domingo, julho 27, 2014

Presença da China na América Latina e seus significados

A China aprovou crédito adicional de US$ 4 bilhões para projetos de desenvolvimento da Venezuela em troca de pagamento em petróleo. Consta que a Venezuela já deve US$ 50 bi à China em créditos semelhantes. Hoje a Venezuela envia à China 500 mil barris/dia e deve chegar à 1 bilhão de barris nos próximos anos.

Na Argentina, a China acertou uma troca de moeda entre os dois países no valor de US$ 11 bilhões e foi feito um empréstimo ao governo argentino de US$ 2,7 bilhões para a compra de equipamentos ferroviários, além de outros US$ 4,7 bilhões para a construção de hidrelétricas.

No Peru, o grupo China Minmetals acertou a compra do projeto Las Bambas que pertence à trading suíça Glencore Xstrada, por US$ 5,8 bilhões. A mina deverá iniciar a produção em 2015 e será uma das maiores produtoras de cobre do mundo. A China é atualmente o maior consumidor de cobre do mundo. O grupo chinês deve ficar com cerca de 62% do projeto.

O total de investimentos acertados só nestes três países da América do Sul quando da vinda do seu presidente Xi Jiping para assinar o acordo dos Brics no Brasil e visita a mais alguns países sul-americanos somam mais de US$ 17 bilhões. São na maioria, investimentos em energia e recursos minerais. Se juntar este valor ao canal da Nicarágua que a China (de 278 km) quer bancar para concorrer com o Canal do Panamá ligando o Atlântico ao Pacífico, cujo projeto está orçado em US$ 40 bilhões, o valor total se ampliaria para US$ 57 bilhões. (O Globo, 27/07/2014, veja aqui)

Em Cuba, a China tem uma série de parcerias que envolve desde parcerias para a participação na zona de desenvolvimento especial do Porto de Mariel, construído pelo Brasil ao apoio à exploração de petróleo no mar. No final de 2011, a China concluiu a construção da plataforma de exploração de petróleo offshore Scarabeo-9, ao custo de US$ 750 milhões. Desde 2012, a plataforma-sonda atua em perfurações em águas profundas, na área exclusiva de Cuba, no Golfo do México, onde este país e os EUA já exploram petróleo.

No Brasil, quatro petrolíferas chinesas já produzem quase 80 mil barris por dia e a Petrobrás paga um empréstimo de US$ 1 bi feito em 2009 à estatal com a entrega de 100 mil barris por dia de petróleo produzido em nosso litoral.

A empresa de engenharia brasileira Camargo Corrêa, uma das cinco maiores construtoras do Brasil, com atuação também em projetos de outros continentes, neste processo fechou acordo com a estatal ferroviária russa Russian Railways International (RZD) de olho nos leilões para construção e concessão de sete lotes de ferrovias no Brasil.

O embaixador Sergio Amaral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), em reportagem neste domingo ao O Globo destacou os investimentos agora promovidos pela China mundo afora, principalmente na América Latina: "eles tem uma preocupação com a preservação do ambiente local, diferentemente de investimentos feitos no passado pelo país na África, que não deixaram retornos econômicos e socioambientais significativos para os moradores afetados. O que é impressionante no caso da China é a visão estratégica e a capacidade de realização. Estão criando alternativas para chegarem aos seus objetivos sem fazer ruídos".

Observando todo este cenário e mesmo identificando investimentos em energia e infraestrutura e não apenas, em exploração mineral e agricultura, se vê que há risco sim de um avanço da primarização da economia brasileira e dependência mineral na América Latina.

De outro lado, há sim, uma aposta baseada na valorização de nossas commodities minerais e agropecuária. Mas, foi desta forma que o Canadá, a Austrália, e de certa forma, os EUA se desenvolveram, enquanto economia e povo.

Eu tenho chamado este fenômeno como apostar em surfar sobre a onda de uma inserção global, mesmo correndo o risco do “caixote” produzido pelas forças econômicas e dos players globais, interessados na captura dos excedentes econômicos gerados pelas receitas deste comércio internacional e também pela dinâmica produzida pela inserção social da base da pirâmide da realidade social brasileira.

À América Latina está colocada um desafio de organização e valorização permanente destas suas riquezas minerais, estruturado, por exemplo, uma espécie de Opep, que criada há cerca de meio século pelos países produtores de petróleo.

Seria uma Opemin (Organização dos países exportadores de minério) com braços também no continente africano, evitando a dilapidação destas riquezas sem uma contrapartida que possa garantir a superação da dependência e daquilo que ficou conhecido como desenvolvimento desigual e combinado em favor das economias centrais em relação às periféricas.

Ao Brasil, em especial, há que trabalhar por um bom resultado oriundo da disputa entre a aposta da onda e o risco do caixote depende da construção de um projeto de nação que se coloca num patamar muito acima de um eventual crescimento econômico.

Mas, de tudo isto que acabam parecendo detalhes diante de tantas e variadas informações de natureza política e econômica que ronda o tema, não se pode deixar chamar a atenção para a mudança na geopolítica mundial com novos alinhamentos não mais unicamente centrados na Europa a na América do Norte.
PS.: Atualizado às 23:38.

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