terça-feira, outubro 29, 2013

O setor financeiro privado nacional: do real do cotidiano à estrutura do fenômeno

Uma coisa é você trabalhar com informações nacionais, estatísticas e dados. Outra é conhecer a realidade empírica dos números que você lê e observa.

Em minha vida sempre procurei não perder de vista, mesmo nas simples observações, esta preocupação de observar o macro, a estrutura, sem deixar de observar a realidade do cotidiano que está ao alcance de nossos olhos e da vida ao nosso redor.

Mais que uma visão metodológica este foi um aprendizado prático que foi se aperfeiçoando ao conhecer o ferramental disponibilizado pelos estudiosos para  observar os fenômenos em escalas distintas procurando identificar ligações entre elas.

Algumas vezes, neste exercício, somos mais ou menos rigorosos nas análises para ir paulatinamente avançando nas hipóteses, acrescentando e eliminando possibilidades, até ter estimativa e conclusões, preliminares e avançar para as análises mais consistentes com argumentos sobre a realidade.

Não sei se o leitor do blog, especialmente, os mais antigos, já perceberam esta forma, este "jeito" de buscar informações, de tratar os dados, para depois construir análises usando conhecimentos já adquiridos, para tentar interpretar o real, a partir dos fenômenos observados.

Bom, esta breve digressão sobre o real e a interpretação do fenômeno, eu alinhavei rapidamente aqui para citar uma observação ainda preliminar que venho tentando fazer da movimentação do setor financeiro nacional, aquele que hoje fatura mais do que quem efetivamente produz riquezas e empregos.

Mais uma greve dos bancários em setembro, serviu para que o assunto fosse novamente despertado. O funcionamento "relativamente" normal com a automação e os caixas "automáticos" trabalhando no lugar dos bancários empurrou a solução negociada que surgiu quase que um mês depois para aumentar míseros 1,8% além da oferta inicial dos banqueiros.

Se os caixas funcionavam, então o quê fez os banqueiros buscar uma solução? A resposta foi simples: os empréstimos. Eles acabam emperrados sem a intermediação humana. E, sem empréstimos, há pouco a fazer com o dinheiro captado dos correntistas.

Bom aqui então tínhamos uma pista interessante: o limite da automação bancária com o enxugamento de pessoal para ampliação dos lucros estão limitados aos empréstimos, por mais que hoje se tenha crédito direto nas máquinas ou nos cartões de crédito, só que sem um "papo" com o funcionário não há como negociar tarifas melhores.

Esta pista interessante foi anotada. Porém, outra surgiu numa conversa com um bancário recém-saído de um dos grandes bancos privados que restaram após as seguidas fusões dos mesmos.

Com quinze anos de banco, só no último ano teve seu "passe comprado" por um concorrente atrás de seus contatos e possibilidades de negócios, já que os bancos privados depois da redução dos juros impostos pelo governo através dos bancos oficiais (especialmente BB e CEF) tinham apertado a disputa.

A minha surpresa foi ouvir do bancário que era responsável pela carteira de clientes pessoa física de maior poder aquisitivo, ou maior renda, foi que este tipo de cliente hoje, em sua grande maioria tem conta em pelo menos dois bancos, sendo certo um destes dois oficiais (BB e CEF).

Assim, a realidade é que nos últimos meses estes bancos privados estão com enormes dificuldades para "fechar negócios" com este público. Eles fazem cotação e os bancos privados perdem 9 em 10 cotações, assim mesmo, nos centésimos, para não perder clientes chegando nos percentuais oferecidos pelos concorrentes.

Os bancos privados estariam assim hoje vendendo e faturando mais em serviços e taxas do que nos empréstimos e negócios. Por isto as ofertas maiores pelas contas corporativas, mesmo com os riscos da mobilidade cada vez mais usada pela população (tartada nos bancos como correntistas). Os valores oferecidos a prefeituras e empresas para as contas corporativas também passaram a ser disputadas par-e-passo pelos bancos oficiais.

Bom, estas informações da realidade permite que imaginemos e interpretemos o que tudo isto pode estar gerando nas cabeças destas corporações financeiras hoje já misturada entre nacionais (Itaú e Bradesco, etc.) e internacionais (Santander, HSBC, etc.).

Qual a relação deste fato com as pressões econômicas e financeiras do aumento (real ou em parte fictício da inflação), da necessidade em aumentar juros, da pressão diária das mídias corporativas replicando a questão ouvindo "especialistas".

As pressões políticas decorrentes desta realidade, etc. Ainda me indaguei como os lucros dos bancos ainda são grandes. E a resposta veio quase natural: é que a gordura deles era enorme e, além do mais, os balanços e relatórios com esta redução ainda sairão, ou, quem sabe, a redução seja contida, mesmo que em parte, com os recentes aumentos dos juros feito pelo Banco Central, em respostas a algumas destas pressões citadas acima.

Evidentemente, não sou especialista na área, mas, como todo brasileiro com mais de quarenta anos, eu aprendi a entender algumas questões simples destas transações.

Assim, a hipótese poder ser superficial, tanto quanto esta primeira e insuficiente análise, mas, serve para provocar o debate que é onde, não apenas se aprende mais sobre a teoria, mas, onde se conhece outros dados da realidade,e na mistura de ambos, podemos refutar ou confirmar algumas das hipóteses aqui apresentadas, mesmo que imbricadas na visão que temos do mundo, portanto, sem neutralidades.

Assim, provoco o debate chamando ao mesmo, os bancários e também suas lideranças (no sindicato), e para azeitar ainda mais o assunto posto abaixo um infográfico do Valor (15/10/2013 - Matéria: "Com tecnologia, banco leva cliente para fora da agência" - leia aqui) sobre o que a movimentação e transações automáticas feitas "fora da agência".

Todo este processo e automação e de comunicações inciado no final da década de 80 no Brasil e hoje um dos mais aperfeiçoados do mundo, ajuda a garantir o lucro do sistema bancário e também deixar o que os "correntistas" de "pouca rentabilidade (que eles chamam internamente de "lixo"), ao mesmo tempo que reduz a necessidade de trabalhadores.

O gráfico com dados recentes da Febraban ajuda a acalorar o debate que espero que surja.
Sigamos em frente!




3 comentários:

douglas da mata disse...

São os "enigmas" do capital...

ê livrinho danado de bom, sô...

Anônimo disse...

Prof. Roberto,

Dos Bancos nos sabemos que são os que tem maiores lucros(absurdamente quase 2000 reais por segundo) no nosso pai´s.
E´ negocio da china ser banqueiro no Brasil.
E ficamos a imaginar o que eles vendem?!

Anônimo disse...

Douglas:
Vc se refere ao livro do Chemiaténkov ou do David Harvey?