domingo, agosto 26, 2012

Tendências para os próximos 40/50 anos

Mudando um pouco o assunto e pensando num prazo bem além do presente resolvi visitar e imaginar o futuro. 

Gosto destes exercícios de análise de cenários, mesmo que seus prognósticos falhem com muita constância.

Penso que o fato de pensar o futuro cria o mínimo de preocupação em planejar mudanças, para alterar algumas destas tendências, que na maioria, tende a ser mais para o lado catastrófico do que otimista, ou quando caminha para este lado tende uma avaliação mais romântica.
 
Há dez dias eu tive oportunidade de lidar com este tipo de reflexão em dois diferentes momentos. Um como palestra de uma mesa-redonda do seminário internacional no Rio sobre “Cidades: futuros possíveis”. 

O segundo de mais uma boa reportagem (de capa) do caderno “Eu & Fim de Semana” do jornal Valor, cujo título é: “Como será o amanhã” do jornalista Diego Viana. 

Duas belas reflexões que resolvi trazer para este espaço, neste domingo, sugerindo que pensemos localmente e regionalmente, sobre estas possíveis tendências, usando uma análise mais regional, aproveitando também o cenário das eleições municipais em nosso presente.

Tentarei ser sucinto, embora, o tema como falei seja instigante.

Sobre o primeiro, as tendências se originaram da fala do Luiz Alberto Oliveira, um físico do Centro Brasileiro de Pesquisas Física (CBPF), que está planejando o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro que falou numa mesa-redonda sobre geopolíticas da cidade. Segundo Oliveira, o novo museu pretende ser um espeço diverso dos demais. Ao invés de mostrar o passado, tentará mostrar que o futuro é algo a se construir. 

Nesta linha, Luiz A. Oliveira afirmou que o museu será focado em 2061, ou seja, num futuro de meio século, baseando-se em estimativas para cinco grandes tendências:
  1. Mudança climática – grandes enchentes, secas, catástrofes que terão que ser cada vez mais administradas enquanto políticas públicas;
  2. Adensamento populacional, longevidade, tensão etária - o duradouro junto com o efêmero – tendências da vida em grandes metrópoles;
  3. O aumento da diferença e da diversidade entre pessoas e situações – integração e diferenciação – ampliação e consequências do uso da internet – maior interação e aproximação dos estranhos – rompimento das barreiras para os contatos – Ágora Planetário – longe e perto como conceitos que diferenciam a nova temporalidade;
  4. Aumento da diferença e diversidade dos artefatos (das coisas) – a população será capaz de manipular materiais e organismos vivos cada vez mais microscópios – redução ou rompimento de fronteiras técnicas que ligarão o orgânico ao inorgânico (o natural e o artificial)– junção do cognitivo ao sensitivo (não cognitivo) – aumento do grau de artificialização das coisas; deslocalização das coisas – forte pressão sobre os recursos naturais, sobre produção de alimentos, ampliando os conflitos, inclusive sobre os recursos do fundo mar que já estão precificados - aumento da valoração sobre estoques do meio ambiente.
  5. Incremento do conhecimento: Aumento da educação, do acesso à cultura, da generalização da educação, como elemento de acesso dentro da sociedade criando um potencial de iniciativas – a cada 2 anos o conhecimento em química dobra – reconhecer e lidar com a vida fora da terra - hoje somos capazes de compreender o ambiente em que vivemos e de ter um entendimento de que estamos diante de uma mudança civilizatória. Reconhecer este espaço em que vamos tomar as decisões políticas e éticas.
Já a matéria do “Eu&Fim de Semana" é extensa, com seis páginas, no formato tabloide e usa como referências diversos estudos e relatórios elaborados por demógrafos, economistas, climatólogos, etc.e trabalha com cenários num prazo de 40 anos, mais especificamente para a virada da primeira metade deste século, em 2050.

Muitas possibilidades e tendências são estimadas e explicadas. Aqui, para simplificar vou procurar apenas citar as que eu considerei mais relevantes. Aqueles que desejarem poder ler a matéria na íntegra aqui. (republicado no site do Ipea)

Na matéria afirma-se que o método central na elaboração de cenários para o futuro consiste em extrapolar tendências já visíveis. “O procedimento exige um esforço de imaginação para identificar as tensões que se produzem e vão intensificar, as inovações que já batem à porta  e as variações no equilíbrio do poder entre as nações. A apresentação das possibilidades se dividem entre assuntos de interesses mais pessoais e íntimos (sua vida), e a vida em família, comunidade, cidade, nações e no mundo.

