segunda-feira, maio 14, 2012

Novamente, a reflexão sobre modernidade líquida do Bauman

O caderno formato tablóide "Eu & Fim de Semana" do Valor, trouxe uma entrevista de três páginas com o sociólogo Zygmunt Bauman. A entrevista repete o que ele tem dito sobre os tempos modernos e suas contradições em meio às mudanças nas comunicações e na forma das pessoas se relacionarem. Não é a primeira vez que o citamos aqui no blog. Os críticos questionam sua análise individualizada da conjuntura moderna, mas, isto não invalida, ao contrário, o debate que a mesam suscita. O blog pinçou cinco partes da fala do sociólogo polonês de 86 anos. Se desejar ler a entrevista na íntegra clique aqui.

"Essas sociedades "leves" e "líquidas" perderam o sentido de solidez e estabilidade. Em consequência, o ser humano tornou-se mais autônomo, o que é um ganho, mas passou a conviver com um fardo pesado: o sentimento de incerteza. E esse estado é "provavelmente irreversível"...

...Viver sob pressão de mudanças constantes e, em geral, imprevisíveis favorece uma cultura do esquecimento, em vez de uma cultura do aprendizado e da lembrança. Não temos tempo para digerir e assimilar novas informações antes que sejam afastadas de nossa atenção, espremidas por novidades mais recentes - do mesmo modo como substituímos velhos aparelhos pelos novos, recém-distribuídos nas lojas, e que possuem um ou dois recursos que seus predecessores não têm... Na sociedade consumista da modernidade líquida, as coisas começam a envelhecer já no momento em que nascem, e a distância temporal entre acolhê-las entusiasticamente e rejeitá-las como ultrapassadas vem se encurtando em uma velocidade cada vez maior...

...Hoje podemos esquecer sem nos sentirmos culpados... E fazemos isso. As coisas esquecidas não estão mortas - ou, ao menos, parece. Entretanto, se essa ideia é reconfortante, ao mesmo tempo é enganadora e potencialmente danosa. Nenhuma de suas consequências de longo prazo são realmente encorajadoras. Já seus resultados imediatos são a fragilidade dos limites do homem e o status provisório de quaisquer soluções para os problemas, além das sensações de desconhecimento - mais do que a capacidade de entender- e de impotência - mais do que a capacidade de agir efetivamente e com confiança no resultado...

...Hoje, o "tempo real" se constitui no padrão em relação ao qual todos os outros tempos são comparados. O valor supremo é a imediatez. Não há nada "mítico" nisso. Trata-se, antes, do fato de que essa preferência atual faz com que todos os outros tempos imagináveis pareçam serem percebidos como míticos! Somente o tempo vivido cotidianamente parece e é sentido como "real". Tudo aquilo que reside no "passado" e no "futuro" foi descartado. Nossas vidas, por assim dizer, são uma sucessão de "momentos presentes" - chamei tal percepção temporal de "pontilhista", para distingui-la da percepção até então dominante, a de imagens "cíclicas" ou "lineares". A história é hoje uma série de presentes, e esse presente transitório é a única constância... Em consequência, a incerteza é a única certeza...

...A modernidade líquida de fato coloca os indivíduos, e isso significa todos nós, num estado de indeterminação e incerteza provavelmente irreversível, pois, em nossa condição de fragilidade e transitoriedade, a contingência se tornou nosso habitat natural. Entretanto, é com esse tipo de experiência humana que a sociologia precisa se envolver, em um diálogo contínuo."

4 comentários:

Marcos Oliveira disse...

Professor, um excelente video (30 minutos) com Zygmunt Bauman pode ser conferido em
http://luizfelipemuniz.blogspot.com/b/post-preview?token=QWNGTTcBAAA.Kk3s3I6ja4odMegw1Nvf6w.xN7S7pfP0cgMFHzMOT7s4Q&postId=1389930679306873033&type=POST

Recomendo.
Abraço.

Esquef disse...

Amigo,
Grandes e profundos pensamentos vindos do Bauman.
É preciso tomar cuidado para que os sucessivos e vazios "presentes puros" em que estamos convivendo, não nos transformem em meros reprodutores de um sistema altamente inteligente, contraditório e perverso.
Abraços.

Marte disse...

Estes questionamentos não são novos, embora encontrem novos rótulos para cada contexto histórico.

Na belle époque, com o furor consumista, da abundância das ações e da especulação, a velocidade da sociedade em ritmos e automóveis(recém incorporados ao consumo de massa), já havia quem questionasse a volatilidade das instituições e dos laços estruturais da convivência.

Infelizmente, com o deslocamento do eixo de poder capitalista, que teve sua culminância após a crise cíclica de 29, nenhuma racionalidade nos livrou da "re-arrumação" geopolítica mundial que mandou 60 milhões para a morte.

Quem sabe a história não se repete como uma trágica farsa?

Nos fará falta uma visão estratégica e algum artefato atômico.

Anônimo disse...

Termos unicamente a certeza do presente pode nos presentear com a oportunidade de não protelarmos ações , de nos fazermos definitivamente humanos autonomos e portanto RESPONSÁVEIS PELOS SEUS(nossos) ATOS .
Faz-nos sair da comoda situação de jogar para um futuro escatológico .
Para o bem ou para o mal, somos nós que fazemos nossos dias.