quarta-feira, junho 19, 2013

Condenação aos "símbolos de poder"?

O texto abaixo é jornalista e blogueiro Luiz Nassif. Ele faz uma análise crítica do quadro de manifestações tentando identificar razões objetivas para o atual ambiente. Serve como aprofundamento e observação do quadro político:

"A moçada condenou todos os símbolos de poder"

Autor: 
, qua, 19/06/2013 - 08:00
Coluna Econômica
Um a um, os principais agentes políticos do velho modelo curvaram-se à voz das ruas, da moçada do Movimento Passe Livre (MPL).
Primeiro, os grandes órgãos de mídia. De “baderneiros”, “guerrilheiros urbanos”, tornaram-se, não mais que de repente, jovens idealistas, a voz da classe média etc.
Depois, os governantes. Das declarações taxativas contra o que reputavam “baderna” para declarações afáveis e a garantia de que os protestos poderiam continuar.
Do meio do alarido desconexo, surgiram duas vozes referenciais do velho modelo – os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula – avalizando os protestos.  Seguiram-se as declarações da presidente Dilma Rousseff, de consideração pelo movimento.
***
Há um corre-corre febril de interpretação das manifestações, cada qual pretendendo puxar a brasa para a sua sardinha.
Mas, inegavelmente, o movimento foi contra toda a estrutura de poder existente – do Executivo aos grandes grupos de mídia, do Congresso aos grandes partidos políticos e também aos pequenos (manifestantes queimaram bandeiras do PSTU e PSOL). Sobrou até para a UNE (União Nacional dos Estudantes), que desapareceu.
Na última manifestação, na segunda-feira passada, os jovens não estavam mais sozinhos. Muitos pais, profissionais liberais, funcionários públicos, trabalhadores, pessoas há décadas enferrujadas das manifestações de rua, aderiram ao movimento.
Afinal, contra o quê é o movimento? É contra tudo. E não se considere que esse “tudo” signifique um anarquismo inconsequente. Significa que a moldura institucional do país não cabe mais no organismo social brasileiro.
***
É algo cíclico, agora turbinado pelo fenômeno das redes sociais.
Logo após Franco Montoro eleito governador de São Paulo, houve explosões populares no centro e na frente do próprio Palácio dos Bandeirantes. Democrata exemplar, Montoro levou balas perdidas resultado da impaciência de quem não aguentava mais o quadro institucional anterior.
Algum tempo depois, aquela impaciência resultou na campanha das “diretas, já”.
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O segundo movimento foi na campanha dos “caras pintadas”, que resultou na queda de Fernando Collor. A explosão ocorreria de qualquer maneira. Havia uma nova geração em campo, uma rapaziada que não participara das lutas contra a ditadura, mas sedenta por participação.
Embora até o último momento Collor mantivesse respeito pela Constituição, seu porte arrogante calou fundo na jovem classe média que se formava.
***
Agora, vê-se o terceiro movimento.
Nos últimos anos, a disputa PT x PSDB esgotou a paciência do último cristão. Do lado do PT, um pragmatismo excessivo, de compor com setores retrógrados, com fisiologistas da pior espécie. Do lado do PSDB, a terceirização da oposição a uma mídia sem limites, beirando o golpismo. Do lado da mídia, essa manipulação de ressuscitar fantasmas da guerra fria.
Nas redes sociais, de ambos os lados uma virulência sem limites, com ataques pessoais, assassinatos de reputação, ações orquestradas.
E a rapaziada apartidária – mas não apolítica – observando tudo, trocando impressões entre si e gradativamente formando a sua própria opinião. E sua opinião explodiu na forma de condenação geral ao modelo de poder.

8 comentários:

douglas da mata disse...

Nassif é um ótimo jornalista, principalmente nas questões de economia.

Mas quando se mete a análises políticas, é quase sempre desastroso.

Mistura movimentos e contextos históricos, dá-lhes similaridade para comprovar sua tese:

É um movimento destinado a questionar todas as estruturas de poder!

Não é.

"Ou chega de corrupção", "menos impostos", "não é só 0,20" "PEC 37" e quem sabe, ingressos grátis no Rock'n'Rio são símbolos de coesão política para questionar algo?

Copa 2014, estádios?

Ora e as dívidas dos clubes e os gastos estatais com os jogos de futebol desde que nos entendemos por gente?

Menos impostos, mais Estado? Como? Isto questiona alguma estrutura de poder? Só se for a que vem dando certo para impor a lógica dos Jardins paulistas ou do Leblon.

Nassif questiona a polarização PT x PSDB, mas eu pergunto: o quem tem para colocar no lugar?

Quem colocará, esta turba que detesta partidos?

No meu raso entender, estão valorizando demais os ecos do feicebuquistão, e isto sim é perigoso, dada a natureza do que ouvimos por aí!

Anônimo disse...