  1. As diferenças estarão nas coisas simples: as famílias terão mais gerações, graças ao aumento da expectativa de vida. Se você tem dois filhos, é grande a chances de vir a ter dois netos ou menos. Mas é também possível apostar com bom grau de certeza que você vai conhecer seus bisnetos. 
  2. Aumento dos trabalhadores acima de 60 anos – o sistema educacional terá que contemplar a volta dos estudos na meia-idade e a cidades terão que se reformar – isto não significa que o interesse pela vida familiar ou pela reprodução vá desaparecer e teremos: irmãos o enorme diferença de idade; casais gays com filhos adotados; casais cinquentões que farão inseminação artificial; incentivos públicos para famílias com crianças.
  3. Com pessoas mais idosas e com menos filhos o interesse será menor pelos subúrbios e mais nas partes da cidade mais concentradas e integradas. 80% da população do mundo estarão morando em cidades, hoje é de 50%. As metrópoles terão que se adaptar com melhor integração entre os bairros das cidades. Os bairros deverão ter suas infraestruturas melhoradas ganhando autonomia, evitando excesso de deslocamentos, ao mesmo tempo em que as rede de transportes deverão ser mais densas. 
  4. Cada vez mais será recuperado o interesse pelas cidades depois que a poluição das fábricas e o tráfego pesado forem embora. (livro “Triunfo da cidade – Os centros urbanos: A Invenção da Humanidade”. Autor: economista americano Edward Glaeser, Ed. Campus, 2011). Pessoas idosas e jovens preferem áreas urbanas densas.
  5. O pico da população mundial deverá ocorrer em 2040 com 8,5 milhões de pessoas, isto é que prevê o demógrafo indiano Sanyal. A ONU projeta 9,3 milhões de habitantes em 2050 e 10 bilhões em 2100. Para o Brasil a projeção é de fim do crescimento populacional em duas décadas (2032).
  6. Os séculos de gestão irresponsável com a gestão dos recursos naturais vão exigir maiores dispêndios no conserto das infraestruturas destruídas por intempéries. A economia mundial terá que investir, ao invés dos atuais 24% para mais de 35% dos investimentos públicos para manter sua infraestrutura, sem perda da sua qualidade. Este aumento terá que vir da taxação sobre consumo. Cada vez mais temporais, secas, nevascas, furacões levarão estradas, casas e ferrovias exigindo mais investimentos para reconstruí-las.
  7. Além de limpar sua sujeira, a humanidade começará a explorá-la. A mineração do futuro será sob os lixões onde estão ficando depositados materiais valiosos.
  8. Em 2050 será difícil determinar quando termina o trabalho e começa o descanso. O escritório será cada vez mais lugar de passagem.
  9. A aposentadoria será deixada cada vez para mais tarde, mas, o trabalho tenderá ser menos intenso.
  10. O imperativo de trabalhar muito e ganhar bem nas primeira décadas de vida produtiva será enfraquecida em nome de uma relação mais fluida entre lazer e trabalho. (Antes o conceito era de trabalhar até morrer, para não ser o “o velho”, encosto da família.
 Observações:
a) “O capitalismo só age quando agir é mais lucrativo que se abster”, segundo o climatólogo norueguês, Jorgen Randers, da Norwegian School of de Nagement, autor do livro “2052” com previsões demográficas, econômicas, políticas e climáticas, que foi um relatório para o conhecido Clube de Roma.
b) Para cada tendência e cria uma contra tendência, o trabalhar muito e o nadismo (não fazer nada).

  A reportagem cita ainda um relatório “Logistics 2050” publicado pela empresa Deutsche Post DHL que descreve 5 cenários possíveis para o futuro:
  1. Materialismo e consumo fora de controle;
  2. Cidades continuam se expandindo, mas, se tornam mais eficientes e menos agressivas para o ambiente graças à economia de colaboração e tecnologia;
  3. O desejo de personalização dos consumidores resulta em relações mais locais e menos globais, mas o aumento de consumo alimenta a mudança climática;
  4. Contínua crise econômica leva ao retorno do protecionismo, com conflitos em torno da matéria-prima;
  5. A repetição das crises ambientais provoca mudança de paradigma econômico que espelha as previsões de Randers (climatólogo norueguês, Jorgen Randers, da Norwegian School of de Nagement, autor do livro “2052”): a humanidade passa a investir mais em proteção contra intempéries e menos em crescimento do produto.

Como se pode ver as tendências apontadas por diferentes autores paraecem tender a quase um consenso, o que poderia significar uma grau maior de acertos nos prognósticos, ou apenas, semelhanças nas ideologias, dos seus autores. 

Aliás, as análises dos cenários, nem parecem se importar muito nas análises de classes, entre patrões e trabalhadores. Será que para eles estas categorias já se diluíram?

De qualquer forma, o exercício parece interessante. Assim, o blog insiste em perguntar: Como tudo isto poderá se dar sobre o nosso local?

Um comentário:

Anônimo disse...

Roberto, faço questão que veja nossa página humorística, que se baseia no cotidiano campista: http://www.facebook.com/yesnostemoschuvisco
Te aguardo lá!