sábado, outubro 13, 2012

Em editorial, Folha de São Paulo passa um pito no Serra

A Folha que, salvo melhor juízo, debutou no cenário editorial brasileiro com a figura do Ombudsman, inova mais uma vez, criando o Ombudsman de campanha eleitoral, direcionado à crítica e análise "caseira" do seu candidato, Serra.
Até a Folha parece ter percebido o quão inócuo é o discurso moralóide, que já teve como expoentes Demóstenes e Collor, levando como virtude e fim em si mesmo o que deveria ser dever.
O crescimento insofismável das prefeituras capitaneadas pelo PT e partidos da base aliada e o declínio fragoroso dos tucanos e demos (com a licença poética do Douglas da Mata)  em meio ao julgamento estratégico, longe de demonstrar que eleitores são corruptos (aliás, “pejorativizar” a escolha do eleitorado parece não ser uma saída eleitoral das melhores), remete ao fato de que, dentre os vícios e virtudes, sobressaem essas sobre aqueles, naquilo que regula e define as escolhas político-eleitorais.
No plano regional, em que o peso da ação 470 se esvai em meios às próprias incongruências planificadas nas alianças e modus operandi político mais caseiro (tomemos por base local, a decana na Câmara e recém eleita, Dona Penha, expoente do liberalismo econômico e político: vereadora pelo DEM), parece importar ainda mais aquilo que nos toca direta e diariamente.
Em SP, IBOPE e DATAFOLHA não mentem, o kit-gay e a ação 470, por si só, não parecem desmotivar o eleitorado que se depara com a herança Kassab e, certamente, está mais preocupado com a gestão precarizada de seu trânsito, transporte, saúde ou ocupação de solo.
E longe de ser uma escolha preta, burra e cabeça chata, que é como o Serra e seus pares costumam adjetivar aqueles que não comungam de seu projeto político (?), dizem Ibope e Datafolha, também, que o teto do Serra em sua região tradicionalmente dominante (a intelectualizada e detentora da luz e do saber) está bastante aquém do “normal”.
A Folha já deu o toque, o último tucano que sair, apague a luz.

"Editorial: Kit evangélico"

"A imagem do candidato tucano José Serra já foi mais associada a valores liberais, cultivados por grupos tanto à esquerda quanto à direita do espectro partidário.

Tais valores informam que preferências sexuais e religiosas são assunto da órbita privada; ao homem público caberia manter equidistância de lobbies que, na defesa legítima de seus interesses, acabam por conferir relevo exagerado a temas da esfera íntima.

Na corrida presidencial de 2010, ao explorar contradição da petista Dilma Rousseff --que se dizia favorável à descriminalização do aborto, mas recuou na campanha de maneira oportunista--, Serra já havia selado uma aliança com o conservadorismo evangélico. Sua atual peregrinação por templos e a aceitação graciosa de apoiadores que flertam com a intolerância indicam um caminho sem volta.

Tal rota pode render-lhe resultado nas urnas, sem dúvida. Pesquisas, como a realizada pelo Datafolha em setembro, indicam que convicções conservadoras são partilhadas por amplos setores da sociedade paulistana. Mas não há como comer do bolo conservador e, ao mesmo tempo, passar-se por liderança moderna, arejada.

Daí um certo cansaço, misturado a frustração, que se nota nos círculos mais liberais. Tanto mais quando um pastor, Silas Malafaia, defende com o espírito de cruzados medievais a candidatura de Serra. "Vou arrebentar em cima do Haddad", jactou-se o líder religioso.

O pretexto é o famigerado "kit gay", tentativa desastrada do então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), de produzir um material --de formulação discutível-- contra intolerância sexual nas escolas. Como já se tornou hábito no petismo, após o estrago e a grita dos religiosos, recuou-se completamente, e o próprio Haddad tentou desvencilhar-se da proposta.

O "kit gay", por qualquer ângulo que se olhe, é assunto de somenos na política pública federal. Que dirá na municipal, em que os destinos da ocupação do solo, do transporte, da assistência à saúde e do ensino assumem peso avassalador na lista de prioridades.

Ocupação do solo, aliás, integra o "kit evangélico" real, a agenda de interesses que religiosos apresentam aos candidatos. Desejam tratamento diferenciado para os templos --a fim de que possam ultrapassar os níveis de ruído exigidos de outros estabelecimentos e fixar-se onde e como queiram, a despeito das normas urbanísticas.

É preocupante a atitude amistosa de Serra com esses lobbies, bem como a disposição de Haddad de também acomodar-se a eles."

9 comentários:

Blog Católico do Leniéverson disse...

Eu li esse artigo, caro, professor, mas para mim, não significa nada. Que o PT é contra o conservadorismo, todo mundo sabe, mas agora impedir que um pastor use a sua imagem para apoiar um candidato é uma bobagem. Se o editorialista e pró-PT é rendundante. Para resumir, o que vc postou não há nada de novo, no entendimento anti-Serra. Veja, onde há crescimento fragoroso do PT, ganhou em Osasco, por conta de um processo que o maior colocado nas pesquisas sofreu, perderam em Recife, vão perder em BH, em Manaus a Candidata da coligação, recorre a baixaria.Enfim, só mais uma tolice que chega a dar dó. Não deu, professor.

douglas da mata disse...

