sexta-feira, abril 10, 2009

Independente do lado que você esteja...

Alertado pelo companheiro Nelson Bagueira fui conferir uma crônica que me passou despercebida do nosso Luiz Fernando Verísssimo, “Lado a lado” publicada no último domingo em O Globo. O texto como sempre é simples, claro, leve, direto, sem preocupações com imparcialidade ou coisa do gênero, mas de uma literatura que reforça o que se diz das características das crônicas e dos exímios cronistas. Vale a sua conferida: Lado a lado” “Encosto ou não encosto? Só o joelho. O que pode acontecer? Ela dizer “Mr. Lula, please!” Aí eu recolho o joelho, peço desculpas, “aimsórri, aimsórri” e pronto. Se eu soubesse falar inglês, explicaria. Sabe o que é, Elizabeth? Eu estava aqui pensando: quando é que, lá em Pernambuco, eu ia imaginar que um dia estaria sentado ao lado da rainha da Inglaterra? Não sei quem é que me botou aqui para tirar esta fotografia dos G-20. Não acho que tenha sido um pedido seu, “Quero o bonitinho de barba à minha esquerda”. Claro que não. Mas o fato é que estou aqui e o Barack está aí atrás em algum lugar, de pé e se perguntado o que eu tenho que ele não tem. O Sarkozy não deve nem estar aparecendo. Ficou atrás da Merkel e não vai sair na foto. E eu aqui ao seu lado, na primeira fila. Isto significa muito, viu Elizabeth? Lá na minha terra vai ter gente se mordendo de raiva. Onde já se viu, aquele retirante nordestino que nem fala direito sentado à esquerda da rainha da Inglaterra? Quando eu me elegi muita gente ficou horrorizada: como é que vai ser quando ele, um torneiro mecânico, tiver que nos representar num jantar oferecido, por exemplo, pela coroa inglesa? Vai ser servido na cozinha, para não dar vexame na escolha dos talheres. E aqui estou eu, sentado ao lado – com todo o respeito – da coroa inglesa em pessoa. Se foi o protocolo que me botou aqui, ele acertou, viu Beth? Você, queira ou não, não é só a rainha dos ingleses, é, simbolicamente, a rainha de todos os loiros de olhos azuis do mundo, incluindo o Barack. De todos os bandidos que causaram esta crise e hoje nos infernizam a vida. E, de certo modo, eu sou o seu oposto. Sou uma espécie de rei republicano dos não-loiros do mundo – ou pelo menos deve ter sido essa a ideia do protocolo aos nos botar lado a lado. Todos os outros chefes de Estado desta fotografia seriam dispensáveis. A foto poderia ser só de nós dois e estariam todos representados. E isto significa outra coisa também, viu Beth? Eu não me contentei em ter nascido na miséria, no Nordeste, e quis mais. Não me contentei em ser um torneiro mecânico em São Paulo e quis mais. Não me contentei em ser um líder sindical e quis mais. Não me contentei em perder eleição atrás de eleição, insisti e acabei presidente. Agora estou aqui, lado a lado com a rainha da Inglaterra, num dos pontos mais altos da minha carreira, e também quero mais. Por isso minha perna se moveu e meu joelho encostou no seu. De certa forma, o movimento da minha perna foi o passo final da caminhada que começou em Pernambuco, tantos anos atrás. Já que, ao contrário de você, Beth, não posso ficar no poder para sempre”.

10 comentários:

Roberto Torres disse...

Maravilhoso. O sentimento da classe média tradicional com relacao à Lula é o desprezo e o ódio de classe, contrariado na carne em morar num país que nunca foi tao respeitado no exterior quanto agora, quando é presidido por um homem que nao faz parte da linhagem nacional dos "homens inteligentes", que falam bem e que passam a vida tentando ser iguais aos europeus. A sagacidade do autor vai além e explícita o que ficou implícito na fala de Lula que opos o mundo branco o nao branco: ao colocar Obama, um negro, do lado dos brancos, ele lembra bem que nosso presidente falava sim do racismo de classe, cujos critérios de desumanizacao do outro vao além da cor da pele. O pior para a classe média brasileira é saber o seguinte com Lula: um nordestino pobre, com experiencia de vida que ele tem, porta uma visao de mundo e uma postura que desperta mais reconhecimento e interesse das grandes potencias do que seus filhos, preparados desde sempre para nos representar.

Anônimo disse...

Parafraseando o final do texto:Não posso ficar para sempre, mas a vontade é grande , sou de origem sindical e quando pegamos o osso, não queremos largar.
Só pode ser complexo de inferioridade, estar ao lado da rainha, um elogio do Obama, podem malhar o império, a monarquia, mas se derretem como manteiga com qualquer elogio.
Os poderosos sabem a importância que se dá a isto e fazem bom uso político.

