quarta-feira, julho 09, 2014

Impasse do capitalismo diante da bifurcação

Eu já havia recomendado este texto no meu perfil no Facebook. Na ocasião escrevi que considerava uma análise muito boa. Ela articula as idéias de três pensadores para a formulação de um diagnóstico sobre a realidade contemporânea que considero bastante pertinente, inclusive já texto tratado dela neste espaço. Ele foi publicado originalmente no ótimo site "Outras Palavras". Vale conferir!

"Breve nota sobre o impasse do capitalismo e a bifurcação à frente"

"O que Ignacio Ramonet, Immanuel Wallerstein e Thomas Piketty sugerem acerca dos impasses contemporâneos e o espaço existente para mudar o mundo"

Por Rennan Martins

"O avanço da direita liberal-conservadora, iniciado após Pinochet, Thatcher e Reagan, foi de tamanho ímpeto que, na atualidade, a ascensão de um genuíno social-democrata, a saber, Rafael Correa, se dá num projeto político alcunhado Revolución Ciudadana. O espectro do debate político-econômico foi tão puxado pra direita, que propor um Estado de bem-estar social é revolucionário.

Correa, que tem mandato até 2017, já fala em emenda constitucional no tocante a reeleição. Tem consciência da dificuldade que é enfrentar a reação, cada vez mais inescrupulosa e virulenta.

Em discurso comemorativo ao aniversário da Revolução Liberal do Equador, ocorrida em 1895, as palavras mais enérgicas que proferiu foram em relação à imprensa corporativa, definida inúmeras vezes como “corrupta e corruptora”. O papel de oposição suja exercido pela grande mídia na América Latina é facilmente constatado em todos os países que questionam, ainda que minimamente, a abordagem econômica neoliberal. A própria Judith Brito, na época presidente da Associação Nacional de Jornais, admitiu.

Saindo do país vizinho e entrando em nossas fronteiras, o assunto reeleição, projeto político e mídia está ainda mais quente. Ignacio Ramonet, num texto intitulado Brasil, futebol e protestos, considerou que nas próximas eleições presidenciais brasileiras está em jogo não só o futuro do país, mas de todo o continente abaixo dos Estados Unidos. Segundo ele, há sinais, na atual conjuntura, de que somente por aqui há correlação de forças no sentido da construção de um regime mais inclusivo e participativo.

Já no ano passado, Immanuel Wallerstein apontava, em Capitalismo, austeridade e saídas, que vivemos um período de bifurcação. Ela pode tanto resultar num regime mais autoritário, para garantir a opulência do 1%, quanto, no sentido inverso, produzir algo mais democrático e igualitário. Pontuou ele que a instabilidade produzida pelo capitalismo financeiro desregulado nos força a uma transição.

Soma-se a essa visão o livro Capital no Século XXI, de Thomas Piketty, que já entrou pra história, ao demonstrar, com estatísticas exaustivas, que o capitalismo é um regime oposto à democracia, pois paga melhor a riqueza que o trabalho, construindo então uma oligarquia.

A imprensa-empresa lançou seu time de articulistas, que de forma afobada têm tentado reduzir os danos dessas revelações. Porém, a histeria e insegurança que demonstram perante Piketty diz mais do que as críticas que dirigem a ele.

Em concomitância, assistimos aqui e ali a declarações de mea-culpa de algumas lideranças do capital. O jornal Valor Econômico publicou, em 27/5, artigo de Paul Polman, executivo-chefe da Unilever, e Lynn Forester de Rothschild, do E.L Rothschild. Seu texto diagnostica que a exclusão social maciça ameaça a ordem social. De forma intrigante, assumem que somente “uma ação conjunta de empresas e outras instituições” é capaz de construir uma alternativa a nosso modelo em crise.

Mas o que importa nesse ponto é o próximo passo a ser dado. Se diante da bifurcação continuarmos seguindo receitas excludentes, o resultado será o fortalecimento do autoritarismo e a consolidação da plutocracia, extinguindo o que ainda nos resta de democrático. Se, por outro lado, encamparmos a construção coletiva de um arranjo mais inclusivo e participativo, temos uma boa perspectiva."

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