O leniéverson tem direito a discordância, só não tem direito a distorcer fatos.

Vamos a eles:

Em BH ganhou o PSB, um partido da base aliada, mas é verdade que em acordo com os aecistas, acordo este já tentado pelo mesmo PT lá nas alterosas.

Logo, reduzir a situação por lá é temerária.

Outro fato: O PT ampliou, em todos os quesitos, sua representação junto a prefeituras, tanto em prefeitos, vereadores e mais: em número de eleitores.

São números, FATOS, não opiniões.

Ninguém imagina impedir um pastor, um padre, um mulá, babalorixá, ou qualquer outro sacerdote de participar e associar sua imagem a uma campanha, candidato, ou projeto político.

O que o texto DA FOLHA diz é que o çerra, nem qualquer outro partido que pretenda se mostrar como detentor da agenda progressista ou da modernidade podem flertar com o obscurantismo das agendas religiosas.

ATENÇÃO CATÓLICO: EDITORIAIS NÃO SÃO A OPINIÃO DE UM ARTICULISTA, MAS DO JORNAL, logo, este texto é a VOZ da FOLHA, goste você ou não, e pelo jeito, a Folha já deu a senha...

O que o texto diz, e o católico não enxerga (como sempre) é que religião é dogma, e fé, e como tais são valores privados.

Estes tantos outros valores privados, os valores religiosos orientam escolhas políticas, mas não servem como totalização do debate público e aos assuntos de Estado, porque política é uma instância PÚBLICA, que media TODOS interesses, e não só os dos religiosos.

Religião e fé não admitem dúvida.

Política é dúvida em sua natureza.

Eu entendo a confusão do católico...afinal, quando a última cidadela dos demotucanopatas cai, como é o caso da folha, é porque só resta acreditar que o mundo está perto de acabar...

Eu me reservo ao direito de não polemizar com pessoas, mas com ideias, mas quando alguém se dedica a tentar representar todo o pensamento anacrônico em nome de uma religião, tentando transportar estes valores para o debate político, só me resta dizer:

O católico aí de cima é a prova que religião demais cega a razão, qualquer que seja ela...

Anônimo disse...

Leni como jornalista , vc sabe muito bem o que o editorial da folha quis dizer, é recado sim pois sabem que serra sempre teve a postura de exilado, antenado com um mundo moderno, já disse que experimentou maconha, já viveu a experiencia do aborto, enfim não tem o perfil para acusar ninguém de implantador de kit gay ou outros conservadorismos tolos que esta querendo passar desde a eleições presidenciais, fica muito estranho esta figura caricata do Serra e é este o recado da Folha: estamos fazendo nossa parte que é destruir seu oponente e vc destrói a imagem que todo mundo esta acostumado ver em vc. Ja disse é repito alguns segmentos da nossa igreja são conservadores, talvez pior do que os malafaias da vida, gente vcs esqueceram que o PT nasceu dentro das comunidades de base da igreja católica? Esqueceram das grandes greves onde o solidarismo do catolicismo estava presente com apoio moral e espiritual, a massa que era massacrada pela ditadura e os senhores de feudos tanto na industria como no campo, foi nesta sequencia de autoritarismo que o movimento sindical e intelectual atraves de artistas brasileiros(varios) aflorou e nossa igreja Leni , (eu tenho orgulho de dizer isto) estava presente, vários bispos e padres em todo Brasil que peitaram o regime em prol da massa de trabalhadores da industria e do campo, vc sabia que muitos padres e bispos foram tachados de comunistas e muitos ate foram presos por esconderem grevistas ou assisti-los e ao inves de ficarem somente orando,arregaçaram as mangas e saíram para luta , não a luta armada, mas de forma ordeira e ponderada e com muitos argumentos(encarar as metralhadoras e os metodos do regime não era facil) encararam e emcanparam a causa dos trabalhadores, foi neste e outros embriões que fundiram num unico objetivo,um partido onde a causa do trabalhador e da transformação sociedade fosse o principal objetivo. Se fundou o PT, e nossa igreja como tantas outras evanjelicas talvez em menor numero fizeram parte desta Historia, mas pode ter certeza que o que vc combate com veemência fundamentalista, nasceu nas comunidade eclesiais de base da igreja Catolica. Tem que melhorar muitas coisas dentro do PT claro que sim mas negar a importância deste partido para tudo o que desfrutamos no momento é ser pequeno em nossa visão do que vemos e vivemos, como tambem sabemos que de alguma forma outras agremiações deram sua contribuição, outros partidos tambem são responsaveis Mas o PT preencheu o vacuo ou abismo entre patrões e trabalhadores brasileiros trazendo o dialogo e benesses para diverssas categorias brasileiras. É outra coisa não sou anonimo sou Francisco, também Católico Apostólico Romano mas como vivemos dentro de um estado laico a nossa fé é algo que esta em nossos corações e que deve alcançar nossos pares em todo nosso agir e pensar. Francisco

Anônimo disse...

