sexta-feira, outubro 19, 2012

A encruzilhada e a busca por outras receitas

Em meio à questionada assembleia da Assembleia Interamericana de Imprensa (SIP), acontecida até terça-fera, em São Paulo, a fala do presidente do grupo dono do El País, na Espanha, Juan Luis Cebrián, apontou a encruzilhada dos jornais impressos, em matéria de Matías Molina do Valor Online. Para o bom entendedor, não é difícil imaginar de onde, imaginam vir as "novas" receitas. O evento além de falar mal do Weekleaks e seu criador questionou as regulações que alguns países começam a discutir e aplicar:

"Cebrián apresentou um cenário deprimente das tendências da mídia impressa no mundo. Enquanto os meios digitais crescem exponencialmente, os tradicionais mal conseguem manter suas posições, quando não estão em queda. Esse mau desempenho se deve, em parte, à crise econômica que começou em 2008, mas sobretudo a uma questão estrutural, que aponta para um contínuo declínio da circulação e das receitas publicitárias dos jornais...

...O jornal perdeu uma grande parte de sua receita nos últimos anos e não pode continuar com uma estrutura de custos montada num período de bonança. Sem as medidas de ajuste, o diário teria prejuízo em 2012. Em cinco anos, os principais jornais espanhóis perderam em média 60% da renda com anúncios. Em "El País", a publicidade caiu de € 184 milhões para € 62 milhões. Em seu maior concorrente, "El Mundo", de € 135 milhões para € 50 milhões, e no "ABC" de € 89 milhões para € 38 milhões. A circulação de "El País" caiu 25%...

...O jornal tinha 478 pessoas na redação; na semana passada foram anunciadas 128 demissões e 21 aposentadorias antecipadas para quem tem mais de 59 anos, além de um corte linear de 15% dos salários fixos da redação; o salário médio anual é de € 88 mil (R$ 232 mil). Como comparação, "Le Monde" de Paris tem 320 jornalistas...

...Cebrián disse que "El País" investe em sua plataforma digital; hoje é o maior jornal digital em língua espanhola do mundo, com 12,5 milhões de usuários únicos, dos quais 31% estão na América Latina. Atualiza a informação na rede 24 horas por dia com as redações de Madri, Washington e Cidade do México. Mantém gratuito o acesso ao conteúdo. Só cobra de quem quer em PDF ver a imagem do jornal impresso, modalidade que tem 20 mil assinantes, dos quais de 10 mil a 12 mil pagos. No passado, "El País" cobrou pelo acesso ao conteúdo e chegou a ter 90 mil assinantes. Desistiu ao ser ultrapassado por seu concorrente "El Mundo" em número de usuários únicos...

... Por enquanto, os elevados investimentos de "El País" na mídia digital não têm uma receita que compense a queda de faturamento da edição impressa. Entra só um euro pela internet para cada dez euros que o jornal deixa de faturar no papel. Cebrián lembra que nenhuma empresa de mídia no mundo migrou bem para o mundo digital; nenhum grupo tradicional conseguiu até agora ganhar dinheiro na internet. O modelo atual de negócios está desaparecendo sem que tenha sido encontrado outro para substituí-lo...

...O jornalista brasileiro Rosental Calmon Alves, professor da Universidade do Texas, afirmou que o grande problema dos jornais não é o declínio da circulação, que nos Estados Unidos começou há 60 anos, mas a queda da publicidade; a receita dos anúncios classificados praticamente desapareceu. Os jornais terão que procurar outras fontes de receita. Ele mostrou-se cético em relação à cobrança pelo acesso ao conteúdo na internet."

3 comentários:

CARLOS RIBEIRO disse...

Num futuro, não muito distante, teremos os meios digitais, totalmente na vanguarda das notícias; Paradoxalmente, os meios de comunicação tradicionais, inclua-se, os jornais, que fazem parte da velha midia, experimentarão, um grande declínio.

Ao longo dos tempos, as mudanças sempre foram uma constante, por mais resistência que exista, por parte dos conservadores, que exitam nas mudanças, com um único objetivo: continuar tirando algum tipo de proveito, o chamado privilégio

douglas da mata disse...

Roberto,

É sempre perigoso tentar avaliar fenômenos diferentes com as mesmas premissas.

Ao mesmo tempo, o formato (rápido) do comentários em blogs quase que exige isto.

