sábado, outubro 12, 2013

Fluxo de barbeiros-cabeleireiros da Baixada Campista para o Rio

Não é difícil descobrir entre os barbeiros no Rio de Janeiro o fluxo migratório de jovens da Baixada Campista em direção ao Rio de Janeiro, em busca de renda e trabalho. Certamente esta rede já deve ter quase um século, como momentos de maior e menor intensidade.

Está aí uma pauta interessante que poderia
ser trabalhada.

Alguns deles mais articulados falam em centenas, quase milhar. Muitos, ou a maioria, mantém os laços com os familiares em Campos, a maioria é oriunda da Baixada Campista, ao redor de Tocos, Mineiros, Caboio, etc.

Os bairros de Botafogo e Laranjeiras são alguns locais onde estão os salões em que trabalham. Na verdade eles se referem a uma rede, em que ia puxando outros. Muitos estabeleceram suas moradias nos locais mais humildes ao lado destes bairros e outros, possivelmente, em maior quantidade foram morar nos municípios da Baixada Fluminense.

O fluxo é tão antigo que alguns chegam a citar casos dos mais velhos que depois de um bom tempo de atividade, "tocando a vida" e constituindo família no Rio de Janeiro, depois voltaram, já velhos para Campos.

Destes, uns se aposentam, enquanto outros criaram pontos na cidade, em busca de ganhos menores, mas num ambiente, mais "tranquilo" para viver no interior.

A atividade de barbeiro é desgastante com jornadas de dez, onde horas, chegando nas sextas e sábados a mais de doze horas. Ela é exercida em pé, o que leva aos barbeiros, a uma grande ocorrência  de varizes, que neste caso, poderia ser considerado, uma doença profissional.

Ainda mais interessante é observar, de forma empírica e apenas de observador relativamente atento (sem que seja nenhuma pesquisa etnográfica) como a mudança da estrutura de negócios na área de serviços, como este na área de serviços pessoais (beleza) está interrompendo este fluxo migratório.

Pelo depoimento de um deles ouvi que agora, os salões nos bairros de maior poder aquisitivo, onde o aluguel de um ponto é mais caro e o serviço mais bem remunerado, o dono do salão só aceita novos barbeiros (cabeleireiros) que já possuem uma carteira de clientes, mesmo que não seja ampla, mas, que não comece do zero.

Há mais informações interessantes a serem coletadas. Uma delas é sobre a forma de contratação e remuneração.

Ouvindo alguns relatos destes barbeiros e de suas redes de contados (network) reuni informações não apenas desta atividade no Rio, mas, também em Campos, onde foi citado salão com quase uma centena de funcionários e estranhas formas de contrato e remuneração e ainda especulação sobre faturamento.

Estima-se que em Campos já existiria entre 500 e mil salões de cabeleireiros e barbeiros.

Interessante saber disto, através de uma rede profissional.

Valeria conhecer a vida e as histórias de alguns destes profissionais.

Daria uma boa matéria e até um bom roteiro.

15 comentários:

Gustavo disse...

Moro no Rio a muitos anos, reveso entre dois barbeiros, ambos de Campos, um do distrito de Travessão, e o outro da Baixada, proximo a tocos. Neste de tocos, todos os barbeiros do Salão são de lá, as vezes tem até jornal de Campos no salão, ele me disse que tem clientes que trazem pra ele. Realmente é algo impressionante esse fluxo e o network que isso causa.

Roberto Moraes disse...

Caro Gustavo,

Sei depoimento/comentário dá ainda mais realce ao tema, não apenas pela confirmação da rede (network) como do links (ligações) que elas produzem.

Gostaria de fazer uma entrevista com você.

Por favor faça contato no email do blog: robertomoraespessanha@gmail.com

Aguardo seu retorno.
Sds.

Mendel disse...

Muito bom saber que existem barbeiros campistas no Rio!

Me mudei para o Rio há cerca de 1 ano e desde então tenho procurado um bom barbeiro, mas nunca encontrei um digno.

Como estou todos os finais de semana em Campos acabo sempre fazendo minha barba num salão de propriedade de 2 irmãos, senhores já bastante experientes no ofício, aqui perto de casa no Cajú.

Acho os barbeiros de Campos excelentes!
Quando morava em São Paulo sempre procurava um me sentia em uma linha de produção, sempre muita pressa e pouca atenção para com o cliente.

Em Campos é o inverso. Acho interessantíssimo esse ofício e a forma como ele é praticado aqui na planície goitacá.

Alguém teria por obséquio um endereço de um bom barbeiro no Rio?

Fernando disse...

Na Av. N. S. Copacabana, no posto seis, há (pelo menos havia) um salão muito tradicional do bairro só de barbeiros campistas. Quando morei no Rio durante os anos 80 ia sempre lá. Oscar Niemeyer também era freguês, assim como Celso Blues Boy.
Todos os profissionais tinham mais de 60 anos na época, com os cabelos brancos e muito bem penteados. Eram conceituadíssimos. Vinha gente de longe para ser atendida ali.

No edifício Avenida Central, na Rio Branco (centro), no subsolo, há um salão com muitos barbeiros campistas. Quase todos ali são da baixada da égua. O proprietário era um famoso advogado campista já falecido.

Realmente professor, há no Rio de Janeiro um grande contingente de barbeiros oriundos destas terras. E são excelente profissionais. Assim como parece ter um movimento semelhante vindo do Ceará no ramo de restaurantes.