Viu Leniéverson? pau que bate em Chico, Bate em Francisco.

Roberto Torres disse...

Mas esse Lenin é mesmo insistente.

Insiste em construir seu mundo de fantasias. As favas com os fatos, as favas com o que ele le um minuto atras.

Editorialista pro PT? Ate nesse pito a serra a foia nao larga o osso. Tenta insinuar que o Haddad tb vai flertar com os aitolás cristaos. O pito no serra é mt mais uma prestacao de contas ao leitores.

Mas minha hipótese com relacao ao fundamentalismo religioso ainda e otmista. Acho que e uma coisa de malucos que fazem mt barulhos que nao conseguiram ate agora tocar o coracao da maioria dos fieis. Veja que Malafaia e cia. nao trouxeram voto religioso para serra em 2010. E Hadadd ganharia em todos os seguimentos religiosos, segundo o ibope.

Pelo jeito os a maioria dos leigos religiosos nao seguem seus pastores, padres e militantes (como o Lenin) suas fantasias medievais de virilidade crista.

douglas da mata disse...

Caro Torres,

Concordo, e penso sobre isto...

É porque, na minha opinião, na medida que as igrejas vão crescendo, acontece um processo irreversível de:

01- diluição e sofisticação dos rígidos valores para dar conta da diversidade de gente que foi incorporada, e que nem sempre se comportará como praticante. Ficam mais "lights", ao contrário do início, quando a demarcação de território determina a necessidade de endurecimento das regras e condutas.

02- O fundamentalismo é parceiro siamês da exclusão, e da opressão, pois a falta de conforto espiritual é, via de regra, um resultado da carência material. Claro que há exceções, mas elas só confirmam a regra. Assim, um país com tamanha estabilidade e perspectiva (ainda que o futuro seja opaco) tão promissora, reduz o apelo da religião nas decisões sobre a vida real.

Um abraço.

Bruno Lindolfo disse...

Leniéverson, a postagem foi escrita e postada por mim, portanto, tolices e idiotices são de minha lavra.

Sobre seu comentário, creio que o Douglas, Roberto e Francisco já responderam.

Voltando ao caso Serra (ou seria ocaso?), há quem aponte também para certo enfado do eleitor paulistano com a democracia tucana que subsiste numa dobradinha Serra/Alckimin: ora na prefeitura, ora no governo.

É uma tese para se observar.

Abs.

Roberto Torres disse...

Caro Douglas,

condordo com sua análise. Principalmente com relacao ao efeito da melhoria de vida e das perspectivas de futuro -pois, como vc, disse, nao existe ingrediente mais apropriado para estimular o fundamentalismo do que as incertezas do futuro, ai incluido claro a extrema direita abertamente facista.


O fator 1 parecet tb estar diretamente ligado à questao da melhoria de vida. Na medida em que as pessoas sao incluídas na economia, na lazer secular e na própria política tb, a religiao simplesmente nao tem condicoes de impor um código de conduta rigido. Ou pelo menos torna-se muito improvável que ele seja aceito na pratica pelos religiosos.

Conheco mt histórias de vida nesse sentido. Uma delas e evangelica deste crianca, fez faculdade de enfermagem, tem um trabalho estavel num hospital de grande porte desde os 30 anos.

Tem amigos gays (nao se deve desprezar isso). Diariamente ela reclama da apelacao dos pastores com esse tema. Claro, tem mt posicoes que julgamos conservadoras, como ser contra a adocao por gays. Mas nada que passe perto da maluquice militante dos Malafias.

Minha interpretacao: sua religiosidade e um aspecto de sua identidade social. Em outras esferas, como na política e na vida privada, ela tem recursos para rejeitar as normas religiosas.

douglas da mata disse...

R.Torres,

Para terminar, é o caso do aborto, por exemplo:

1 em cada 5 mulheres em idade fértil já praticou, e pelo que constam as informações do censo, a enorme maioria confessa alguma religião cristã que proíbe a prática.

Mas ainda assim, não podemos desconsiderar que estas agendas que trazem a ética privada e as escolhas morais individuais para o campo de debates públicos, e neste processo acabam por exercitar um tipo de hipocrisia, um "artificialismo democrático" que interdita o avanço do debate, ou seja, na hora de decidir ou apoiar políticas públicas que consagrem estas decisões tomadas em campo privado(aborto) mas reprovadas em público, para que se tornem um assunto de saúde publica, por exemplo, as mulheres cedem a chantagem religiosa e a necessidade de aceitação e "perdão" social porque, paradoxalmente, incorporam como um crime cometido.

Por isto, nesta hora eu defendo um afastamento radical da religião no debate, ainda que soe anti-democrático.

Ora, se nem as suas fiéis eles controlam, como imaginam controlar toda a agenda de debates, ou participar dela senão para criar constrangimento?