No Japão, Alemanha,Coreia do sul, entre outros, com carga tributária equivalente ou menor que a carga tributária do Brasil, há maior retorno para a sociedade.
Pais pobre, ineficiente nos gastos públicos,com corrupção em todos os poderes e com tributos pesado sobre empresas e pessoas não consegue formar reserva privada para financiara investimento.

douglas da mata disse...

Ai, ai, ai, a mesma cantilena.

Japão, Coreia e Alemanha tem uma carga tributária média de 50 a 60% do PIB, com uma sensível diferença: Lá, como deveria ser aqui, os mais pobres pagam menos, e os mais ricos pagam mais.

O único país do G20 que tem carga tributária em relação ao PIB menor que a nossa, que gira em torno de 34%, são os EEUU, com 28%.

Mas é bom lembrar: não há assistência médica universal e gratuita como o SUS nos EEUU.

Nunca o dono do Bradesco pagaria os mesmos 27.5% de seus rendimentos, igualzinho a de um trabalhador que ganha mais de 4000 reais.

E por falar em corrupção, vão aí duas notícias velhas: O caso Siemens, que espalhou propinas por todos os países onde vendia seus painéis de controle para vários setores, inclusive o Metrô de SP.

No Japão, as autoridades concluíram que vários procedimentos de segurança nas usinas nucleares atingidas pelo último tsunami foram desconsiderados pelo conluio de autoridades e empresários.

Bom, sobre a Coreia eu não tive tempo ainda de pesquisar, mas de fato sabemos todos, onde tem capitalismo e dinheiro, tem corrupção.

O resto é blá, blá, blá de sempre.

Anônimo disse...

o problema que se esconde,e isto por todos os governos de todos os partidos, é a baixa qualidade do gasto. A maior parte dessa arrecadação se perde pela burocracia e pelos “extras”, além dos benefícios e ajudas de custo e por aí vai.

Roberto Moraes disse...

Sim há que se ganhar em eficiência, abrir a caixa preta das empresas de ônibus e um conselho popular para acompanhar esta gestão.

Aperfeiçoar a acessibilidade do cidadão, fazer uma reforma urbana e parar de mandar os pobres para a periferia deixando os especuladores imobiliários faturarem com os terrenos mais caros.

Reforma urbana junto do transporte público decente.

Playboy de Nike disse...

Tenho amigos conservadores de extrema direita que dizem que o Sakamoto é um comunista que usa Macbook. Acham a maior graça. Tem aqueles também que deslegitimam essa turba protestante de Iphone e que nem anda de ônibus pra pedir redução de passagem.

Parecem o Douglas com sua versão primavera-verão do movimento.

E a companheira Dilma, menina de família de posses e faces coradas, representa o companheiro?

Se o movimento é, lamentavelmente, apartidário (e esse tipo de sentimento, será consequência de algum espaço deixado?), este PT que o Douglas defende é apolítico.

Que tipo de mistura é esta que junta a maturidade política, o pragmatismo necessário para ser governo e implementar avanços históricos; ao passo que dá rompantes dignos do calote na dívida externa? Tá tomando Coca imperialista ou Tubaína nacional? Olha a disciplina!

Vai ver é catarse do revolucionário contido, cada um põe pra fora de um jeito nestes tempos de revolução...

Dos impostos nós também já reclamamos, companheiro. Esta bandeira é tão velha quanto a mais velha das profissões e foi, quase sempre, o estopim e a dinâmica dos momentos de ruptura. No mundo.

Já este papel de torcer o nariz pra movimento social sempre coube e cabe (ou cabia?) sabemos a quem.

E o PT que dialoga com o Renan e o Afif, cede espaço a grita dos juros, se movimenta como quem acusa o golpe do mito inflacionário, não pode dialogar com o classe média de Nike?

E as bases, companheiro? E a vida orgânica do partido? Como andam as filiações? Mais vale retroalimentar, por necessidade (ou vício do poder?), o fisiologismo hospedeiro do centrão pra deixar só a carcaça depois? Tudo isso enquanto o IGF dormita pendente de regulamentação?

Aqui, ao que parece, o grito amorfo "por conta dos impostos" parece ter mais incisividade que a estética do discurso óbvio, "bem, veja bem, o pobre paga, proporcionalmente, bem mais impostos que o rico neste país".

Respondendo a pergunta, "o que tem pra colocar no lugar?" Bem, não sei. Mas sei que nem o metalúrgico, fodido, talvez um dia imaginou se tornar uma das principais e mais importantes lideranças deste país.

E não foi sendo omisso à massa. Não, não é o Cansei.

Sente e espere o que advirá destes tempos estranhos em que o conservadorismo tenta cooptar movimentos de massa enquanto a esquerda os repulsa...

douglas da mata disse...

Playboy de Nike (estranho símbolo triunfalista, afinal naiq é a deusa grega da vitória):

Vamos responder as suas perguntas:

Sim, Dilma me representa. Dilma tem lastro, tem história, biografia, e até martírio em nome da política e da possibilidade de se expressar.