Roberto Torres disse...

É exatamente do complexo de inferioridade que escapa Lula, o sentimento servil que a classe média brasileira adora perceber nos pobres, desde que ele seja sutil o bastante para nao gerar constrangimento com os amigos da europa, que estao menos acostumados com isso. Sobre o final do texto, sua interpretacao é interessante e faz água num moinho que a direita já alimenta: como se Lula fosse um ditador em potencial que, no fundo, nao adere aos pressupostos da democracia. Na raiz disso o típico preconceito conta pobre, que a classe média covarde prática sem explicitar: "nao pode dar asa à cobra" e outros ditos.... como se houvesse uma ganancia quase inata em quem vem de baixo, o que afinal justificaria seu perpétuo afastamento das posicoes superiores, a fim de evitar o risco de que nao queiram mais desocupar o cargo.

Claudio Kezen disse...

Caro Roberto Torres:

Lula é sim, passível de críticas como qualquer outro líder político. Você mostra nos seus comentários um ranço ideológico que beira o fanatismo de arquibancada.

Criticar o político Lula, sem oportunismos retóricos ou ideológicos não é necessariamente um ato reacionário apenas porque ele é originário das classes operárias que históricamente tem sido vilipendiadas no Brasil.

Criticar o político Lula não é necessariamente uma atitude pequeno burguesa, embutida de revanchismo de classe ou recalque tupiniquim por ele não ser louro de olhos verdes.

Criticar o político Lula não representa um automático apoio de qualquer natureza à qualquer outro político. Pode ser apenas um ato de livre opinião, de independência política.

A trajetória pessoal do Lula não é um salvo conduto contra críticas, avaliações, opiniões, palpites, chutes, etc...

Do contrario, caímos num messianismo político-ideológico que eu tenho certeza que você não comunga.

Abraços,
Claudio Kezen.

Roberto Torres disse...

Caro Cláudio, concordo com voce que nao necessariamente toda crítica a Lula possa ser reduzida ao ódio de classe. E também acho que voce tem razao de que a trajetória dele nao possa ser postulada como salvo conduto. Meus comentários sobre a cronica se restringem a um tipo de crítica que, na minha opiniao, hoje é predominante e que, se resume ao ódio de classe. Se recusar a compreender a metáfora "brancos de olhos azuis" versus nao brancos, reduzindo-a um racismo às avessas do presidente é um exemplo sutil desse preconceito. Como se Lula estivesse simplesmente atacando os brancos, num atitude mesquinha e quase sem sentido, quando ele fazia alusao a tudo que a oposicao racial envolve em termos de quem ser arvora como mais sábio para comandar os negócios do mundo.

A predominancia desta crítica mesquinha nao é porque nao seja possível fazer outro tipo de crítica a Lula, mas principalmente porque a oposicao nao tem condicoes de faze-las hoje, nao por falta de autoridade moral, mas por falta de criatividade política mesmo. Entendo que voce compreenda minha postura como torcida de arquibancada. O negócio é que, para mim, essa torcida nao se dirige ao político Lula, mas sim um lado da contradicao social que ele representa, só pelo fato de carregar em si os tracos da classe social de onde veio e se define entre nós pela humilhacao histórica em favor dos privilégiados das classes médias tradicionais. Um abraco,

Anônimo disse...

É baseado em opiniões cegar como do senhor R. Torres , que Lula adotou a política do "Eu não sabia", afinal um cidadão vindo das classes inferiores , acaba se tornando vítima de todo um sistema.
Portanto, qualquer crítica que se faça, recorre-se logo a essa ladainha de classe média.
Somos extremamente tolerantes com uns, com outros, terríveis.

Anônimo disse...

Depois de toda a rede de proteção, garantida pela DIREITA , a Lula , durante o escândalo do mensalão, ou como diziam à época: A blindagem ao presidente.
Com toda garantia política que os aliados oferecem:Sarnei, Roseana, Barbalho, Collor, etc.
Esse papo de direita, já era!
Direita hoje diz respeito as mãos:Continuam sendo, direita e esquerda.

Anônimo disse...

Este blog é pro Lula temos que ver isto.

Funcionario falando bem do patrão.

Elizabeth disse...

É muito bom falar bem de um patrão inteligente e prodigioso como Lula. É claro que ele não é perfeito. Há muito o que criticar, Mas o saldo é, sem sombra de dúvida, positivíssimo e isso incomoda a alguns.

Unknown disse...

Que orgulho senti do meu presidente!
Viva Lula!