Anônimo disse...

Aqui perto de casa tem um senhor, natural da baixada campista, q trabalhou quando jovem no Rio como barbeiro, fez seu pé de meia, e depois retornou pra Campos, onde montou uma barbearia na qual trabalhou por muitos anos. Hoje a barbearia é alugada para barbeiros mais jovens, más ele ainda trabalha só aos domingos, para atender principalmente os clientes q se tornaram amigos.

Roberto Moraes disse...

Interessante como os comentários e depoimentos vão reafirmando e dando mais detalhes sobre esta rede, este fluxo migratório de uma profissão entre Campos e o Rio de Janeiro.

Tudo isto reforça a oportunidade de uma análise mais profundada sobre diversos pontos de vista: etnográfico, espacial, jornalístico-informativo, culturas, sociológico, etc.

Anônimo disse...

O salão onde vou em Campos, o dono trabalhou no RJ, por mais de 15 anos e agora retornou a Campos e montou seu salão na rua do ouvidor(salão eclético). Seus irmãos e primos permanecem no RJ, na mesma atividade e como você mencionou são oriundos da baixada campista - tocos.

Gustavo disse...

Professor, depois certamente lhe escrevo um e-mail.
Para complementar todo esse histórico da relação desta profissão entre Campos-Rio, tenho que dizer que meu avô também foi barbeiro no Rio nos anos 40, ou seja, é de longa data essa tradição. Ele depois voltou pra Campos e fundou com mais outros dois barbeiros um tradicional salão que funcionou dos anos 50 aos 80, o Salão Planície, no térreo do Hotel Planície. Mas essa é outra historia.

Mendel, existem centenas certamente de barbeiros na cidade que são de Campos, ja cortei em copa com barbeiro de Campos, no ed. central, mas lhe dou duas boas dicas: um no largo do Machado, na galeria onde fica a tradicional Rotisseria Sirio Libanesa (com uma das melhores comidas árabes, e bom preço, do Rio). O salão se chama Perfil, me esqueci o nome do barbeiro agora, mas é algo mais "moderno", salão unisex, mesmo que lá só vão homens, e o dono é super gente boa (alem de campista, claro).

Outro que recomendo fica na Praça São Salvador (caso não conheça, é isso mesmo, existe uma praça são salvador no Rio, na divisa entre Laranjeiras e Flamengo, próximo a Rua Paysandu, com chafariz e tudo, que vale a pena a visita pelos bares do local). Chama-se Salão São Salvador, e é o clima de barbearia de interior mesmo, na rua, com jornais e bate-papo.

Ao menos eu não cai nessas de "barber shop" que estão virando modinha, pra mim soa tão irrelevante e brega quanto uma estatua da liberdade em frente a shopping da Barra, ou invencionices tipo "varanda gormet" nos predios novos :)

abs

Anônimo disse...

Minha irmã tem duas cunhadas, q juntas com seus maridos são cabeleireiras e barbeiros no Rio(Copacabana). Um é da região de Travessão e o outro do quinto distrito de SJB. Elas estudaram, más eles chegaram a cortar cana quando moravam aqui. Estão no Rio a quase 30 anos, e agora uma delas resolveu voltar, após se formar em direito e comprar alguns imóveis para alugar aqui em Campos.

Mendel disse...

Gustavo,

Obrigado pelas dicas!

Conheço essa galeria o Largo do Machado (acho que deve ser a mesma que tem uma lanchonete onde há o melhor suco de fruta do conde da cidade) e a Praça São Salvador "versão carioca".

Recentemente abriram uma barber shop dessas modernas em Campos, ali perto do Jardim São Benedito.
Nunca fui mas tenho curiosidade de saber como é por lá.

Anônimo disse...

Muito interessante essa abordagem. Apesar de ter tios, primos e irmãos exatamente nessa situação, nunca tinha atentado para a amplitude do fato e a rede que se desenvolve em torno dele. Minha família é de uma localidade próxima à Tócos (chama-se Marcelo) e de lá saíram muitos outros em direção ao Rio de Janeiro. As casas dos familiares ficam cheias nos feriados que caem no dia de sábado (quando os salões estão fechados), todos voltam à roça. O salão São Salvador que foi citado pelo Gustavo é de propriedade do meu tio, meu irmão também trabalha lá juntamente com outros barbeiros que eram vizinhos lá na roça quando criança.

Roberto, coloco-me a disposição para auxiliar em suas pesquisas sobre o tema, realmente é muito interessante.

Jéssica Monteiro

Roberto Moraes disse...

Olá Jéssica,

Eu queria fazer uma entrevista com um trabalhador deste setor com estas características citadas.

Pode ser por email mesmo.

Seria interessante também formalizar uma rede digital pela internet para esta articulação dos "barbeiros campistas".

Obrigado pelo comentário e contato.

Ivs disse...

Muito interessante o tema. Conheço várias pessoas da minha geração que nasceram na Baixada Campista, que realmente migraram para o Rio de janeiro para trabalhar como cabeleireiros. Notadamente em Jacarepaguá.

Rapha disse...

Que legal este tema.Gostaria de mais informações sobre a Baixada Campista. Esse assunto relacionado a geo-história me atrai.

Unknown disse...

Provavelmente esta falando do Sr Deolindo, se veste todo de branco, fica no bairro jockey...