E creio que ela não foi torturada e calada(como tantos outros) para ver manifestante coibindo partido de esquerda (bem mais à esquerda do que o PT, dizem) ser proibido de se manifestar nas ruas, enquanto os playboys de adidas quebravam tudo, sob o olhar conivente (ou covarde?) dos playboys de nike.

A tentativa de contrabando sobre vincular os avanços da tecnologia ("somos os arautos da modernidade) é óbvia, mas eu desculpo, afinal crianças estão mais acostumadas a fazer pirraça (nas ruas), e pouco a dialogar, menos ainda a pensar:

Longe de mim ignorar que bons quadros políticos possam usar iphone, ou macbooks, não sou ludista.

Mas o que os inocentes (in)úteis não enxergam são os limites de transformar plataformas de comunicação em razão de existir, e como tal, vão as ruas sem ao menos saber o porquê.

Pergunta-se:
São contra o quê?
Respondem:
"Contra tudo"

E eu digo: quem é contra tudo, não via mudar nada!

Destaco o trecho, que parece ser escrito por alguém que acompanha este escriba: "(...)Que tipo de mistura é esta que junta a maturidade política, o pragmatismo necessário para ser governo e implementar avanços históricos; ao passo que dá rompantes dignos do calote na dívida externa?(...)"

Resposta: não espero que os partidários do binarismo(desculpa-se pela idade ou pela imaturidade) entendam a "mistura", afinal, nesta época da vida a gente tende ainda a acreditar em bandidos e mocinhos, revolucionários e reacionários, e coisas do tipo...

É esta mistura denunciada por você que possibilita avanços na política...Nem sempre pragmático, sem sempre porra louca...É um exercício, que eu não espero que você compreenda, aliás, ainda não está na hora!

Fiote de nike, não acho que você tenha obrigação de saber, afinal, eu sempre fui apenas mais um, mas esgotei e exortei cada possibilidade revolucionária da minha vida(em TODOS os níveis, talvez), e não foi por impulso de uma hashtag. Foi política, reuniões, processos, enfrentamentos, recuos, e muita porrada...

Continua no outro comentário...

douglas da mata disse...

Continuação do comentário anterior...

Agora, os "Comunas do Morumbi" reclamam de uma borrachadinha da PM, ou uma bala de borracha...

Porra, não quer ir para rua? Então tem que ser "pacote completo"!

Sugiro ir até as periferias observar o tratamento dado a polícia aos jovens pretos e pobres que não estão do lado de vocês...E este pessoal só aparece na imprensa como "suspeito"...

Eles querem contestar o Estado capitalista com a compreensão dos órgãos de repressão...rsrsr, mas afinal, tem "cojones" ou não?

Posso, afinal, me orgulhar, de ter contribuído(bem pouquinho) para eleger Lula, e possibilitar a chegada ao poder da maior novidade da história deste país, e talvez do mundo, seguida por Dilma, uma perseguida e torturada, mulher (em um país machista).

E os playboys de nike ainda achama pouco...rsrsrs

Um enorme legado, que vocês parecem não ter entendido, e como em 64, quando um bando de malucos insistia em esticar as cordas do extremismo, para depois deixá-la arrebentar sobre os de sempre(os mais fracos).

Uns (em 64) piraram e foram para a luta armada, ao menos como uma resposta mais digna a irresponsabilidade e erros de avaliação que fomentaram...outros, talvez como você, foram delatar amigos, dançar o iê-iê-iê, "viajar" no desbunde ou, fugir para um exílio.

Outro erro grasso do playboy: o pobre junta governo com partido!

Eu não vi afif ou renan em reunião com o PT...

Mas esta mentalidade de aparelho, que mistura partido e governo, ultrapassadamente atual, infelizmente, ainda povoa a cabeça desta gente...

Ora, governo dialoga com todo mundo! E veja que dificuldade foi dialogar com vocês, uma turba sem direção e organicidade, como fazemos para dialogar? Quem vai negociar? Qual é a pauta?

Fiote de nike, Lula só foi eleito quando decidimos entender que este discurso pronto e acabado de classe média revoltada e niilista não atingiria os outros 30 ou 40 milhões, além dos 30 milhões que já contávamos como capital político.

Lula nunca foi omisso a massa, nem nós...adoramos lasanha e macarrão, rs. Ao contrário, foi quando começamos a entender porque ela nos ignorava é que conseguimos...pragmatismo, governabilidade, etc...

E mesmo assim, veio o maior programa de inclusão social do planeta, maior salário mínimo da história, menor desemprego, vagas a rodo nas universidades públicas (que afinal, começaram a servir a TODO público, e não só a elite), e um monde de outros tantos avanços, que é claro, estão ladeados por outros recuos, uma vez que não dá para fechar (ou invadir, como vocês tentaram) o Congresso, em uma mensagem perigosíssima, aliás....

Eu sei o que virá, se deixarmos vocês continuarem a fazer m..rda, é só olhar para a Espanha.

Enfim, playboy, se quiser discutir este assunto mais à sério(e não só demarcar o território, como se fosse a luta do macho alfa), tem meu e-mail lá no blog...sou todo ouvidos...