Então vamos tentar um panorama neste tema da mídia internacional e os casos nacionais/locais:

Primeiro a questão da publicidade:

É fato, a diluição da informação em múltiplas formas e plataformas de conexão com esta informação(telefones, traquitanas portáteis)tornou o conteúdo cada vez mais "rarefeito e quase desnecessário" na relação com o consumidor/leitor, que acessava o conteúdo e era exposto a publicidade.

Fenômeno decorrente da implantação da tecnologia, mas principalmente com a queda da "qualidade" do conteúdo.

O ocaso da mídia tradicional impressa, que também ameaça aos conglomerados audiovisuais, mas que por motivos óbvios têm sofrido menos, é mais determinada pela sua incapacidade de se mostrar relevante e cumpridora da missão jornalística, do que apenas fatores tecnológicos e econômicos.

Houve um empobrecimento do jornalismo, como importante ferramenta na comunicação da sociedade.

A partidarização e, ou mercantilização extremada da informação (como o caso Murdoch, o Clárin na Argentina, o caso venezuelano, etc)e nos casos já conhecidos daqui, vão afastando o leitor que busca outras formas de se informar, ainda mais aquelas onde ele pode, de imediato, expor sua informação e "ajudar" a fazer o conteúdo ("pautar").

Porque é claro que os grupos de mídia teriam muito mais condições técnicas e financeiras para implementar portais de informação, com blogs, debates, etc.

Mas os "compromissos" não permitem este universo tão "arredio" ao controle.

No Brasil (e na América Latina) o caso é muito mais grave.
Raros conglomerados de comunicação, eu diria que nenhum, sobreviveria sem dinheiro público, e aí eu incluo a TV.
Não que a TV e seu mercado publicitário não sejam enormes, mas as estruturas de redes nacionais, com a produção de conteúdo em escala industrial, como a globo e seus novelas, séries, telejornalismo, só podem acontecer com a "folga" de caixa proporcionada pelo dinheiro da propaganda oficial.

E claro, sem esta estrutura as TVs não atingiriam tanto público em alcance tão grande (nacional), e o mercado publicitário teria que regionalizar(fragmentar)as verbas publicitárias pelas estruturas locais, mais ou menos como acontece em outros países da dimensão do Brasil, onde não seja permitido tanta concentração e cruzamento da propriedade destes meios.

A bem da verdade, nestes países, como os EEUU, ainda que hajam grandes redes nacionais, o mercado regional é forte e impulsiona as redes regionais, que por sua vez contribuem com a pluralidade de olhares, e a necessária e dialética visão local das notícias e dos conteúdos, ou seja: da cultura!

No caso dos impressos, a "partidarização" que esta dependência das verbas públicas traz, coloca os jornais e revistas em uma cilada, ainda que tentem modernizar suas plataformas com a internet:

Veja o caso da "óia": Tem blogs, com número de acessos relevante, mas que ficou restrito a um nicho de ultra-direita, que impossibilita falar com outros públicos, e conseqüentemente, ampliar as possibilidade publicitárias.

A sociedade tem que estar atenta, por vários motivos, mas principalmente: uma mídia que esteja em convergência com as demandas democráticas da sociedade é indispensável, mas por outro lado, os governos e orçamentos não podem continuar a financiar a concentração de poder econômico destes grupo, que acarreta sempre na manipulação perigosa do direito social a comunicação social.

Um bom e intenso debate...


Um abraço.

Roberto Moraes disse...

Olá Douglas,

Acho que você fez uma amplo e interessante diagnóstico, embora, eu concorde, que o assunto envolve diversas questões que têm relações entre si, mas, tratam de questões diversas:

mercado x qualidade da informação;

diferentes plataformas;

relação estado (e governos) com as corporações de mídia;

mídia como mediadora da informação x mídia como usofruto do poder partidarizando a pauta pelos seus interesses...

etc.

É um interessante debate...

Para mim, como disse no título da nota, as informações do dono do El País mostra, que no presente momento, se vive exatamente na encruzilhada destas questões.

Paradigmas serão (ou estão sendo) quebrados neste momento.

Carapuças estão caindo, os interesses estão mais evidentes que antes, tudo isto leva a inseguranças e consequentemente a autoritarismos, que cada vez faz cair a credibilidade daqueles que sempre tentaram se mostrar isentos.

Talvez, sejam as tais contradições que abrem campos (melhor dizer frestas) de disputas.

São nestas frestas que atuam os blogs, o tal Assange do Weekleaks, etc...

Acompanhemos...

Abs.