de algumas igrejas neopentencostais.

A apresentação de algumas práticas e símbolos usados para a expansão destas religiões foi identificada como similares a dos modelos das trocas internacionais. Elas seguem o fluxo de pessoas pelo mundo.

A presença e expansão de igrejas brasileiras segue o caminho do fluxo de brasileiros pelo mundo, a ponto do pesquisador identificar, o que considera poder ser um novo conceito, intitulado como "brasilianização" (brasilianization) que uniria questões religiosas e culturais brasileiras (música, alimentação, etc.) alterando e modificando espaços nestes outros dois continentes.

Para reforçar sua argumentação ele apresentou dados do Ministério das Relações Exteriores de 2011, indicando a estimativa que o Itamarati tem de brasileiros residentes em alguns países do mundo: EUA - 1.380.000; Japão - 230.000; Paraguai - 200.00; Inglaterra - 180.000; Espanha - 150.000 e Portugal - 136.000. Estes números seria uma inferência por conta de atendimentos da embaixada e consulados brasileiros nestes países.

Evidentemente pelo que já foi dito, que o pesquisador excluiu de sua análise os continentes africanos e asiáticos e a relação das religiões e das culturas deste espaço do mundo, nos quais mora a maioria da população planetária.

Justificou o recorte alegando que há uma pesquisa maior, organizada pela universidade americana tentando compreender este fenômeno, também no complexo universo que envolve a China, Índia (com as religiões, cultura e civilização orientais), além da África no mesmo contexto.

Há questionamentos enormes sobre a pesquisa e sobre sua metodologia que o debate posterior suscitou e ainda produzirá.

Porém, mesmo no âmbito do triângulo Brasil-EUA-Europa, algumas das informações apresentadas mostram como o tema religião, já considerada e estudada por pensadores importantes, especialmente por Weber e Marx é cada vez mais importante e parte da "pasteurização" que vivemos neste período (chamado por outro pensador e geógrafo, David Harvey) como sendo de "compressão tempo-espaço".

Campos de estudo como desterritorialização e reterritorialização, relação da religião com o poder, a política e o mercado, o simbolismo e as mudanças culturais geradas por estes fluxos migratórios (que junto leva a religião) aparentemente se tornaram uma questões importantes, também para a compreensão da geopolítica mundial.

Eu não tive acesso à pesquisa, apenas anotei três dados. Um deles é o de que só o estado de Nova York nos EUA possui 232 igrejas evangélicas de origem brasileira, sendo que só em Manhatam, (berço e sede do capital americano), foi identificada oito destas igrejas. Nesta linha, casos dos eventos musicais em boates chamadas de Cristoteca também já seriam comuns na Europa.

O segundo sobre aposta que igrejas pentecostais evangélicas e católicas fazem cada vez mais em mega-eventos. Ainda nos EUA, foi citado o caso de uma igreja que bancou o faturamento total e alugou a Disneylandia, em Los Angeles, para seu evento, num final de semana.

O outro caso é da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) criada em 1977 e que está hoje instalada em 200 países (quase todos do mundo), com um universo estimado de 6 milhões de seguidores e com enorme patrimônio, espalhado pelo mundo, com diferentes denominações e estratégias dependendo da legislação e cultura de cada país, onde a mesma se adapta para se fixar e expandir.

Enfim, o blog traz o tema por considerá-lo importante para reflexões, com informações de pesquisa, que certamente não são neutras, assim como as interpretações que tenhamos dela, mas, que provavelmente tem influência maior do que muitos de nós imaginamos, no mundo contemporâneo, ocidental e oriental.

Antes de fechar este texto, eu quero registrar que não interessa ao blog o debate dogmático sobre o assunto com defesas e ataques apaixonados entre religiões que o tema tende a trazer entre seus seguidores.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse fanatismo religioso, que hoje é especialidade de muçulmanos do oriente , já se percebe, em certas denominações cristãs pentecostais brasileira. Haja visto, a intolerância religiosa, mostrada em fatos recentes, que vem ocorrendo na cidade do Rio de Janeiro, onde simpatizantes do candomblé, estariam sendo expulsos de locais de cultos,de sua comunidade, por simpatizantes, de um certo grupo de evangélicos brasileiro.

Esses fatos são muito perigoso, pois, o fanatismo religioso, a ideologia religiosa, a intolerância religiosa, ligada a política, são um grande combustível, aos conflitos, entre povos, e até gerando guerra civil, em razão da intenção de certos grupos religiosos, de imporem,seus dogmas, a toda sociedade. Aqui no Brasil, a bancada evangélica no congresso, é gigantesca. Estão infiltrados na política sim.

Estaríamos voltando a época da inquisição tão criticados por historiadores e pentecostais brasileiros. Porém será que hoje, tais religiosos, estariam rumando para o mesmo caminho ?

Uma coisa é certa se atravessarem o caminho dos muçulmanos, no oriente, vão se dar mal.